segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Eclesiastes e as pequenas grandes alegrias da vida


Semana passada tive o prazer de ouvir um Prodcast do site Reforma 21, onde a equipe do blog conversou sobre o livro de Eclesiastes. Nunca tinha ouvido um um Prodcast deles; aliás, nem sequer estava procurando sobre este tema (mas vi alguém compartilhando no Facebook). Seja como for, foi o meio que o Senhor usou para falar comigo. E confesso que já ouvi várias coisas acerca de Eclesiastes, já li sobre e inclusive já escrevi com respeito ao mesmo (clique aqui). Porém, ainda que já tenha alguma familiaridade com o livro, as palavras do pr. Emilio Garofalo Neto, foram muito interessantes e me levaram a esta breve reflexão.

Comentava o Emílio sobre como as pessoas costumam buscar coisas "grandes" na vida e só se dão por satisfeitas ao criarem coisas "magníficas" e conseguirem algo que é humanamente grandioso. Pontuou, assim, que Salomão (provável escritor de Eclesiastes) teve todas estas grandezas da vida: fama, riqueza, sabedoria, um reino, súditos, exércitos, mulheres... Tudo o que um homem, humanamente, poderia querer em vida, em termos de status e bens, conforme ele mesmo descreve: "Ajuntei para mim prata e ouro, tesouros de reis e de províncias. Servi-me de cantores e cantoras, e também de um harém, as delícias do homem" (Ec 2.8).

Mas como compreender tais coisas à luz de tantas expressões repetidas como, "Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade" (Ec 1.2)? Ou ainda: "Outra vez me voltei, e vi vaidade debaixo do sol" (Ec 4.7). E como conhecemos: "Atenta para a obra de Deus; porque quem poderá endireitar o que ele fez torto?" (Ec 7.13). Todas estas e outras expressões encontradas, parecem ser contraditórias com respeito ao que Salomão possuía em vida. Não deveria ele exaltar a Deus pelo que tinha (exceto quando pecava, obviamente) e escrever um de louvor e exaltação?

A verdade é que, conforme o Emílio conversava, buscava demonstrar que é preciso entender o tipo de literatura bíblica em que Eclesiastes está inserido. É um livro que narra o sentimento de alguém que possuía tudo o que um se humano poderia desejar, mas que mesmo assim enxergava grandes aflições no mundo. Chegou a dizer que "Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor" (Ec 1.18). Por que ele escreveu isso? Acaso a sabedoria, o conhecimento, algo tão estimulado pela Bíblia, pode trazer enfado e dor?

Assim, tendo em mente que Eclesiastes é um livro que narra os sentimentos de alguém muito poderoso, Emílio pontuou algo importante: a palavra vaidade, recorrente nos capítulos do livro, significa, em hebraico, algo como vapor, fumaça, uma coisa que logo de dissipa e desaparece. Talvez, muito semelhante ao dito de Tiago: "Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece" (Tg 4.14). Neste sentido, então, nossa vida é vaidade, porque logo se vai.

Bem, mas o que isso tem a ver com o título de nosso texto? Tudo, porque muito embora Salomão tivesse todas as coisas que desejou, percebeu que nada disso, por si só, traz a felicidade. Isto é, as coisas grandes e notórias ao mundo, não são sinônimo de necessário regozijo, e sim, ele pontua que são nas pequenas coisas da vida em que a alegria é encontrada: "Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe com coração contente o teu vinho, pois já Deus se agrada das tuas obras" (Ec 9.7). Igualmente: "Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias da tua vida vã, os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vaidade; porque esta é a tua porção nesta vida, e no teu trabalho, que tu fizeste debaixo do sol" (Ec 9.9). E continua dizendo: "Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma" (Ec 9.10).

Com estas expressões, Salomão não está sendo irônico acerca do comer e beber com alegria pelo fruto do trabalho; não há sarcasmo para que o homem se deleite com a mulher que ama, pois uma vez que a vida é vaidade (passageira), "esta é a tua porção nesta vida"; e também não está debochando para que nos dediquemos a tudo o que o Senhor nos colocar à mão, e sim estimulando a todos para que aproveitem tudo aquilo que tiverem, "porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma". Resumindo: aproveite todas as coisas da vida - desde o comer até qualquer outro ato "simples" da vida.

Desta forma, compreendemos que o intento de Eclesiastes (uma das conclusões - veja outra em Ec 12.23-14), longe de ser um livro para enfraquecer e fazer esmorecer o ânimo cristão, busca demonstrar que a genuína felicidade não está em ter tudo aquilo que o mundo julga ser "grande" e "notório", e sim em viver o cotidiano de maneira proveitosa, comendo e bebendo com alegria, se regozijando com o cônjuge que o Senhor Deus nos dá e executando com grande empenho tudo aquilo que surgir para ser feito.

Que o Senhor nos leve a este grande aprendizado e aplicação, nos fazendo entender que cada detalhe de nossa vida pode ser feito para Sua honra e glória (1Co 10.31), e que isto pode ser muito agradável, não necessitando, ninguém, se entristecer porque não fez algo "grandioso" na vida, porque se conseguirmos nos deleitar nas coisas mais "pequenas" da criação, estaremos desfrutando de algo maravilhoso.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

[VÍDEO] Como escrever um livro? Dicas de um escritor (parte 1)

Neste vídeo, abordo as questões preliminares da escrita. Eis os pontos que você deve considerar:

1. Defina se vai escrever para vender ou somente para si;
2. Faça testes antes de realmente escrever;
3. Compreenda as peculiaridades de cada tipo literário;
4. Não pense que inovação é sinônimo de sucesso;
5. Leia livros com temáticas e gêneros semelhantes.


Não se esqueça de assinar o canal: 

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

[VÍDEO] Adesivos cristãos em carros! Uma boa ideia?

Leitores do blog, a partir de hoje estarei postando uma série de vídeos em meu canal pessoal. Assim e cliquem em "curtir" no YouTube, caso apreciem os materiais!

Link do canal: https://www.youtube.com/channel/UCa-3g-eqMc_p7XerK0e8Vrw

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A importância da amizade para a teologia



Neste mundo, duas coisas são essenciais: uma vida saudável e a amizade… – Agostinho

Como nós desenvolvemos nossa teologia como cristãos que levam a sério o chamado de “crescer na graça e conhecimento de nosso salvador, Jesus Cristo”?

Em algumas ocasiões, tive o prazer de ouvir outros falando sobre o que lhes motiva quanto a isso. Provavelmente, todos nós temos alguns hábitos que têm sido particularmente úteis para nosso desenvolvimento teológico no decorrer de nossas vidas. Eu acredito que uma maneira de crescer no conhecimento de Deus é por meio da amizade.

Um dos melhores dons que Deus me deu são amigos que são mais espertos e mais teologicamente perspicazes que eu. Quando conversamos, eu posso ouvir como eles argumentam, raciocinam, pensam, etc. Interações pessoais nos dão algo que livros ou discurso online não podem oferecer.

Ao discutir ou debater um ponto teológico, um amigo pode oferecer uma contrapartida e você precisa, então, aprender a pensar por si só. Sem poder sair para ler um livro, você precisa ser capaz de justificar ou modificar sua opinião. Isso é “teologia em ação”. Afinal, nós devemos testar-nos no debate teológico quando não temos um livro ou o Google para nos resgatar. E, felizmente, seus amigos normalmente não citam longos parágrafos na sua cara – “Como Calvino diz…”. Tem coisa pior em uma discussão online que alguém colar uma citação gigante para provar seu argumento? Suponho que sim, mas ainda assim…

Além disso, com um amigo, vocês podem começar aparentemente discordando do outro, mas, após uma longa discussão (e – aham – distinções teológicas apresentadas!), vocês acabam percebendo que não estão tão distantes. Na verdade, você aprende que, às vezes, há diferentes formas de expressar a mesma verdade.

Ter a voz e os olhos de alguém diante de si é muito melhor que pixels numa tela. E mais: o bom de ter um amigo com quem discutir teologia é a liberdade de realmente botar tudo pra fora (i.e., argumentar) sem se preocupar se a amizade acabará se vocês terminarem discordando no fim. Alguns dos meus argumentos teológicos mais vigorosos foram apresentados aos meus melhores amigos. Eu adoro insultá-los, sabendo que 99% é afeição e 1% acidez.

Também devemos lembrar que amizade nos torna mais clementes em relação às diferenças teológicas daqueles que não conhecemos, mas discordamos teologicamente. Alguns caçadores de heresia provavelmente precisam sair mais e desenvolver amizades com pessoas de outras tradições teológicas. Há perigos, claro, mas eu creio que a amizade nos ajuda a ser lentos para criticar, especialmente nas conversas online.

Eu me pergunto se alguns cristãos têm quase todas as suas interações teológicas apenas com amigos via Facebook e Twitter, ao invés de face-a-face. Que tristeza se isso for tudo. Afinal, quando eu estou debatendo teologia com um amigo, eu preferiria ter a opção de oferecer mais de 140 caracteres e também de chamar-lhe de algo ruim, porém com um sorriso no rosto enquanto faço isso. Soltar um emoticon sorridente é simplesmente inapropriado ao debater teologia online, mas sorrir quando você chama seu amigo de “louco” parece natural e correto.

À luz disso, permita-me oferecer uma defesa da educação teológica formal em um seminário, e não online. Certo, às vezes, seminaristas são os parceiros de conversa mais irritantes. Eles têm muito mais zelo e arrogância que conhecimento – uma combinação perigosa. Mas as amizades desenvolvidos no seminário podem ter real valor teológico a longo prazo, e também a curto prazo, se houver a disposição de ouvir em vez de falar o tempo todo.

Busque amizades com aqueles que são mais inteligentes e piedosos que você, e você terá uma grande vantagem sobre os outros em seu desenvolvimento teológico. Quase toda vez que vou à reunião do Supremo Concílio da minha denominação – um ótimo lugar para amizade, discussão teológica e pastores esquisitos desfilando suas gravatas-borboletas – eu peço a Deus por uma nova amizade.

- por Mark Jones
Fonte: Reforma21

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

O mito do "nem tudo me convém" - explicando a passagem bíblica



Observe a imagem desta postagem - ela tem circulado pelo Facebook através de perfis de cristãos, todos compartilhando o seguinte sentimento: "os cristãos, como todas as pessoas, podem fazer tudo, mas algumas coisas não convêm ao cristianismo". É verdade ser bem provável que a conversa tenha sido criada em um dos tantos programas para simular conversas via WhatsApp, mas aqui o foco é outro: será esta abordagem correta?

Temos duas ocasiões na Bíblia onde nos é relatado o proposto na imagem: "Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma" (1Co 6.12); "Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam" (1Co 10.23).

Quando abrimos nos respectivos capítulos bíblicos, notamos que o primeiro caso, (1Co 6.12) é precedido de uma série de admoestações do apóstolo (vs. 1-9), mostrando que em vez dos cristãos buscarem rapidamente a justiça do Estado, isto é, a humana, como bons crentes deveriam tentar chegar a acordos justos, de maneira que não precisem litigar um contra o outro; depois, lhes relembra de que os que deliberadamente continuam em diversos pecados (vs. 10-11), precisam compreender de que foram lavados pelo sangue de Cristo e agora são nova criatura, devendo deixar estes pecados para trás. 

Então quando ele inicia o versículo 12, se formos entender que Deus está usando o apóstolo Paulo para dizer, conforme a imagem acima, que uma moça pode "ficar com vários meninos", estaremos contradizendo a própria Bíblia, pois a Escritura diz logo em seguida que "o corpo não é para a fornicação, senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo" (1Co 6.13). Tal coisa não é lícita ao cristão, assim como adulterar não o é, roubar, assassinar, se prostituir, dissimular mentiras: nada disso é lícito ao cristão! Assim é que o intento da Escritura é demonstrar que dentre muitas coisas lícitas, existem aquelas (lícitas!) que não convém por algumas razões

Este foi o ensino de Paulo logo adiante: "Por isso, se a comida escandalizar a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que meu irmão não se escandalize" (1Co 8.13). Comer é algo lícito e necessário, mas se determinada prática, novamente, lícita, fizer meu irmão cair da fé, então é prudente se abster dela. É impossível pensarmos que a Bíblia nos ensinar a dizer que tudo quanto é bobagem é lícito ao cristão, mas que algumas não convém. Ora, convém é derivado de conveniência, isto é, alguma coisa ou ato com o qual concordamos, anuímos e damos nosso aval como sendo correto - e para um cristão isso poderia incluir todas as coisas pecaminosas que conhecemos? É claro que não.

No segundo caso este ensino fica mais claro (1Co 10.23). O versículo 23 é seguido com esta declaração: "Ninguém busque o proveito próprio; antes cada um o que é de outrem" (1Co 10.24). Daí o apóstolo explica que aqueles crentes poderiam comer carnes sacrificadas aos ídolos - "Comei de tudo quanto se vende no açougue, sem perguntar nada, por causa da consciência" (1Co 10.25). E por que isto? "Porque a terra é do Senhor e toda a sua plenitude" (1Co 10.26), não podendo qualquer oferenda, "magia", "macumba" ou nome semelhante, contaminar aquilo que Deus criou. Todavia, "se alguém vos disser: Isto foi sacrificado aos ídolos, não comais, por causa daquele que vos advertiu e por causa da consciência; porque a terra é do Senhor, e toda a sua plenitude" (1Co 10.28 - grifado). É nítida a explicação: se você entende que tudo é criado por Deus, pouco importa se o açougue da esquina é de alguém incrédulo, pois o que ele vende vem da terra e tudo pertence ao Senhor; mas se algum irmão mais fraco que você tiver problemas em entender esta questão, então "não comais, por causa daquele que vos advertiu e por causa da consciência".

Desta forma, de maneira simples e objetiva, entendemos que quando a Bíblia nos diz que tudo nos é lícito, isto representa somente todas as coisas que Deus aprova, mas que mesmo estas coisas, algumas vezes, merecem ser deixadas de lado por um bem maior, que é o dar bom testemunho e não escandalizar - como, por exemplo, mesmo o crente sabendo que pode ingerir bebidas alcoólicas (clique aqui para ler).

Por isso, sempre leia a Bíblia como sendo um único livro, nunca se apegando a passagens isoladas e nem propagando quaisquer ensinos que nos são transmitidos.

O culto online e a tentação do Diabo

Você conhece o plano de fundo deste texto olhando no retrovisor da história recente: pandemia, COVID-19... todos em casa e você se dá conta ...