terça-feira, 28 de maio de 2013

Como Estudar Teologia? (parte 3 - Alerta Sobre Perigos)


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Nas duas primeiras partes de nosso estudo, vimos alguns apontamentos acerca do estudo teológico e o que vem a ser teologia propriamente dita. Refletimos sobre os motivos necessários para todo cristão estudar teologia e o que ele deve compreender acerca deste tão imperioso assunto. Precisamos, entretanto, antes de avançar ao modus operandi, isto é, sobre como executar, levantar alguns luminosos alertas quanto ao estudo, de modo que todo cristão esteja certo dos perigos que irá encontrar. Ainda que o estudo seja algo necessário e absolutamente benéfico, se a dosimetria não for correta, poderá acarretar alguns efeitos colaterais.

Queira o leitor atentar para os seguintes perigos:

1. Orgulho

Corretamente já pontuamos: "A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda" (Pv 16.18), mas o frisamos novamente, pois o orgulho foi um dos primeiros atos realizados após a queda de Adão e Eva. O orgulho fez os primeiros pais colocar a culpa no próximo (Gn 3.11-13) e crer que não eram tão dignos de reprovação. O orgulho os cegou de sua nudez e os fez desejar compartilhar do erro, a fim de os eximir da culpa.

Jamais se esqueça da imperiosa necessidade de ser humilde, "Porque pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém" (Rm 12.3). Igualmente: "Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo" (Fp 2.3). A falta de humildade revela um caráter não regenerado.

Não se esqueça de Maria, o qual o Senhor elegeu para dar a luz ao Unigênito e nos diz a Palavra que Deus "atentou na baixeza de sua serva" (Lc 1.38); Paulo serviu "ao Senhor com toda a humildade, e com muitas lágrimas e tentações" (At 20.19); o apóstolo recomendou aos irmãos da igreja em Éfeso, para "que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, Com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, Procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz" (Ef 4.1-3); também nos é dito que um dos frutos da eleição, as boas obras para o qual todos os Seus foram eleitos (Ef 2.10), é a humildade - "Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade" (Cl 3.12); Tiago recomendou um viver humilde: "Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria" (Tg 3.13); não menos importante é a sentença de Pedro: "Semelhantemente vós jovens, sede sujeitos aos anciãos; e sede todos sujeitos uns aos outros, e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes" (1Pe 5.5).

Ademais, a falta de humildade é rebeldia contra o Senhor. Ela é completa insanidade, pois em seu cerne está o se achar superior a Deus; é a semente maligna sussurrando palavras como fez à Eva: "É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?" (Gn 3.1). O pecado intenta nos levar a duvidar de que Deus é soberano e de Sua Palavra. Assim exclamou Davi: "Quem sou eu, Senhor DEUS, e qual é a minha casa, para que me tenhas trazido até aqui?... grandioso és, ó SENHOR Deus, porque não há semelhante a ti, e não há outro Deus senão tu só" (2Sm 7.18, 22).

Relembre-se, portanto, quantas vezes a Escritura nos exorta à humildade e passe a buscar, pelo poder do Espírito Santo, um viver digno. Esteja ciente de que o pecado, sempre, o forçará ao orgulho - vença-o, porém, com a palavra de Deus (Mt 4.1-11; Ef 6.17).

2. Irritação

É fato conhecido que a superlotação de tarefas e pensamentos tende a esmorecer o homem e o deixar, muitas vezes, doente e irritado - isto também pode acontecer com o estudo bíblico e teológico.

Engana-se o leitor que imagina o estudo teológico sempre com as situações e condições favoráveis ao estudo, como se o cristão pudesse, invariavelmente, estudar teologia às margens de um pequeno rio e meditar ao canto dos colibris, tendo toda calma e sossego deste mundo.

Muitas vezes o estudante terá pouco tempo para se dedicar; noutros momentos a situação requererá urgência e não haverá tempo suficiente para se perscrutar boa quantidade de livros; ainda em outras ocasiões terá de se debruçar sobre assuntos que não lhe são do mais completo interesse no momento ou que possui severas dificuldades para entender; pessoas lhe pressionarão por uma resposta; novos livros serão lançados e a falta de dinheiro será um empecilho... Uma centena de coisas acontecerá, todavia, longe de imaginarmos que a irritação é algo natural e deva ser vista como normal. O autor de provérbios assim adverte: "A pedra é pesada, e a areia é espessa; porém a ira do insensato é mais pesada que ambas" (Pv 27.3).

Mas nem todo tipo de ira é pecaminoso. Nosso Senhor é descrito como sendo "juiz justo, um Deus que se ira todos os dias" (Sl 7.11). O próprio salmista conclama o povo de Deus a se irar, mas não pecar - "Perturbai-vos e não pequeis" (Sl 4.4). Desta forma, é necessário que o estudante de teologia seja consciente das inúmeras vicissitudes que ocorrerão durante o estudo e procure, sob a graça do Soberano, manter o padrão: "sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério" (2Tm 4.5). Irritações virão, "mas vence o mal com o bem" (Rm 12.21).

3. Preguiça 

Não devemos ser demasiadamente pesados quando tecemos comentários e indagações sobre nuances da vida cristã. Assim como Cristo não esmaga a cana quebrada e nem apaga o caniço que fumega (Mt 12.20), também não devemos colocar um fardo além do que a Escritura nos prescreve. Isto significa dizer que devemos ser cautelosos quando exortamos a outrem e isto inclui o perigo da preguiça.

Ocorrerá a todo estudante, cedo ou tarde, altas doses de preguiça e pouquíssima vontade de estudar. Não creia o leitor que conseguirá, sempre, por mais puritano que seja, ter santa disposição para estudar as Escrituras, afinal, "o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar" (1Pe 5.8). Inúmeras vezes os homens que aspirarem o ministério da Palavra, por exemplo, fraquejarão e terão imensa dificuldade em preparar estudos e sermões para a igreja. Desânimo, preguiça e toda sorte de sentimentos e fraquezas lhe acometerão. Após anos preparando sermões semanalmente, uma hora você irá cansar.

Entretanto, não se esqueça, jamais, que se quiser combater o bom combate e finalizar a carreira da fé (2Tm 4.7), precisará perseverar. Quando a preguiça acometer sua alma, tenha em mente: "No dia da minha angústia clamo a ti, porquanto me respondes" (Sl 86.7). Reflita sobre a mulher virtuosa e em como ela é descrita, estando "atenta ao andamento da casa, e não come o pão da preguiça" (Pv 31.27). Como Paulo escreveu à igreja em Tessalônica, que erroneamente acreditava estar em iminência a segunda vinda de Cristo, bom será recordar que a preguiça leva a um viver de maneira desordeira: "Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto, que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também. Porquanto ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, antes fazendo coisas vãs" (2Ts 3.10-11 - grifo meu autor).

4. Ostracismo

Conforme avança no estudo teológico saudável, bíblico e histórico (adiante falaremos sobre isso), inúmeras vezes o cristão começará a se sentir "um peixe fora d'água", isto é, o estudo o fará deduzir que todas as outras pessoas estão em erro e isto o tenderá a levar, num primeiro momento, a desejar combater desenfreadamente (e este é o pecado) toda heresia e posteriormente, vendo que é impossível endireitar o mundo pelas próprias mãos, desejará se isolar e não mais comungar em qualquer igreja.

No entanto, devemos alertar sobre este perigo: "E consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras, Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia" (Hb 10.24-25 - grifo do autor). É bem verdade ser possível não existir, após o Senhor abrir os olhos do entendimento (Ef 1.18), uma igreja biblicamente saudável por perto¹. A resposta para qual atitude tomar neste caso, nunca será fácil, pois se de um lado o permanecer em uma falsa igreja é algo pernicioso e contrário à Bíblia, por outro, subsiste a esperança de que tal igreja possa ser reformada e ganhar verdadeira vida através do poder de Deus mediante Seus agentes.

De qualquer forma e seja o que Deus lhe orientar, seja sábio e aprenda uma sentença importantíssima: "Esforça-te, pois, e esforcemo-nos pelo nosso povo, e pelas cidades de nosso Deus; e faça o SENHOR o que bem parecer aos seus olhos" (2Sm 10.12). Nosso dever não é conhecer a mente do Senhor - "Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo?" (1Co 2.16) -, mas tal fato não nos autoriza a esquiva da batalha. Lute por melhorar sua igreja e somente a deixe se tiver plenamente convicto de que esta é a ordem do Senhor.

Quando se ver sozinho e sem irmãos que partilhem da mesma doutrina, se esforce para ser como o apóstolo: "eu em tudo agrado a todos, não buscando o meu próprio proveito, mas o de muitos" (1Co 10.33). Certamente que Paulo não está sugerindo que devamos omitir a Verdade para acariciar o ego do pecador, jamais (veja Levítico 5.1)! O que ele instrui é sobre o dever de buscar fazer todos as coisas para a glória de Deus (1Co 10.31), "de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus" (1Co 10.32).

Assim, cuide para não fantasiar com uma falsa redoma espiritual em sua volta e crer que você é demasiadamente santo para congregar com os outros cristãos. Caso não seja realmente possivelmente frequentar alguma igreja com sã doutrina, busque auxílio do Senhor sobre o que fazer; faça bom uso das novas tecnologias e converse com pessoas maduras acerca do problema. O Espírito Santo, no tempo oportuno, lhe trará a resposta. Jamais, porém, fique sozinho, "Porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante. Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só, como se aquentará?" (Ec 4.11).

5. Tentar mudar o mundo

Se temos o pecado do isolamento, do viver semelhante à uma ostra que dedica sua vida à formar a bela pérola e só com ela parece se importar, temos, igualmente, o pecado de desejar, pelas próprias forças, mudar o mundo em que vivemos. Ainda que os discípulos fossem pessoas que efetuaram profundas mudanças em seu meio social - "E, não os achando, trouxeram Jasom e alguns irmãos à presença dos magistrados da cidade, clamando: Estes que têm alvoroçado o mundo, chegaram também aqui" (At 17.6) -, eles não criam que seriam capazes de realizar tal grande ato.

Os discípulos de Cristo devem rogar, "pois, ao Senhor da seara, que mande ceifeiros para a sua seara" (Mt 9.38). Após iniciar seus estudos, você perceberá que há muito mais trabalho para se fazer do que preteritamente era cogitado. Verás, como disse o Senhor, que "A seara é realmente grande, mas poucos os ceifeiros" (Mt 9.37). Nestes momentos, então, entenda que sozinho e por suas próprias forças, coisa alguma você poderá realizar, "porque sem mim nada podeis fazer" (Jo 15.5).

Esforce-se para ser um bom cristão nas pequenas áreas da vida. Não deseje viajar à África ou realizar missões no Senegal, sem antes se certificar de que tem sido um diligente crente nas mais singelas áreas do cotidiano. Lembre-se da primeira comissão dada por Jesus aos seus discípulos: "ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel" (Mt 10.6).

Mas, convém sublinhar o fato de não devermos crer que não temos um chamado neste mundo para o conformar à Bíblia. O Salmo 2 é clarividente: "Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos instruir, juízes da terra. Servi ao SENHOR com temor, e alegrai-vos com tremor" (Sl 2.10-11). O cristão tem o dever de lutar pela Lei do Senhor - "À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles" (Is 8.20). A todo estudante de teologia (como vimos no primeiro capítulo, deve se estender a todo cristão) é imposto a necessidade de lutar pelo Evangelho. Inquestionável o fato de nossas armas não serem carnais (2Co 10.4), mas isso não nos exime da obrigação de orar e agir em prol do avanço do evangelho, da transformação das culturas malignas e o estabelecimento de leis que se pautem pela Escritura.

Seja, porém, sempre prudente e busque executar o mandato que Deus lhe deu. Não deseje causar mudanças globais, enquanto sua casa não está em ordem e seus vizinhos não ouviram do Evangelho.

6. Falsos mestres

Falsos mestres são pessoas legais - mantenha esta afirmativa viva durante seus estudos. Tais pessoas, geralmente são seres humanos divertidos e que demonstram amor pelo próximo. Apague a noção de que os tais são carrascos, escrevem livros flagrantemente heréticos e buscam evidentemente destruir a Igreja de Cristo, como se pusessem anúncios de suas tramas malignas. Um bom falso mestre sempre se parecerá um cordeiro (Mt 7.15). Tamanha é a astúcia dos falsos mestres, que até mesmo Davi julgava ter como conselheiro, um crente no Senhor - descobrindo, porém, que era um falso profeta.

A Bíblia nos diz que "Aitofel era do conselho do rei" (1Cr 27.33). Davi tomava direções para seu reino a partir da amizade com tal homem, pois julgava ser ele um homem fiel a Deus: "E era o conselho de Aitofel, que aconselhava naqueles dias, como se a palavra de Deus se consultara; tal era todo o conselho de Aitofel, assim para com Davi como para com Absalão" (2Sm 16.23 - grifo do autor). Todavia, Aitofel se juntou a Absalão, filho de Davi (2Sm 13.1) e com ele conspirou matar o rei (2Sm 17.1). Ademais, Aitofel era um homem tão ímpio, que junto com Saul (1Cr 10.4) e Judas (Mt 27.5), é contado no rol dos que se suicidaram (2Sm 17.23). Não pudera ser diferente que Davi muito se amargurou quando soube da traição (Sl 55.12-14).

Por isso, certifique-se, dentro do que é possível, verificar com quem você trilha seu caminho nos estudos. Jesus Cristo salientou: "Ai de vós quando todos os homens de vós disserem bem, porque assim faziam seus pais aos falsos profetas" (Lc 6.26). Um falso profeta mui dificilmente repreenderá a outrem. Um dos lemas favoritos de tais bestas anticristãs é que o amor deve prevalecer sobre a doutrina - como se a sã doutrina não fosse o próprio amor! Em outras palavras, os falsos mestres insistem que é melhor amar o erro do que o expor à luz do Evangelho. Aqui, de muita valia é o conselho proverbial: "O que repreende o homem gozará depois mais amizade do que aquele que lisonjeia com a língua" (Pv 28.23).

Melhor lhe será ter um Natã por perto, do que um Aitofel.

7. Criar a própria teologia

Alguns homens, no intento de promover uma suposta unidade entre os cristãos e mais particularmente com os que se debruçam no estudo teológico, afirmam que cada indivíduo deve "criar sua própria teologia", procurando transmitir o ideal de "liberdade de pensamento" e desapego ao passado e dogmas respectivos. Tais pessoas procuram, em vez de colocar limites ao estudo e promover um sadio crescimento na fé, abrir as portas para toda e qualquer forma de pensamento, deixando ao arbítrio particular sobre quais doutrinas acatará e quais rejeitará. Nada poderia ser mais maligno do que isso.

Nos diz a inerrante palavra de Deus:  "Porventura o contender contra o Todo-Poderoso é sabedoria?" (Jó 40.2). O  estudante precisa ter por certo que existe somente uma verdade nas Escrituras e isto implica em dizer que é falsa a afirmativa de poder ser construída uma teologia própria, como se ao homem fosse dado o poder de acatar ou não determinada doutrina.

Nos próximos capítulos falaremos sobre como entender qual doutrina é genuinamente bíblica, mas por ora, queira atentar para o fato de não ser possível, ao homem mortal, escolher sua teologia - isto é, não cabe ao homem pecador desejar seguir a teologia reformada, luterana, anglicana ou pentecostal, por exemplo. Não é a afeição por determinadas práticas que confere o juízo de veracidade. É necessário que o cristão estude todas as doutrinas à luz da Bíblia e não sob seus desejos e paixões.

Convém lembrar, porém, que devido ao pecado, jamais os homens serão uníssonos em todas as doutrinas. Se por um lado temos de cuidar para não criarmos um conjunto teológico próprio, é também verdadeiro que devemos ser sinceros e admitirmos que a perfeita e completa união somente se evidenciarão no céu, onde todos os Seus santos, cada qual com suas falhas e pecados - mas lavados pelo sangue regenerador de Cristo Jesus (1Co 6.11) - terá o completo gozo e união sob Cristo, "No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor" (Ef 2.21).

8. Desejar pregar e escrever artigos

Conforme o tempo passará, o estudante começará a se sentir capaz de proferir algumas palavras para os amigos e familiares, bem como imaginará ser útil escrever alguns artigos e, assim, passará a cogitar ter um site para divulgação de seus materiais. Acautele-se, todavia.

Jesus alerta: "Então falou Jesus à multidão, e aos seus discípulos, Dizendo: Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem... E amam os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas, E as saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens; Rabi, Rabi" (Mt 23.1-3; 6-7). Tais palavras de nosso Senhor devem levar todo cristão a refrear sua mente antes de iniciar uma nova empreitada pública, a fim de poder se certificar sobre quais os motivos que o instam a desejar compartilhar do evangelho.

Muitos têm feito sites, "blogs" e toda sorte de boas ferramentas atuais, mas movidos por um falso zelo pelo evangelho. Se pudéssemos perscrutar corações, certamente encontraríamos uma miríade de pessoas que, sob a máscara de pregar "o evangelho á toda criatura" (Mc 16.15), se utiliza da publicidade para catapultar seu ego e se sobressair entre os demais.

Procure entender que "Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu" (Ec 3.1). Note a vida de Jesus Cristo e reflita sobre seu ministério público, o qual veio a ser registrada, para nosso saber, somente após os Seus trinta anos de idade (Lc 3.23); o apóstolo Paulo passou vários anos aos pés do mestre Gamaliel (At 22.3), antes de sair pregando a Palavra.

Desta forma, mister é grifar as palavras de Tiago: "Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo" (Tg 3.1). Embora o desejo de pregar, escrever artigos e publicar a sã doutrina seja louvável e necessário, muito cuidado deve haver com o árduo desejo de intentar fazer obras ao Senhor. Lembre-se de Davi e seus homens, quando desejaram buscar a arca da aliança em posse dos filisteus e não atentaram para o modo correto de a trazer, imitando os filisteus (1Sm 6.7; 2Sm 6.3) e atraindo juízo de Deus (2Sm 6.7). Não se esqueça de Saul, que mesmo avisado sobre não trazer os despojos da guerra, creu que uma boa intenção do coração seria mais valiosa ao Senhor do que Sua palavra (leia 1Sm 15).

Seja prudente. Ore, medite e não deseje ovações públicas, afinal, "teu Pai, que vê em secreto, ele mesmo te recompensará publicamente" (Mt 6.4)

9. Debates e contendas

Escrevendo à igreja em Corinto, Paulo revela um dos motivos pelo qual lhes escrevia: "Porque a respeito de vós, irmãos meus, me foi comunicado pelos da família de Cloé que há contendas entre vós. Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo" (1Co 1.11-12; 1Co 3.3). Paulo era consciente do dever do cristão de evitar contendas, pois isto é fruto de um coração ímpio - "O orgulhoso de coração levanta contendas" (Pv 28.25).

O cristão deve ser alguém que sabe defender a sã doutrina: "estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós" (1Pe 3.15). Todavia, há um tempo para se defender a fé cristã. Não creia que após ter lido alguns livros e frequentado algumas aulas, estará apto a participar de inúmeros debates. Ademais, assim diz a Escritura sobre "debates": "rejeita as questões loucas, e sem instrução, sabendo que produzem contendas" (2Tm 2.23); "não entres em questões loucas, genealogias e contendas, e nos debates acerca da lei; porque são coisas inúteis e vãs" (Tt 3.9).

Embora determinadas conversas e com tom de confronto pela Escritura possam ser saudáveis (quando regidas pelos ditames bíblicos), é crível que cogitemos que a maioria dos debates serve, tão somente, para elevar o orgulho humano, fazendo com que  homens e mulheres, semelhantemente à conhecida "torre de Babel", sejam ansiosos por construir uma "torre cujo cume toque nos céus" (Gn 11.4). Assim como o Senhor os dispersou e "cessaram de edificar a cidade" (Gn 11.8), não creia que Ele não pode fazer o mesmo com você e se assim fizer, tenha a certeza de que será "grande a sua queda" (Mt 7.27).

A Escritura é transparente em mostrar que o desejo por debates e contendas é fruto de uma vida ainda servidora do pecado: "Porque também nós éramos noutro tempo insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias concupiscências e deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos, odiando-nos uns aos outros" (Tt 3.3).

Sigamos o perfeito ideal bíblico, busquemos viver "com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade" e "não sirvamos mais ao pecado" (Rm 6.6).

10. Subjetivismo

"O Senhor me confirmou esta palavra", "eis que o Senhor me disse", "o Espírito Santo testificou em meu coração" - alguma destas frases lhe soa familiar? Já se deparou com alguma delas? Caso positivo, cuidado para não cair em igual erro. Infelizmente, para justificar suas condutas, erros e supostos acertos, o homem passa a crer que seu coração é bom e justo, de modo que consegue discernir os próprios erros.

Diz a Escritura sobre o coração do homem: "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?" (Jr 17.9). Sobre o verificar dos próprios erros, nos diz o salmista: "Quem pode entender os seus erros? Expurga-me tu dos que me são ocultos" (Sl 19.12). Não creia na falsa noção que muitos têm advogado, a saber, que pelo fato do Espírito Santo testificar na vida dos crentes que estes são filhos de Deus, signifique liberdade para se valer de supostas "revelações interiores" ou afirmações subjetivas.

Em determinado dia, este escritor e mais um irmão em Cristo, se pôs a ir à casa de uma irmã no Senhor, cujo marido desta professava a fé cristã mais vivia e incorria em graves pecados. Passado, literalmente, uma madrugada inteira de conversas, uma das coisas que mais ouvimos do homem, mesmo após ser reiteradas vezes lhe apresentado versículos que iam de encontro ao que ele estava vivendo, era: "eu sou filho de Deus; creio que minha fé irá mover montanhas; sei que Deus é comigo". Sabemos que em Cristo nenhum trabalho é vão (1Co 15.58), mas aquela madrugada nos deixou desesperançosos - o subjetivismo, a falsa luz do evangelho havia achado guarida naquele coração.

Tal qual no exemplo acima, queira todo estudante cuidar para não crer que pode justificar seus erros apelando para uma suposta pureza de coração e alegando que o Espírito Santo lhe confirma determinada coisa. É algo muito temeroso confiar no próprio coração e não se dobrar diante das Escrituras. Não pense alguém que pode enganar a Deus, porque "Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará" (Gl 6.7).

Quando for confrontado por alguém, devido aos seus pecados cometidos (ore para que isso aconteça), reconheça sua pecaminosidade e não pense que pode adequar a teoria da relatividade com o cristianismo.

Nota: O reformador escocês John Knox (1514-1572) escreveu uma série de recomendações quando isto ocorrer - clique aqui para ler.

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