segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Efésios 2.6 - Nos Ressuscitou Juntamente com Ele - Exposição em Efésios - Sermão pregado dia 23.09.2012



Efésios 2.6 - Nos Ressuscitou Juntamente com Ele
Exposição em Efésios -
Sermão pregado dia 23.09.2012

"E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus" (Ef 2.6).

As Escrituras nos são evidentes ao declarar anteriormente que, o homem natural, nada pode fazer para herdar a salvação por si mesmo. O apóstolo tratou dessa questão ao afirmar dois pressupostos básicos, a saber, que os crentes eram vivificados "juntamente com Cristo" e que isso era devido à graça de Deus, pois "pela graça sois salvos". Estes pontos são de suma importância para a sequência desta presente carta de Paulo, afinal, uma vez que os crentes de Éfeso foram informados de que suas vidas estavam em Cristo e n'Ele habitava toda misericórdia (Ef 2.4), então, mister se fazia com que lhes fosse ampliado a questão da salvação em Cristo. Noutras palavras, o apóstolo, agora, escreve aos efésios no intuito de lhes mostrar que uma vez estando firmemente arraigados em Jesus, podem confiadamente crer que ressuscitarão "juntamente com ele".

A doutrina da ressurreição, talvez dentre todos os ensinamentos que o cristão deve saber, seja uma das mais salutares e necessárias para a esperança nesta terra. Aqui, dizemos esperança, porque, embora os verdadeiros crentes possam descansar sob a certeza da salvação, ainda que labutem diariamente em busca de maior santificação e anseiem realizar tudo para a glória de Deus (1Co 10.31), de nada adiantaria o pregar sobre a salvação, se não houvesse esperança de ressurreição. Sobre este ponto, o próprio apóstolo Paulo tratou mais detidamente com os irmãos de Corinto, cuja igreja se encontrava em grande confusão doutrinária e alguns dentre eles estavam sendo levados por pensamentos deste mundo.

Analisemos, portanto, sob a bênção do Espírito Santo, o que a Bíblia Sagrada nos fala sobre a importância da ressurreição.

"E nos ressuscitou juntamente com ele". Ressuscitar não é um ato de bravura ou algum feito digno de ovações públicas. Sim, o morto que vem à vida por meio do Espírito, não tem do que se gloriar, pois "Aquele que se gloria glorie-se no Senhor" (1Co 1.31; 2Co 10.17). A glória, o esplendor e a beleza da ressurreição, recaem sempre sobre o autor do feito, aquele cujo poder venceu a morte e triunfou sobre ela.

De modo específico, é disto que Paulo tratou com os irmãos de Corinto, mais particularmente em sua primeira carta, no capítulo quinze. A igreja de Corinto padecia de uma série de enfermidades que precisavam ser tratadas pelo Senhor, através do apóstolo enviado. Especialmente neste capítulo, Paulo lhes ensina e corrige alguns entendimentos errôneos que aqueles homens estavam tendo. Observemos que nos é registrado que Paulo aventa a possibilidade de alguns daqueles homens e mulheres de Corinto estarem crendo em vão (v.2), pois de acordo com o que trata no restante do capítulo, alguns imaginavam que não havia ressurreição do corpo, mas sim apenas do espírito. Para o apóstolo, crer numa ressurreição "parcial" era o mesmo que negar a fé.

A fim de demonstrar aos irmãos que a ressurreição corporal de Cristo foi real, ele cita que Jesus, não somente morreu e ressuscitou, mas também "que foi visto por Cefas, e depois pelos doze. Depois foi visto, uma vez, por mais de quinhentos irmãos, dos quais vive ainda a maior parte, mas alguns já dormem também. Depois foi visto por Tiago, depois por todos os apóstolos. E por derradeiro de todos me apareceu também a mim, como a um abortivo" (1Co 15.5-8). Os crentes de Corinto tinham sérias dificuldades para compreenderem a ressurreição corporal de Cristo e dos filhos de Deus, pois à semelhança do gnosticismo que prega ser o corpo mau e a alma boa, não podendo assim, o corpo ressuscitar, também muitos estavam enveredando por este caminho, crendo que somente o espírito dos crentes é que ressuscitaria no último dia e o corpo seria deixado nesta terra.

Respondendo a este pensamento, Paulo diz: "Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como dizem alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos? E, se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé" (1Co 15.12-14 - grifo meu). O que apóstolo lhes explica é que, o fato de pregar sobre a ressurreição dos mortos, significa, por si só, que tal fato é verdadeiro! Anteriormente, Paulo havia escrito àqueles irmãos: "Sede meus imitadores, como também eu de Cristo. E louvo-vos, irmãos, porque em tudo vos lembrais de mim, e retendes os preceitos como vo-los entreguei" (1Co 11.1-2). Isto é, se apóstolo estava os ensinando sobre a ressurreição também do corpo e este (e outros) ensinamento ele havia recebido do Senhor (até porque ele havia visto a Cristo, conforme versículo 8), "como dizem alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos?" É como se o apóstolo estivesse perguntando: "Coríntios, se prego a vocês o que recebi do Senhor, como pois não credes na ressurreição dos mortos?" Ele mesmo enfatiza este ponto, dizendo: "E, se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou". Ora, se Cristo não ressuscitou, então Paulo estava sendo mentiroso ao afirmar que Jesus lhe apareceu. Por fim, completa dizendo: "E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé". Em suma, Paulo afirma aos irmãos de Corinto que, "se Cristo não ressuscitou", a pregação não tem qualquer motivo de existência e também a suposta fé que eles tinham, "é vã". Ademais, se assim fosse, melhor seria se entregar à devassidão e aos prazeres da vida: "Se, como homem, combati em Éfeso contra as bestas, que me aproveita isso, se os mortos não ressuscitam? Comamos e bebamos, que amanhã morreremos" (1Co 15.32).

Posteriormente, no intuito de confirmar aos crentes de que a ressurreição lhes era importante, Paulo diz: "Porque assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem" (1Co 15.21). Por um homem (Adão) veio a morte, mas por outro (Cristo), a vida; pelo primeiro, a destruição - pelo segundo, a salvação; pelo primeiro, a corrupção - pelo segundo, a incorrupção; pelo primeiro, a fraca perseverança - pelo segundo, a eterna bem-aventurança; pelo primeiro, orgulho - pelo segundo, humildade; pelo primeiro, altivez de espírito e desejo incontrolável - pelo segundo, mansidão e espírito de servidão.

Destarte, então, é que quando Paulo diz aos crentes de Éfeso que "E nos ressuscitou juntamente com ele", o apóstolo não lhes está falando de coisa pequena ou com pouca aplicação, pois uma vez que Cristo ressuscitou verdadeiramente, todos os cristãos podem confiadamente se assegurar de que também ressuscitarão "juntamente com ele". Notemos três pontos de grandiosa importância:

Em primeiro lugar, a ressurreição dos cristãos não é um ato voluntário de cada crente. Tal qual Lázaro, já cheirando mal, foi retirado do túmulo (Jo 11.39), também nós, se não estivermos verdadeiramente em Cristo, seremos tragados pela morte e nossa ressurreição não será  "juntamente com ele", mas contra Ele - e isso resultará no sofrimento eterno. Em segundo lugar, ressurreição implica em vitória sobre a morte. "E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória" (1Co 15.54). O fato de a ressurreição ser juntamente com Cristo e ser prometida aos cristãos, lhes revela a grandiosa obra que o Senhor realizou na vida de todos os Seus filhos: pela obra do Filho, retirou a sua corrupção e lhes deu incorrupção; lhes tirou a mortalidade e os vestiu de imortalidade; retirou-lhes o poder da morte e os fez triunfar sobre ela. Em terceiro lugar, não é oferecida nenhuma saída, exceto Cristo. Muitos têm dito que o cristianismo é um sistema de doutrina fechada, que não possui espaço para qualquer outra divindade e que não abarca o princípio da universalidade do amor que é (supostamente) mais importante que o entendimento correto - e eles estão certos. O cristianismo é completamente fechado: ou se está em Cristo, ou se está perdido. Não há como escapar da ira vindoura (Mt 3.7; Lc 3.7), "E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos" (At 4.12).

Neste sentido, portanto, podemos crer que muito do esfriamento dos crentes (aqui, falo de esfriamento em sentido estrito, isto é, não o total, mas sim o parcial, cuja porção perdida é integralizada na vida do cristão, na medida em que vai sendo cheio do Espírito e por Este é ensinado, admoestado e santificado) é devido ao fato de não darem o devido valor e/ou sequer se dedicarem a algum estudo profundo das Escrituras, de modo que possam compreender o mistério da ressurreição. Replicando as palavras já citadas, "E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé" (1Co 15.14). O erro de muitas pessoas têm consistido em não valorizar o porvir, não ter uma mentalidade peregrina (Hb 13.14) e não se esmerarem em lembrar diariamente que a verdadeira plenitude da bênção está nos céus (Ef 1.3). Ora, se tal grande porção se encontra nos lugares celestiais, como pode ser possível que muitos não se esforcem para entenderem tão imperiosa doutrina?

Tristemente paira em nossos arraiais evangélicos uma grande e espessa névoa branca de dúvidas e incertezas, fazendo com que muitos não consigam enxergar o sol que brilha acima de suas cabeças. Assim como uma criança, no dia nublado, pensa que o sol não "saiu" naquele dia, igualmente muitos vivem como se o cristianismo fosse iluminado por algo estranho, alheio a Deus. Isto é, temos visto muitas pregações e ouvido muitas conversas de pessoas que falam sempre no nível terreno (aqui, agora, este mundo, prazeres momentâneos, diversões frívolas...) e todo seu pensamento circunda questões triviais ou de importância secundária. O entretenimento tem adentrado as portas dos corações humanos de ditos crentes, porque estes não têm crido e buscado ao Senhor de modo que possam ter suas mentes fixas no céu. Tais homens pensam que o Senhor lhes prometeu um mundo de alegrias, diversões e que o culto, por exemplo, deve e poder ser divertido - quando na verdade a mensagem é: "no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo" (Jo 16.33). Esta névoa de dúvidas só será removida quando verdadeiramente se olhar para o alvo que foi proposto e até ele se correr (Fp 3.14).

O professo da fé cristã que não sente o peso de seu pecado; não chora as angústias de sua mente perversa; não se ira contra suas maldades e impiedades frequentes; não lamenta profundamente o estado apático em que por vezes se encontra; não clama ao Senhor por mais fé e vivificação plena de Seu Espírito; não se levanta contra as obras das trevas e contra elas busca batalhar com a armadura da fé (Ef 6), certamente é um professo nulo, alguém cuja profissão pública serve apenas para trazer vergonha e atrair a ira do Senhor sobre sua cabeça. Tal profissão sequer entra no âmbito da anulabilidade (isto é, algo que existe, mas que é possível de ser anulado), pois nunca possuiu validade.

A ressurreição é de tal forma importante, que as Escrituras nos revelam duas ressurreições pelas quais o crente passa: "Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele mil anos" (Ap 20.6). A primeira ressurreição consiste da vivificação operada pelo Espírito Santo (Ef 2.1, 5), a ressurreição que confere vida aos pecadores mortos: "Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão" (Jo 5.25). A segunda, diz respeito ao reviver do corpo mortal: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele" (Jo 6.54-56 - grifo meu).

É, assim, de magnífica necessidade que todos os crentes busquem compreender a maravilhosa doutrina da ressurreição, pois ela norteia, de vários modos, toda vida cristã e piedosa - ora lembrando-nos das duras penalidades que sofreremos, caso não estejamos verdadeiramente em Cristo; ora estimulando-nos para que vivamos nossas vidas na esperança do porvir.

Devido a este fato, é que Paulo complementa: "e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus". Uma vez compreendido que os crentes ressuscitarão com Cristo, porque Ele primeiramente triunfou sobre a morte (1Co 15.55), todos os Seus filhos podem estar seguros de que se assentarão no lugares celestiais, em Cristo. Neste sentido, aqui temos um eco do capítulo anterior: "Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo" (Ef 1.3).

De mortos para o pecado, a vivos para Deus. Esta maravilhosa transição é possível, somente, com Cristo Jesus. Este é um dos motivos pelos quais a Igreja do Senhor precisa pregar, ensinar e exaltar a Cristo, pois Ele é "o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim" (Jo 14.6). A esperança do cristão deve estar calcada em Cristo e em Sua obra vicária; em Sua cruz e em Seus sofrimentos; em Sua ressurreição e ascensão ao céu. Tal esperança é tão preciosa, que Paulo fez questão de recomendá-la ao amado Timóteo: "Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra. E, se alguém também milita, não é coroado se não militar legitimamente. O lavrador que trabalha deve ser o primeiro a gozar dos frutos. Considera o que digo, porque o Senhor te dará entendimento em tudo. Lembra-te de que Jesus Cristo, que é da descendência de Davi, ressuscitou dentre os mortos, segundo o meu evangelho; Por isso sofro trabalhos e até prisões, como um malfeitor; mas a palavra de Deus não está presa" (2Tm 2.4-9). A força que Paulo possuía para militar na causa do Evangelho, não era devido a sua capacidade inerente, mas sim a sua fraqueza - "Porque quando estou fraco então sou forte" (2Co 12.10).  O despojar das armas da carne confere fortalecimento e dependência do Espírito.

O problema de nossos dias é que pensamos que somos fortes o suficiente para vencermos a tentação; para santificarmos nossas vidas; para evangelizarmos; para sermos bons pais e mães de família; para obedecermos aos superiores e darmos bom exemplo como filhos; para guiarmos a vida de maneira justa e, por fim, ressuscitarmos. Este é nosso problema, nosso pecado e nossa doença. Em vezes de nos considerarmos fracos, inutilmente pensamos que somos fortes.

Além disso, diz o apóstolo Paulo, um verdadeiro guerreiro em prol do Reino, não se dedica a esta vida, como se seu pagamento estivesse reduzido à semelhança dos ímpios (Sl 73), isto é, nesta terra: "Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra". Cristo chamou Seus filhos para militarem segundo Suas diretrizes e ordenanças - fazer menos que isso, é fugir da guerra ou "se embaraça[r] com negócios desta vida", quando na verdade dever-se-ia "[deixar] todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta" (Hb 12.1). O homem que uma vez foi alistado para a batalha, deve ouvir atentamente estas palavras e as guardar em seu coração: "Lembra-te de que Jesus Cristo, que é da descendência de Davi, ressuscitou dentre os mortos"

Portanto, crer na ressurreição de Cristo, é também crer na própria ressurreição no tempo oportuno, sabendo, sempre, que esta será "juntamente com ele". Porque tal fato é deveras verdadeiro "na Igreja Primitiva, os cristãos costumavam saudar uns aos outros com estas frases: 'O Senhor ressuscitou', e o outro respondia: 'É verdade; o Senhor de fato ressuscitou'." [1]

Que seja o Senhor gracioso para conosco e aumente-nos a fé a cada dia, de modo que possamos exclamar com espírito genuíno: "Graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo" (1Co 15.57).

Nota:
[1] BAYLY, Lewis (1565-1631), "A Prática da Piedade", Ed. PES, pág. 323.

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