segunda-feira, 18 de junho de 2012

Série: Homem e Mulher os criou - parte 12 - Homem e Mulher no Jardim - A Expulsão do Jardim e Sua Consequência - Sermão pregado dia 17.06.2012



Série: Homem e Mulher os criou - parte 12 -
Homem e Mulher no Jardim - A Expulsão do Jardim e Sua Consequência
Sermão pregado dia 17.06.2012


Este estudo bíblico que tivemos foi gravado em vídeo - clique no link para assistir: http://twitcam.livestream.com/ahsla

Tendo uma vez recebidos a sentença condenatória, Adão e Eva não podiam mais realizar coisa alguma - a justa punição de Deus havia se estabelecido sobre eles. Observamos que o último ato de Adão foi um ato quase que de misericórdia própria, pois não intentou fuga ou desejou morrer, e sim se consolou dando o nome que denota "vida" para sua esposa e, assim, recebendo alento em meio a miséria que agora os cercava. Todavia, como já nos é sabido, apesar do Senhor não ter eliminado suas vidas para sempre, também não permitiu que o casal ficasse com sua primeira tentativa de remediar o pecado - para isso, então, o Senhor lhes proveu novas vestimentas: "E fez o SENHOR Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu" (Gn 3.21).

Diferentemente das folhas de figueira que anteriormente haviam cosido para si mesmos (Gn 3.7), agora o Senhor lhes reveste com uma cobertura de acordo com o estado pecaminoso, mas que também os livrasse dos impropérios da vida do pecado e prefigurasse a semente da mulher que esmagaria a serpente (Gn 3.15). O puritano Matthew Henry comenta:

"Quando Deus fez roupas para nossos primeiros pais, Ele as fez quentes e fortes, mas grosseiras e muito simples; não mantos de escarlate, mas casacos de pele. Que aqueles que são pobremente vestidos, aprendam daqui para não reclamar. Tendo alimento e uma cobertura, que estejam contentes, pois estão como Adão e Eva. E que os que estão finamente vestidos, que aprendam a não fazer do vestuário o seu adorno. Os animais, de cujas peles eles foram vestidos, o que se supõe que foram mortos, não para o alimento do homem, mas para sacrifício, a fim de tipificar a Cristo, o grande Sacrifício. Adão e Eva fizeram para si aventais de folhas de figueira, uma cobertura muito estreita para os cobrir, como em Isaías 28.20 - tais são os trapos de nossa própria justiça. Mas Deus fez  túnicas de pele, grandes, fortes, duráveis e aptas para eles: esta é a justiça de Cristo, portanto, os revestiu do Senhor Jesus Cristo." [1]

Entretanto, não foi apenas em sentido positivo que as roupas foram dadas, mas também para exemplificar a miséria em que homem e mulher se encontravam. Assim comentou o reformador João Calvino:

"A razão porque o Senhor os vestiu com roupas de pele, parece-me ser essa:  porque as roupas feitas desse material teriam aparência mais degradante do que as feitas de linho ou lã. Deus, portanto, designou que nossos primeiros pais carregassem em seu vestir a sua própria vileza - da mesma forma como haviam visto anteriormente a sua nudez - e deveriam, portanto, serem relembrados de seu pecado. Entretanto, não é para ser negado que Ele propôs para nós um exemplo, pelo qual nos habituou a um simples e não luxuoso modo de vestir. E eu desejo que pessoas sensíveis reflitam nisso, que pensam que os ornamentos nunca são suficientes, exceto se excederem em magnificência. Não que todo tipo de ornamento seja expressamente condenado, mas porque quando a elegância e esplendor imoderados são buscados, não somente o Mestre é desprezado - aquele que destinou as roupas para serem um sinal de vergonha -, mas a luta é, também, em certo sentido, realizada contra a natureza [estabelecida por Deus]." [2]

Há ainda um terceiro sentido dessa passagem, mas o veremos posteriormente. [3]

O relato segue-nos dizendo: "Então disse o SENHOR Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal;" (Gn 3.22). A forma como Deus se expressara para Adão e Eva, em certo sentido parece-nos ser na forma de uma ironia divina; não a ironia na forma comumente entendida pelos homens, mas sim  um expressar divino, como que dizendo: "O homem intentou ser como Deus, desejou conhecer o bem e o mal e ser dono de suas próprias escolhas - então, já que desejou conhecer o bem e o mal, agora será destinado ao fim que desejou: conhecerá verdadeiramente o mal. Se antes desobedecera Minha ordem e desejara vislumbrar o mal, agora o poremos num lugar que reflete esse seu desejo." Esse entendimento é corroborado com a continuação do versículo que diz: "ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente, O SENHOR Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado" (Gn 3.22-23)

Aqui, a não ser que alguém seja tão perverso e destituído das faculdades mais simples do homem regenerado, penso que todos entenderão que o Senhor cancelou, de uma vez por todas, o acesso do homem à árvore da vida. Agora, por causa do pecado, de modo algum o homem pode encontrar a árvore da vida, dela se alimentar e possuir a vida eterna. Assim como um homem que tem sua visão plena em um dia, mas no dia seguinte é acometido de grandes trevas diante de si, de igual modo homem e mulher estavam privados de achar àquela doce e agradável árvore da vida. Nunca mais o homem poderia ter a salvação, nem sob o mais sublime e clemente desejo do coração o homem poderia alçar voo e voltar por si só ao relacionamento com o Senhor. O autor de Eclesiastes compreendeu muito bem esse ensino: "Eis aqui, o que tão-somente achei: que Deus fez ao homem reto, porém eles buscaram muitas astúcias" (Ec 7.29). Isto é, embora Adão tenha sido criado em completa pureza, buscou meios contrários ao Senhor e, por isso, agora estava privado para todo o sempre do pacto de obras, pois já não podia o cumprir - dependeria apenas da graça do Senhor.

Portanto, chamo a atenção de todo leitor e questiono: que é esse o ensinamento, então, senão como que mil sóis juntos a iluminar-nos a compreensão e nos bradar em alta voz: "Homem, não tens livre arbítrio (Rm 9.15-16)! Tu estás morto em delitos e pecados (Cl 2.13)! A árvore da vida não é mais possível para ti (Gn 3.22-23)! Te resta apenas a graça de Deus (Ef 2.8)! Abandone teu querer e renuncie tuas pretensões (Gl 2.20)! Se renda a Cristo (1Pe 5.6)!"? Penso que nenhum homem sincero, após atentar para esse capítulo das Escrituras, pode continuar com suas vãs pretensões e ainda crer que seja livre para ir até Cristo; pois o que seria mais claro do que a própria voz do Senhor ressoando sobre toda a terra e condenando Adão e Eva e toda sua posterioridade?

No tocante a esse ensino bíblico, é ainda preciso salientar que em hipótese alguma o Senhor foi injusto com Adão e Eva, pois assim havia sido estabelecido o pacto de obras: "E ordenou o SENHOR Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás" (Gn 2.16-17 - grifo meu). A ordem era clara: se comessem do que o Senhor ordenou, teriam vida; se violassem o preceito, haveria morte. Portanto, a privação de chegarem à árvore da vida nada mais foi do que parte da justa condenação do Eterno, pois haja vista que Ele não pode mudar (Ml 3.6) e nem sofrer sombra de variação (Tg 1.17), era preciso que executasse a sentença condenatória sobre Adão e Eva - Deus é amor, mas também é justiça.

Porém, pelas graças sem medida que têm sido derramadas desde a eternidade, o Senhor não jogou o homem no inferno ou o torturou para todo o sempre. Sobre a sentença, "O SENHOR Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado", novamente as palavras piedosas de Matthew Henry nos são uteis: "Deus lançou o homem para fora, disse que ele não deveria mais ocupar e se aproveitar do jardim: mas o homem gostava do lugar e não estava disposto a deixá-lo, portanto, Deus o fez sair. Isso significou o desligamento para com Ele e toda a sua raça [de Adão] da comunhão com Deus, que era a felicidade e glória do paraíso. Mas o homem somente foi enviado para lavrar a terra de que fora tomado. Ele foi enviado a um lugar de trabalho, e não um lugar de tormento." [4]

Neste ponto, se demonstra de maneira ímpar a bondade do Senhor, pois, embora homem e mulher pudessem e devessem(!) ser condenados ao tormento eterno - e se assim Deus procedesse estaria sendo completamente justo -, aprouve ao Artífice abundar em misericórdia para com o homem vil e pecador, sendo, portanto, absolutamente necessário que levemos cativo em nossos corações o grande ensino divino: "As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim" (Lm 3.22).

Por fim, para que nenhum homem intentasse - apesar de já ser de uma clarividência solar - que mesmo após a queda ele pode ir até Cristo apenas por seu desejo e querer, temos ainda registrado: "E havendo lançado fora o homem, pôs querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida" (Gn 3.24). Essa sentença escriturística nos salta aos olhos e ecoa em nossa mente, de modo que ficamos atônicos e "paralisados" diante da ruína espiritual em que nossos primeiros pais se encontraram e também nós agora estamos.

Conforme descreveu Henry, o Senhor precisou lançar "fora o homem" do jardim, pois se tão somente "pedisse gentilmente" que ele se retirasse, além de estar se submetendo à soberania humana (o que só de imaginar já é horroroso), também estar pedindo algo completamente impossível para o homem, afinal, qual de nós trocaria um jardim glorioso por um país de guerra e um lugar onde a santidade habitava, por um território hostil e dificultoso? Também nos espanta e causa-nos um medo santo, pois não somente o homem foi lançado para fora, mas também a entrada para o jardim foi fechada - não por um simples mortal, mas pelo Senhor do Exércitos e por "querubins".

Que pode um homem fazer contra o Senhor de toda terra? Como pode um homem de carne e osso querer desafiar um ser celestial, cujo calor da espada flamejante já nos põe em fuga? Nessa grande e preciosa narrativa da queda do homem, visualizamos de modo especial qual é a situação do homem diante do Senhor: completamente incapaz de realizar coisa alguma. O caminho da vida é guardado pelo Senhor, por Sua espada e por Seus querubins. Isto nos ensina o grandioso cuidado que devemos ter em afirmar que desejamos, por nossa suposta autonomia, nos achegarmos ao trono do Altíssimo. Há um Deus amoro que cuidou e ainda cuida do homem, mas Ele também é irado - "Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus" (Rm 11.22).

O leitor que recordar de toda a beleza que anteriormente havia e a ruína que agora há, penso que se considerar diligentemente o favor de Deus no cuidado do homem, de modo algum desejará acrescentar ou diminuir qualquer palavra das Escrituras (Dt 12.32), intentará afirmar que ainda possui algo de bom (Rm 3.23), mas sim dobrará seus joelhos e com lágrimas nos olhos agradecerá ao Senhor, "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8).

Ao contemplar a malignidade em que esse mundo se encontra, olhe para Cristo e Sua cruz que levou os pecados de todos os Seus filhos. Não deseje conquistar sua própria salvação, justificação, regeneração, santificação... "Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo" (Fp 1.6). Reconheçamos que a partir da expulsão do Éden, precisamos tão somente nos pautar pelas Escrituras, porque já não conversamos face a face com o Senhor, pois o pecado fez separação entre Deus e o homem (Ef 2.14). Se confiamos que o Senhor é misericordioso e grandemente benigno para conosco, então, apesar de muitas coisas nos serem difíceis de aceitar, oremos para que o Senhor nos conceda graça e nos permita compreender a aplicar Sua palavra, de modo que não ultrajemos os Seus preceitos e nem tentamos avançar contra seus querubins e Sua espada flamígera que está irada contra o pecado.

Olhemos, portanto, como deve ser a vida - após o pecado - em alguns aspectos específicos. [5]

Notas:
[1] HENRY, Matthew. Concise Commentary on Genesis (disponível na internet) - tradução livre.
[2] CALVIN, John. Commentaries on Genesis, Baker Books, págs. 181-182 - tradução livre.
[3] Mais adiante veremos o padrão de modéstia (no vestir-se) que o Senhor estabeleceu para o homem e mulher.
[4] HENRY, Op. Cit. - tradução livre.
[5] Já consideramos o papel do homem e da mulher na família, por isso não nos deteremos novamente nele.

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