quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Alguns conselhos sobre como ler a Bíblia corretamente


A fim de ser simples e objetivo, deixarei abaixo algumas recomendações sobre como você pode ler a Bíblia com proveito e correto entendimento:

Dificuldades e barreiras à compreensão

1. Lembre-se de que há um abismo de tempo, contexto, cultura, língua e autor (os homens que usaram da pena para escrever não estão mais presentes) que fazem com que a interpretação bíblica seja algo que exija tempo e dedicação. 

2. Não se esqueça de que existe uma diferença natural, espiritual e moral entre Deus e o homem - enquanto Deus é completamente eterno, nós somos mortais; Ele é santo e nós pecadores; Ele é justo e nós injustos.

3. Cada literatura possui um modo correto de ser lida. Um livro sobre Direito, por exemplo, não é lido de capa a capa, pois o objetivo é apenas dirimir alguma dúvida rápida sobre determinado assunto; então, apenas se abre o mesmo, procura-se a página e se lê o desejado. Não é assim com um livro de poesia, pois é altamente recomendado ler do começo ao fim da mesma, afinal, a poesia tem começo, meio e fim - se parar no "meio" será difícil retomar a leitura com uma boa lembrança do já lido. Assim também é com a Bíblia: um sistema interligado de doutrinas - não é possível apenas ler parte dela; é necessário constantemente lê-la por completo.

Cuidados ao se interpretar

1. Não alegorize o texto. Tome cuidado para não tentar buscar um suposto sentido mais espiritual e profundo no texto, sendo que ele não quer dizer nada daquilo. Um exemplo clássico é dizer que as cinco pedras que Davi pegou para matar o gigante Golias (1Sm 17.40) representavam o Senhor que era "Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz" (Is 9.6). Isto não é interpretar, mas sim afirmar uma coisa que o texto não diz e nem fornece bases para se especular.

2. Não utilize o método histórico crítico/liberal. Muitos tem caído nesta errônea interpretação e toda vez que leem uma passagem e ela não se encaixa com o racionalismo humano e não passa pelo crivo cientificista, então é de pronto rejeitada como sendo um mito ou erro de tradução. É o caso de quando se observa Moisés no Sinai e a narrativa que diz que as tábuas da Lei foram escritas pelo próprio dedo de Deus (Êx 31.18) - os que interpretam a partir deste método, afirmam que é impossível Deus ter escrito e que, na verdade, foi o próprio Moisés quem cunhou as palavras nas pedras.

3. Cuidado com a experiência pessoal. Não se deve interpretar a Bíblia baseado em suas próprias emoções e naquilo que você julga ter sido uma experiência com o Senhor. De fato o cristão muitas vezes passa por certas situações e Deus lhe ensina, todavia, tome todo o cuidado para que as Escrituras sejam o guia que validem (ou não) a sua experiência - nunca o contrário, isto é, não utilize a experiência pessoal para interpretar a Bíblia. Fazer este tipo de coisa seria como afirmar que porque um dia você orou por alguém e tempos depois a pessoa foi curada, então todos os milagres de Jesus - por exemplo - devem ser tidos como uma ordem para você curar todas as pessoas, sem exceção (e com quem isto não acontecer, é porque a pessoa não é devota ao Senhor).

4. Muita atenção com o hiper-literalismo. Aqui é preciso haver muito cuidado, pois a Bíblia não é somente a casca da letra, como dizia Charles H. Spurgeon. Quando for às Escrituras e ler que se alguém tiver a fé do tamanho de um grão de mostarda poderá transportar os montes (Mt 13.31; 1Co 13.2), não leia como sendo algo literal, pois já imaginou que confusão seria este mundo caso pudéssemos mudar as coisas de lugar? Entenda o sentido próprio do texto, ainda que muitíssimas vezes a literalidade seja preferível à alegorização.

O modo correto de se interpretar e ler a Bíblia

1. A Escritura é a base. Todo ensinamento para a vida do cristão provém tão somente da Escritura. Ninguém deve lê-la e não ter por certo de que ela é sua regra de fé e de conduta. Toda base para a interpretação deve ser fornecida pelas próprias doutrinas bíblicas - não pela psicologia ou ciência moderna.

2. Há somente um sentido pleno e verdadeiro. Todo versículo e texto, por mais obscuro que possa parecer a nós pecadores, possui apenas um sentido. Em outras palavras, pode até ser que o texto contemple certas sugestões de interpretações, contudo, elas não podem ser excludentes entre si. Um mesmo texto não pode afirmar a soberania de Deus e dizer que o homem controla e determina o que acontecerá; não pode afirmar que Judas possuía a chance de se arrepender e de que ao mesmo tempo não possuía. Isto precisa ser verdadeiro, pois uma vez que no Senhor não há sombra de variação (Tg 1.17), então a Bíblia não pode contemplar diferentes e opostas interpretações em si mesma.

3. Geralmente o sentido é obtido pela interpretação mais natural e imediata do texto. Isto significa dizer que muitas das vezes o próprio explicará ele mesmo e a sequência natural da narrativa nos fornecerá as respostas e apontamentos para a solução da aplicação.

4. Cristo é o começo, meio e fim da Bíblia. Sempre leia as Escrituras "procurando por Cristo". Ele está em todos os livros e sempre, de alguma maneira, é o fim de todo ele - "Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre! Amém" (Rm 11.36).

Resumindo:

1. Não pode haver contradição nas Escrituras: toda interpretação e doutrina extraída tem que necessariamente estar harmonizada com absolutamente todo o restante da Bíblia.

2. Pontos mais claros iluminam os mais escuros, quer dizer, toda vez que houver um texto de difícil compressão, se lembre de qual doutrina pode lançar luz sobre ele e ajudar na compreensão. Em um caso prático, quando lemos que Jesus "No qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão" (1Pe 3.19), tenha em mente que Deus é soberano, Jesus é infinitamente maior que Satanás, não há chance para um segundo arrependimento e que Cristo triunfou sobre a morte - com estas "luzes" ficará um pouco mais fácil buscar a possível interpretação. Em outras palavras, você deve ir ao texto com os pressupostos corretos.

3. Analogia da fé: isto é diferente de alegorizar o texto. A analogia da fé consiste em olhar para o Egito, por exemplo, e ver que nele estava prefigurado a escravidão do homem ao pecado e a impossibilidade de se libertar dele. A nuvem que se interpôs entre os israelitas e os egípcios, como representando a providência de Deus em fornecer ao Seu povo tempo suficiente para ir adiante e conseguir escapar do exército contrário. O mar vermelho, neste sentido, representando nosso Senhor e Salvador, cujo caminho nos leva à terra prometida e faz com que os inimigos seja mortos antes mesmos de nos alcançarem.

Ainda que exposto de modo sucinto, espero ter ajudado.

Um comentário:

  1. BOM DIA ! A PRINCIPIO GOSTEI DO QUE LI,PORÉM VOU RELER COM MAIS CALMA E SE JULGAR DIFERENTE DAQUILO QUE CREIO, ENVIAREI A CONTESTAÇÃO ! QUE A PAZ QUE EXCEDE A TODO ENTENDIMENTO SEJA SOBRE TODOS !

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