quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A Vontade de Deus e a Vontade do Homem - parte 3 (final)



Admita que o homem é totalmente indigno e desamparado; então, onde está a complexidade de entendimento dessa doutrina? É difícil entendermos que um Deus bendito e santo adianta-se à nossa vontade miserável e corrupta, para conduzi-la no caminho do bem? É difícil compreendermos que pessoas destituídas de tudo são devedoras a Deus por todas as coisas? Visto que todos os movimentos de nossa vontade dirigem-se para baixo, é difícil entendermos que a poderosa vontade de Deus deve intervir e erguer, de maneira onipotente, nossa vontade em direção às coisas elevadas e celestiais?

Se admitimos que a vontade de Deus regula os grandes movimentos do universo, temos de aceitar o fato de que ela também regula os pequenos movimentos. O mais insignificante movimento de minha vontade é regulado pela vontade de Deus. Nisto eu me regozijo. Se assim não fosse, quão miserável eu seria! Se me esquivo de tão ilimitado controle e orientação, é evidente que desprezo a idéia de estar completamente à disposição de Deus. Em parte, desejo estar à minha própria disposição. Tenho a ambição de regular os menores movimentos de minha vontade, enquanto entrego os maiores ao controle de Deus. Isto resulta em que desejo ser um deus para mim mesmo. Não gosto do pensamento de entregar a Deus toda a disposição de meu destino. Se Ele faz a sua própria vontade, tenho receio de que não terei oportunidade de fazer a minha própria. Além disso, concluímos que o Deus a cujo amor eu costumava me referir é um Deus a quem eu não posso implicitamente confiar a mim mesmo para a eternidade. Sim, esta é a verdade. A insatisfação do homem em referência à vontade de Deus surge do fato de que o homem suspeita do amor de Deus. No entanto, os homens de nossos dias, que negam a absoluta soberania de Deus, são os mesmos que professam regozijar-se no amor de Deus e falam sobre este amor como se em Deus não houvesse mais nada além de amor. Quanto mais eu compreendo o caráter de Deus, conforme revelado nas Escrituras, tanto mais percebo que Ele tem de ser soberano e tanto mais me regozijarei, em meu íntimo, com o fato de que Ele é soberano.

A soberana vontade determinou a época de meu nascimento, bem como o dia de minha morte. Não foi também essa vontade que certamente determinou o dia de minha conversão? Ou não serão apenas os tolos que afirmarão que Deus determinou o dia de nosso nascimento, bem como o de nossa conversão, mas deixou à nossa mercê determinar se nos converteríamos ou não? Se o dia de nossa conversão foi estabelecido, ele não pode ser determinado por nossa própria vontade. Deus determinou onde, quando e como nasceríamos; de modo semelhante, Ele determinou onde, quando e como seríamos nascidos de novo. Se isto é verdade, a vontade dEle tem de vir antes da nossa, em referência ao nosso crer. A vontade dEle vem antes da nossa, para que nos tornemos dispostos a crer. Se não fosse assim, jamais teríamos crido. Se a vontade do homem precede a de Deus em todas as coisas que se referem ao próprio homem, não posso compreender como qualquer dos planos de Deus pode ser levado a efeito. O homem teria sido deixado a administrar o mundo conforme ele quisesse. Deus não teria de fixar o tempo da conversão do homem, pois isto seria uma interferência na responsabilidade dele. Na realidade, Ele não teria de determinar que o homem seria convertido de maneira alguma, visto que isto transformaria seu próprio convite em uma simples zombaria e tornaria a responsabilidade do homem uma pretensão! Por meio de uma simples manifestação de poder, Deus pode trazer de volta ao seu curso uma estrela perdida e permanecer inalterado diante da interferência das leis da natureza. Mas, como afirmam eles, estender Deus a sua mão e resgatar a vontade humana de seu caminho errado, para trazê-la de volta ao caminho de santidade, é um exercício injustificável de seu poder e uma usurpação da liberdade do homem! Que mundo! Neste mundo o homem segue todo o seu próprio caminho, e Deus não tem a permissão de interferir, exceto naquilo que o homem chama de legítimo! Que mundo! Neste mundo tudo se volta à vontade do homem, todos os acontecimentos no mundo ou na igreja são regulados, moldados, impulsionados somente pela vontade do homem. A vontade de Deus é algo secundário; seu papel é apenas contemplar os acontecimentos e seguir os passos da vontade humana. Neste mundo o homem deseja, e Deus tem de dizer: Amém!

Em toda esta absoluta oposição à vontade de Deus, vemos a vontade própria dos últimos dias manifestando-se a si mesma. No princípio, o homem quis ser um deus e continua a lutar por isso nos últimos dias. Ele está decidido a fazer que sua vontade tome a precedência que pertence à vontade de Deus. No último anticristo esta vontade própria será sumariada e revelada. Ele é o rei que fará “de acordo com sua vontade”. E na atual controvérsia do “livre-arbítrio”, vemos demonstrado esse mesmo espírito. O Anticristo está nos falando, exortando-nos à independência orgulhosa. A vontade própria é a essência da religião anticristã. É a raiz de amargura que hoje brota em muitas igrejas. Ela não procede do alto, e sim de baixo; é terrena, animal e diabólica.

Assim diz o Senhor:

- “Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem eu me compadecer” (Êx 33.19 – cf. Rm 9.8-24);
- “Eu Sou, Eu somente, e mais nenhum deus além de mim; eu mato e eu faço viver; eu firo e eu saro; e não há quem possa livrar alguém da minha mão” (Dt 32.39);
- “O que ele deitar abaixo não se reedificará; lança na prisão, e ninguém a pode abrir” (Jó 12.14);
- “Segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” (Dn 4.35);
- “Que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos” (2 Tm 1.9).



- por Horatius Bonar (1808 - 1889)
Fonte: Editora FIEL

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