quarta-feira, 30 de maio de 2012

A Completa e Suficiente Revelação de Sua Vontade


A pior coisa que os homens podem fazer é tirar-nos esta vida, a qual não podemos manter por muito tempo, mesmo que o mundo todo nos incite a pouparmos a nossa própria vida. Se nos recusarmos a oferecê-la a Deus quando Ele a requer em defesa da Sua honra, Ele pode tomá-la de nós de outra forma; como no caso da pessoa que não se dispôs a ser queimada por Cristo, mas depois foi queimada num incêndio acidental em sua casa.

As Escrituras dizem que a bondade e a severidade de Deus estão em harmonia, não se contradizem. A Sua severidade com Uzá é proporcional a violação de Uzá daquele padrão da bondade de Deus. Deus não pode pisar na Sua própria santidade. E Ele não permite que outros façam isso sem punição. Em última instância isso é o que a verdadeira justiça quer dizer: É perfeita a exigência de Deus de absolutamente aplicar tudo que é santo por meio de sua reta e justa punição sobre tudo que se opõe a Sua soberania e justiça...

A morte de Uzá também nos relembra que somos chamados a estar completamente satisfeitos com a obediência direta e prática à Palavra de Deus. E temos de resistir, temos de ser fortes. Isso é difícil, pois somos sempre tentados a acrescentar coisas à Palavra de Deus ou de subtrair...

A nossa resposta apropriada deve ser ficar dentro do que foi estabelecido por Deus e com um coração alegre. Nós jamais devemos inventar regras extras, ou atos de santidade que Deus nunca determinou e nem inventar evasivas e modificações para sairmos daquilo que Ele ordenou em linguagem clara e simples que fizéssemos. Deus nos deu a completa e suficiente revelação de Sua vontade e proibiu expressamente que adicionássemos ou subtraíssemos qualquer coisas da Sua Palavra...

Quem pode negar que somos presunçosamente propensos a tentar melhorar os métodos de Deus? Nós somos tendentes a construir nosso próprio carro. Fazer nosso próprio tipo de transporte. Até podemos chamar a isso de “criatividade” e insistir que isso honra a Deus. Pense nos “carros-de-boi” que foram construídos para o louvor, comunhão, doutrina, evangelismo, criações certas denominacionais, até mesmo tipos de pastor, liderança e membros! Quão facilmente vestimos nossas próprias idéias e maneiras com um manual travestido de autoridade divina e acabamos ensinando preceitos de homens como se fossem doutrina de Deus. Jesus disse: “Em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens” (Mc 7:7). 

Por Rev. Aaron Flemming

A Vida Cristã Deve ser Ativa - “Na diligência, não sejais remissos” – (Rm 12.11)


Paulo diz: “Na diligência, não sejais remissos” – (Rm 12.11) – Este preceito nos é comunicado não só porque a vida cristã deve ser ativa, mas também porque é próprio que às vezes desconsideremos nossas próprias vantagens e dediquemos nossos labores em prol de nossos irmãos; e nem sempre em prol daqueles que são bons, mas também em prol daqueles que se nos revelam ingratos e indignos. Em resumo, visto que devemos esquecer de nós mesmos na execução de muitos de nossos deveres, jamais estaremos adequadamente preparados para a obediência a Cristo, a menos que instemos conosco mesmos, esforçando-nos diligentemente por desprender-nos de toda a nossa indolência.

Ao acrescentar “fervoroso de espírito”, ele nos mostra como devemos firmar-nos ao preceito anterior. Nossa carne, à semelhança dos asnos, é perenemente indolente, e por isso carecemos de ser esporeados. Não há outro corretivo mais eficaz para nossa indolência do que o fervor do espírito. Portanto, a diligência em fazer o bem requer aquele zelo que o Espírito de Deus acendeu um nossos corações. Por que, pois, diria alguém, Paulo nos exorta a cultivar este fervor? Eis minha resposta: embora este zelo seja um do divino, estes deveres são destinados aos crentes a fim de que destruam sua indiferença e fomentem aquela chama que Deus lhes acendeu. Pois geralmente sucede que, ou abafamos, ou mesmos extinguimos o Espírito em razão de nossas próprias mazelas.

O terceiro conselho, “servindo ao tempo”, tem a mesma referência. Visto que o curso de nossa vida é por demais breve, nossa chance de fazer o bem tão logo passa. Devemos, pois, ser mais solícitos na realização de nossos deveres. Assim, Paulo, em outra passagem, nos convida a “remir o tempo”, visto que os dias são maus (Ef 5.16). O significado pode ser também que devemos saber como administrar nosso tempo, porquanto há grande necessidade de assim fazermos. Não obstante, Paulo, creio eu, está contrastando seu preceito entre servir o tempo e (servir) o ócio. A tradução em muitos manuscritos antigos é (kvpíw) – Hesito em rejeitar esta tradução completamente, embora à primeira vista não pareça relacionar-se ao contexto. Contudo, se ela é aceitável, creio que Paulo desejava relacionar o culto divino com os deveres que desempenhamos em favor de nossos irmãos e tudo quanto serve para fortalecer o amor, a fim de transmitir maior encorajamento aos crentes.

Por João Calvino

terça-feira, 29 de maio de 2012

Efésios 1.13 - Também Somos Glória do Senhor (parte 1) - Andando Como Ele - Exposição em Efésios - Sermão pregado dia 27.05.201



Efésios 1.13 - Também Somos Glória do Senhor (parte 1) -
Andando Como Ele -
Exposição em Efésios - 
Sermão pregado dia 27.05.201


"Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa" (Ef 1.13 - grifo meu).

Visto que anteriormente o apóstolo proclamou à igreja de Éfeso sobre a importância que os judeus tinham para a vida e proclamação do reino de Deus, de modo que eles eram a glória primeira do Senhor, agora passa a lhes expor a bendita e grata felicidade de que, não obstante todo o tempo de escuridão e trevas de pecado e ignorância que viveram durante tanto tempo, aprouve ao Eterno lhes salvar e também incluí-los no pacto da graça e misericórdia divina. Paulo lhes acentua sobre a importância de reconhecerem que, embora os judeus sejam a glória do Senhor, eles também for enxertados na oliveira brava. O apóstolo Pedro também asseverou essa questão, a saber, de que o Altíssimo não levou em conta todos os séculos e milênios de ignorância em que em os povos gentios haviam vivido: "Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios, e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo; Como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância" (1Pe 1.13-14). Assim como estes "estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia" (1Pe 1.1), também àqueles foram agraciados pela mão bondosa do Senhor, cuja benevolência lhes mostrou "o mistério da sua vontade" (Ef 1.9).

A apóstolo inicia sua declaração aos gentios de Éfeso ao lhes falar sobre a importância de não terem os judeus acima da estima determinada por Cristo e Sua equidade (justiça), pois Ele não se restringiu somente ao povo judeu, pois agora lhes alcançou a mão poderosa de Sua graça e os fez também serem a glória do Seu nome. Isso nos ensina que, se antes havia uma separação entre as etnias (ainda que "nem todos os que são de Israel são israelitas" (Rm 9.6)), agora aprouve ao Senhor reunir os povos e os fazer congregar sob Sua bandeira e cetro celestial, pois, como visto anteriormente, a prisão preventiva do Diabo foi decretada e agora os gentios podem experimentar a boa dádiva dos céus.

Contudo, nos é importante notar que o Senhor, por meio de Paulo, não prescreve aos gentios e lhes diz que somente a morte de Cristo é o que os fez salvos. Explico: a mera morte e ressurreição do Messias não aplicava automaticamente o perdão dos pecados, a regeneração e a vida eterna na vida de todos os gentios - era necessário algo mais. Esse "mais" é claramente compreendido - conforme já notamos - a partir do segundo ide dos discípulos de Jesus (Mt 28), onde eles são exortados e ordenado a irem não mais apenas aos arraiais judeus, mas sim que se espalhassem por sobre a terra e levassem a mensagem do evangelho - então lemos: "depois que ouvistes a palavra da verdade". 

Paulo fala dessa clarividente verdade aos romanos, quando lhes explica, em outras palavras, por qual modo o Senhor opera a fé é no coração dos homens: "De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus" (Rm 10.17). O apóstolo, tanto para a igreja de Éfeso quanto para a de Roma, era inclinado a lhes persuadir sobre a necessidade de reconhecerem que somente foram salvos porque ouviram a palavra da verdade. De modo belo e magnífico, somos ensinados ainda hoje acerca dessa rica verdade, ou seja, que não há homem, mulher, jovem ou idoso que possa ser transformado pelo Senhor, a não ser pela Sua palavra da verdade. 

Mas, o que é a palavra da verdade? O próprio Cristo, em Sua oração ao Pai, nos dá a resposta: "Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade" (Jo 17.17) [1]. Em tempos anteriores o salmista também escrevia essa suprema declaração: "A tua palavra é a verdade desde o princípio, e cada um dos teus juízos dura para sempre" (Sl 119.160). Somente a palavra do Senhor pode e deve ser a única verdade. Ao contrário do que os filósofos desejam nos incutir, não há múltiplas verdades, como é asseverado em outro lugar: "sempre seja Deus verdadeiro, e todo o homem mentiroso" (Rm 3.4). Ainda que muitos tentem nos persuadir sobre as técnicas de crescimento de igreja, manuais para santificação (exterior) e regras de aconselhamento baseados na psicologia mundana, os cristãos podem e devem sempre estar firmes na presença do Santo Senhor e Governante de Suas vidas, pois enquanto Deuteronômio 4.2 e 2Tm 3.16-17 estiverem em nossas Bíblias, de modo algum poderemos acrescer ou diminuir qualquer ensino das Escrituras, pois toda ela nos é plenamente inspirada, restando-nos assim nada a consultar no mundanismo, humanismo, relativismo e misticismo, quer sejam travestidos ou não de pseudo-piedade-religiosa-cristã.

O apóstolo ainda deseja deixar bastante claro os irmãos de Éfeso sobre a importância de não apenas reconhecerem a palavra de Deus como sendo "a melhor de todas", e sim sobre a salutar tarefa de compreenderem que ela é a única que pode lhes livrar da tormenta e ira divina. Ao escrever aos irmãos de Corinto, lhes afirma: "Assim que, quanto ao comer das coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que o ídolo nada é no mundo, e que não há outro Deus, senão um só" (1Co 8.4). Ou seja, não é adequado apenas o reconhecimento do Senhor como "o melhor salvador", deve-se também repudiar todos os outros "deuses" e qualquer outra religião, por mais caridosa e moralmente piedosa que possa ser. É assim que o salmista retrata tais supostos deuses: "Os ídolos deles são prata e ouro, obra das mãos dos homens. Têm boca, mas não falam; olhos têm, mas não vêem. Têm ouvidos, mas não ouvem; narizes têm, mas não cheiram. Têm mãos, mas não apalpam; pés têm, mas não andam; nem som algum sai da sua garganta" (Sl 115.4-7). É nesse prisma, portanto, que o apóstolo afirma: "depois que ouvistes... o evangelho da vossa salvação" (grifo meu). 

No entanto, para que ninguém compreendesse erroneamente tal doutrina e, talvez, começasse a afirmar que o mero pregar da palavra já era o fim em si mesmo, o apóstolo prossegue sua explanação e diz: "e, tendo nele também crido". Aqui, de modo sublime e glorioso, temos a ordenança de pregar o evangelho, mas também a importância vital de se reconhecer o estado lastimável em que se encontra e, finalmente, então crer no Senhor Jesus Cristo. A mensagem bíblica nunca foi apenas um chamado ao arrependimento, mas também a proclamação da verdade e da necessidade do coração passar a ser devoto do Senhor, pois assim lemos: "Arrependei-vos, e crede no evangelho" (Mc 1.15; At 3.19). É necessário que todo homem e mulher entenda a grandiosa tarefa que tem diante do Senhor, isto é, o olhar para a Lei de Deus, reconhecer sua condição lastimável e, então, compreender quem é Cristo Jesus e Sua obra vicária.

Observemos nesse ponto, ainda outra ênfase importante: "e, tendo nele também crido" (grifo meu). Crer no evangelho significa crer em Jesus Cristo, em Sua Lei e obra da cruz. Está fora de cogitação toda e qualquer aliança ou desvirtuação que se deseje fazer para com a associação indissolúvel do evangelho e pessoa de Cristo Jesus. "Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou" (1Jo 2.6). Nesse conhecido, mas infelizmente ignorado versículo, temos uma declaração por demais importante para todos os crentes, isto é, de que devemos viver exatamente como Cristo andou. Porém, muitos são os que têm apenas uma ideia genérica do que vem a ser isso, portanto, verifiquemos alguns quesitos e aplicações para se andar conforme o Mestre e então ser participante de Sua glória como gentios.

1. Odeie o pecado.

Não pense, sob nenhuma circunstância ou vã desculpa, que você pode amar o pecado. O profeta Oséias nos declara: "Chegarão os dias da punição, chegarão os dias da retribuição; Israel o saberá; o profeta é um insensato, o homem de espírito é um louco; por causa da abundância da tua iniqüidade também haverá grande ódio" (Os 9.7). Tiago também é certeiro ao proclamar: "Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus" (Tg 4.4). Não há cristão no mundo que possa sustentar uma fé devota, sem ao menos buscar odiar o pecado. Como já disse acertadamente certo homem do Senhor, ‎"Enquanto o pecado não for amargo, Cristo não será doce". [2] Cristo, como não poderia ser diferente, odiava profundamente o pecado. Olhe para suas respostas aos fariseus e veja como tratou o próprio Diabo quando foi tentado - nunca houve trégua, Ele jamais suavizou Sua mensagem. Paulo deixou registrado: "Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis" (1Co 9.24). A luta contra o pecado é também uma corrida, pois enquanto não cruzarmos a linha de chegada (a morte física ou sermos levados pelo Senhor em Sua vinda gloriosa), o pecado constantemente nos baterá à porta e desejará tomar conta de nossos corações. Por isso é necessário que todo o crente busque odiar profundamente o pecado, afinal, ele foi a causa de nosso Senhor ter morrido na cruz em favor de todos os pecados de todos os Seus eleitos.

2. Observe e busque praticar a Lei do Senhor.

Andar como Ele andou não implica em simplesmente seguir os seus passos físicos, pois tais passos eram acompanhados do mais profundo zelo pela Lei do Senhor. Isto é confirmado por Ele mesmo, quando diz: "E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos Salmos" (Lc 24.44). Sendo o Messias a própria personificação da Lei do Senhor e, sendo Ele ativo no Antigo Testamento por meio das sombras que haveriam de vir, de modo algum poderia ter vindo ao mundo e rejeitado a Lei que representava Ele mesmo! Se Cristo tivesse despojado a Lei e a feito inútil no Novo Testamento, certamente que não estaríamos mais sob Sua tutela (pois teria sido revogada), contudo, aprouve ao Senhor que viesse e cumprisse a Lei em nosso lugar. Notemos, portanto, que a palavra cumprir é por demais diferente da palavra abolir, ensinando-nos que Cristo veio a ser a ovelha mansa que morreu sem abrir a boca  (At 8.32), para que por Ele pudéssemos ter a vida eterna, haja vista ser necessário que alguém pagasse pelos pecados dos escolhidos do Senhor e que estavam mortos em delitos e ofensas (Ef 2) e que no dia da Sua visitação haveriam de ser resgatados pelo Eterno.

A própria Bíblia nos ensina outra vez que a Lei nos leva até Cristo, conforme claramente lemos: "De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados" (Gl 3.24). Assim, se alguém busca andar como Ele andou, mas se esquece da Lei do Antigo Testamento (e do Novo) e negligencia-a por completo (com a clara intenção de não as obedecer), certamente está andando por veredas inverídicas e que, salvo pela graça e misericórdia de Deus (louvado seja o Senhor!) que mudará o curso de tal conduta pecaminosa, tal pessoa perecerá, pois pensando que anda pelo caminho estreito, na verdade a porta larga é o que lhe espera. A Lei, portanto, precisa nos castigar e nos fulminar primeiramente, para então nos vermos completamente desprovidos de meios para se achegar ao Senhor e, por fim, clamarmos: "Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo" (Mt 8.2).

3. Nunca esteja satisfeito com sua condição espiritual.

Apesar de toda santidade, justiça, verdade e completa retidão que Jesus Cristo possuía na terra, as narrativas parecem querer nos ensinar sobre a importância de jamais nos darmos por satisfeitos em relação ao nosso viver em Cristo. Como semelhante a homem que havia se tornado (Hb 2.17), também padecia de fome, tristeza e cansaço que se abatia sobre seu ser. Entretanto, apesar de ser homem e também Deus, jamais fez pouco caso de sua humanidade, ao contrário, subjugou seu corpo e constantemente buscou estar junto de Seu Pai: "E, levantando-se de manhã, muito cedo, fazendo ainda escuro, saiu, e foi para um lugar deserto, e ali orava" (Mc 1.35). A Bíblia não relata-nos a que horas Jesus saiu, mas algo era certo: "fazendo ainda escuro". E para que nenhum aviltador da Palavra supostamente pensasse que anteriormente Jesus havia tido um dia "tranquilo", Marcos registrou: "E, tendo chegado a tarde, quando já se estava pondo o sol, trouxeram-lhe todos os que se achavam enfermos, e os endemoninhados. E toda a cidade se ajuntou à porta. E curou muitos que se achavam enfermos de diversas enfermidades, e expulsou muitos demônios" (Mc 1.32-34). Após um dia de grandes trabalhos em prol do Reino dos céus, não obstante ao Seu estupendo e certíssimo cansaço que sentida, levantou-se pela manhã "e ali orava".

Amados irmãos, precisamos aprender a andar como nosso bom Mestre andou. Não basta-nos ser levemente inclinados para a salvação, precisamos também reconhecer nosso contínuo estado pecaminoso, buscarmos arduamente e diariamente a comunhão com o Senhor, de modo que possamos aplicar as palavras da verdade que dizem: "Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, o afeição desordenada, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria; Pelas quais coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência; Nas quais, também, em outro tempo andastes, quando vivíeis nelas" (Cl 3.5-7). Mas por que deveríamos agir assim? "pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos, E vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou" (Cl 3.9-10).

Por fim, precisamos fazer uma ressalva e acalentar os corações desesperados. Olhemos para a galeria da fé (Hb 11) e notemos algo de suma importância: todos foram salvos pela fé em Cristo Jesus, não por "obras, para que ninguém se glorie" (Ef 2.9). O intento de toda a Lei, todos os mandamentos, todos os registros e ordenanças que nos são dados, são num primeiro tempo para que vejamos nossa completa incapacidade de os cumprir e, num segundo momento, para que nos desesperemos ante tal incapacidade e recorramos ao Senhor. Tiago nos diz sobre a forma correta de nos achegarmos ao Senhor e clamarmos a Ele: "Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; porque o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento, e lançada de uma para outra parte" (Tg 1.6).

Mas, sobre o que Tiago está falando? Isto é, sobre o que devemos pedir? Ele nos responde no versículo anterior: "E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada" (Tg 1.5). Isto é, embora tenhamos uma centena de miríades de dificuldades para seguir a Lei, alias, não conseguimos cumpri-la e nem muito menos aplicá-la no modo como Cristo o fez, o Senhor que é mui compassivo e longânimo para conosco, agracia-nos com sua misericórdia e amor paternal. O apóstolo Pedro expressou maravilhosamente esse fato: "O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se" (2Pe 3.9).

Que hoje, mais uma vez, possamos reconhecer a bondade do Senhor, conforme lemos: "Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas para contigo, benignidade, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira também tu serás cortado" (Rm 11.22). Apesar da malignidade de nosso coração e atitudes pecaminosas, aprouve ao Senhor salvar os Seus em tempo oportuno. Portanto, não negligenciemos tão grande salvação e nos apeguemos ao Filho do Altíssimo, pois também, nós gentios, fomos feitos partícipes da glória do Senhor, de modo que conjuntamente com os judeus salvos podemos adorar ao Senhor, pois assim como a mulher samaritana, os cristãos de Éfeso ouviram e foram agraciados com a divina visita.

"Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8).

Nota:
[1] Já preguei sobre isso - clique aqui para ler.
[2] Thomas Watson (1620-1686).

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Série: Homem e Mulher os criou - parte 10 - Homem e Mulher no Jardim - A Queda (O Pecado do Homem) - Sermão pregado dia 27.05.2012




Série: Homem e Mulher os criou - parte 10 - 
Homem e Mulher no Jardim - A Queda (O Pecado do Homem)
Sermão pregado dia 27.05.2012

Como temos notado, é imprescindível que levemos sempre cativo as áureas palavras de Paulo: "Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra" (2Tm 3.16-17). Tal declaração divina insta-nos constantemente de que a toda a Escritura, isto é, a Bíblia Sagrada, é útil e proveitosa para nosso conhecimento, mas não somente isso, que somente nela se encontra o verdadeiro ensino para a piedade e compreensão de toda a vida - desde o homem e a mulher, até o governo civil e a modéstia no vestir-se.

Como observamos anteriormente, à luz da beleza criadora do Senhor - antes da queda - tudo era maravilhoso, formoso e agradável aos homens e à toda criação do Senhor. Cada espaço do Éden, cada partícula que se movia em meio ao ar, tudo, absolutamente tudo era por demais fascinante, belo aos olhos e sem qualquer deformidade. Contudo, por algum motivo que não nos compete determinar, o Senhor, em Sua excelsa soberania, teve por bem que a Queda ocorresse. Mas, como não é saudável, nem muito menos recomendável o ir além das Escrituras, continuemos a analisar os fatos no que tangem à responsabilidade humana durante esse processo.

Após visualizarmos a queda da mulher, entremos agora na questão de como o homem contribuiu para a queda e relacionemos esse fato com a atitude da mulher. 

"... e deu também a seu marido, e ele comeu com ela... E ouviram a voz do SENHOR Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do SENHOR Deus, entre as árvores do jardim. E chamou o SENHOR Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás?" (Gn 3.6, 8-9).

Talvez você já tenha lido tal narrativa um sem número de vezes, mas, humildemente penso que a condição para muitos leitores estarem ainda abaixo daquilo que a Palavra descreve, é o fato de apesar de muitos já terem lido tal descrição narrativa e doutrinária, poucos são os que se aperceberam de que embora Eva tenha caído primeiro, Adão é quem foi chamado para prestar as contas. Infelizmente, poucas são as vezes que encontramos cristãos cônscios dessa grande verdade, isto é, de que o homem - como penso já ter explanado de forma sucinta, mas direta - é responsável pelo cuidado e manutenção de seu lar espiritual. Raros são os momentos em que os professos masculinos da fé cristã, como convém aos homens de Deus, lembram-se de que são pequenos sacerdotes, isto é, pastores em seus lares.

Para compreendermos como ocorreu a queda do homem, se faz necessário que recordemos do que já vimos, ou seja, de que o homem é também responsável - em certa maneira - pelo bem-estar espiritual de sua casa e, por que não, de sua esposa e filhos. Por ter tal responsabilidade sobre si, assim como Moisés tinha sobre o povo de Israel (personificando o cuidado de Cristo para com Sua Igreja), era-lhe necessário entender que sua amável e honorável esposa não podia ser deixada "livre" - havia uma ordem e ele precisava obedecê-la. 

Notemos 4 falhas (pecados) de Adão:

Em primeiro lugar, Adão falhou em estar junto de sua esposa. A Bíblia não nos relata a que distância Adão estava de Eva enquanto ela era tentada pela serpente. Contudo, embora seja certo que não tenhamos tal descrição precisa da distancia - se é que havia alguma -, uma coisa podemos aferir: ainda que estivesse próximo, de coração estava longe. Em segundo lugar, Adão falhou, em algum momento, no alertar de Eva. Pela narrativa se percebe que Adão devia estar relativamente perto de Eva, pois tão logo comeu, "deu também a seu marido". O homem e cabeça do lar, falhou no alerta. Em terceiro lugar, Adão presenciou a queda e ruína de sua esposa, mas como que não satisfeito com sua omissão, experimentou também do pecado. Apesar de a desgraça ter batido à porta e ter achado espaço no coração da mulher, também fez com que o homem fosse omisso para com seu dever de agir. Em quarto lugar, após a queda, em vez de reconhecer seu erro e achegar-se diante do Senhor, fugiu e não cumpriu com sua responsabilidade de apresentar-se a si mesmo e sua esposa diante do justo juiz.

Tal relato bíblico deseja ensinar-nos sobre a importância do homem na relação conjugal. Não foi sem razão que Adão foi criado por primeiro; não foi obra do "acaso" a chegada da mulher na relação; não foi inutilmente que o Senhor havia designado o homem para ser o guardador e mantenedor de Sua criação (Gn 2.15). Notemos, portanto, algumas aplicações do presente relato para nossas vidas:

1. O mandamento do Senhor é irrevogável. 

Como comumente se diz, os mandamentos do Senhor não estão postos para serem questionados, mas sim para serem cumpridos. Adão, como bom portador da imagem celestial e plenamente capaz em relação a suas peculiaridades facultativas - pois podia escolher em fazer ou não o bem - tinha somente o dever (e isso lhe era prazeroso!) de obedecer ao Senhor. Uma vez posto no Jardim, não lhe havia sido dada a oportunidade de questionar o Senhor ou passar a autoridade do lar para sua esposa - Adão sabia que cabia tão somente a ele o governo e sustendo de sua casa, de modo que devia expressar o a ordem de Deus na terra e, para isso, se dedicar a ela assim como o Senhor fazia com suas criaturas.

Sendo, portanto, o mandamento do Criador irrevogável, Adão não podia utilizar-se de desculpas diante do Senhor, afinal, somente a ele tinha sido determinado o lavrar e guardar a terra, de modo que não poderia haver escusa de sua parte para com o diligenciar-se na tarefa divina - uma vez recebido o mandamento, deveria cumpri-lo.

Que o Senhor tenha misericórdia de todos os homens nesse quesito, pois embora estejamos em tempos diferentes de Adão e tenhamos o pecado encravado em nossa vida, tal incumbência ainda nos cabe e, portanto, devemos a ele nos ater (posteriormente veremos com mais atenção esse ponto) e correr a carreira que nos foi proposta (2Tm 4.7).

2. Apesar de consciente de sua obrigação, negligenciou seu chamado.

A narrativa bíblica mostra-nos que Adão estava próximo de Eva quando ocorreu a queda. Mas, infelizmente,  não estava tão próximo como deveria. Por algum motivo que nos foge à razão, Adão fez pouco caso do cuidado que deveria ter para com sua esposa. Tristemente, apesar de anteriormente ter dito que ela era "osso dos meus ossos, e carne da minha carne" (Gn 2.23), no momento da desobediência para com o Senhor ele a trata não mais como parte de sua próprio carne, mas sim como uma estranha, alguma coisa do qual não deve ter o devido cuidado e nem esmerar-se para evitar a transgressão.

Ao perceber que Eva estava enveredando por caminhos contrários ao Senhor, em vez de agir, se omitiu - e quão grave pecado cometeu! Nesse momento Adão não foi um homem do Senhor. Por vezes até parece-nos que lhe faltou o discernimento e a imagem do Senhor ofuscou-se em seu coração, de modo que não via nada além de sua ignorância e vontade deliberada em não agir conforme havia sido lhe ordenado. De homem sustentador, passou a ser ignorador e falho para com seu dever de fazer.

3. Apesar de ambos terem transgredido o mandamento, Adão foi chamado a prestar contas.

"e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do SENHOR Deus, entre as árvores do jardim. E chamou o SENHOR Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás?" Como vimos logo acima, por o Senhor haver determinado que o homem seria o responsável pela criação e manutenção do lar, era-lhe necessário também o prestar das contas ao Eterno. Aqui, não cabe ao homem "moderno" o intentar descortinar os porquês de Adão ter sido chamado a prestar contas, enquanto, num primeiro momento, Eva ficou isenta de tal advertência.

Lamentavelmente temos visto como essa mesma transgressão, apesar de positivada (registrada, instituída) nas Escrituras, ainda é constantemente ignorada pelos homens. Nossos jovens, para suas próprias ruínas, casam-se cada vez menos conscientes do que é um matrimônio e de quantos deveres lhes assistem a partir do momento em que se unem em voto à esposa e honorável ajudadora idônea. O fato de - também - não serem intérpretes e aplicadores saudáveis das Escrituras, não somente os desabona diante do Senhor, mas igualmente os leva a manchar o nome do Artífice e fazer-Lhe por ignomínia diante de tais atitudes reprováveis. Homens que casam-se, mas não assumem a responsabilidade do lar, estão pecando gravemente contra o Senhor.

4. Eva foi levada a não perguntar ao seu marido sobre o que achava da proposta. 

A Bíblia nos é clara ao narrar tão somente o diálogo que Eva teve com a serpente. Aqui, penso ser um bom motivo para que isso tenha sido registrado para toda a posterioridade: nos ensinar sobre a grande falha em que ocorreu Eva, pois em vez de recorrer ao seu marido e indagar-lhe sobre se tal proposta era decente também diante de seus olhos, resolveu responder por si mesma e ser inconsequente para com a ordenança matrimonial.

Em vez de esposa submissa e fiel ajudadora, resolveu ser insubmissa e não mais contribuidora para com a harmonia e bem matrimonial, mas sim um peso a mais na desgraça e ruína conjugal. Se ao menos perguntasse a Adão sobre o que pensava acerca da proposta maligna e tentadora da serpente, mas nem isso cogitou - agiu inconsequentemente e o levou à bancarrota.

5. Eva desobedeceu a submissão que devia a Adão.

Conquanto que Adão tinha o dever de zelar pela terra que o Senhor lhe havia dado e também do matrimônio que Ele havia concedido-o, o início do pecado encontra-se - também - na desobediência de Eva a Adão. Como já apontado, a submissão era algo agradável a Eva; ela não tinha pesares em se submeter a aliança feita com seu marido - tudo lhe era pacífico e louvável. Porém, apesar de tudo isso, não obstante toda sutileza que a serpente utilizou-se, nas entrelinhas do relato percebemos que Eva falhou para com seu dever de obedecer ao governo (novamente, bondoso) de seu esposo.

Assim como aconteceu Eva, frequentemente é também visto em nossos dias, onde muitíssimas "servas piedosas do Senhor" gabam-se de sua não submissão ao seu marido (veremos esse ponto também mais adiante) e perversamente invertem os papeis delimitados pelo Altíssimo.

Entendamos, por fim, de que modo isso sevdesdobra para nosso conhecimento e crescimento em aplicação e graça do Senhor (Tg 1.22).

O relato bíblico nos é bastante claro: "e esconderam-se... entre as árvores do jardim". Parece-nos ser plausível a afirmação de que Adão e Eva queriam realmente se esconder do Senhor! Eles não procuraram pelo Artífice, não foram ao Seu encontro - o pecado fez com que corressem para longe.

Não é assim que também muitas vezes procedemos? Ao pecarmos contra o Senhor, em vezes de rogarmos por Seu perdão e clamarmos para que nos restitua a alegria da salvação (Sl 51), frequentemente somos levados por nossas próprias fraquezas e debilidades às arvores das argumentações, às grandes folhas da autocomiseração e dos fortes troncos da malignidade humana. Contudo, pela mui preciosa graça e misericórdia do Senhor, ensina-nos a Santa Palavra que, apesar de não desejarem ser achados pelo Senhor, agradou-Lhe se mostrar ao homem e mulher, de modo que, ainda que seus corações estivessem perversamente entenebrecidos pelo pecado, com muita ternura e poder o Senhor os achou e os livrou das intempéries que tais árvores (sem falar de Sua ira!), agora também abaladas por causa do pecado, poderiam lhes causar.

Nesse sentido, portanto, o homem do Senhor deve aprender a lidar com os problemas do casamento, sabendo sempre que se algo acontece e dá errado, é bastante provável que ele tenha sido negligente em algum proceder. Sim, é certo que não compete ao marido o salvar a mulher dos pecados e que não é sua a responsabilidade de levar os filhos para o céu, entretanto, algo muito vil e maligno é o não proceder de acordo com a palavra de Deus, tão somente porque conjectura-se que, porque se vive em "outros tempos", não recai qualquer responsabilidade sobre ele. 

Como varões do Senhor, precisamos tomar do exemplo de Adão e aplicarmos diligentemente tal ensino para nossos lares, de modo que não vivamos de maneira indigna diante de nossas esposas, filhos igreja e sociedade, mas sim que busquemos o reto proceder, pois apesar de toda vileza que habita em nossos corações, a guarda celestial é sempre pronta e eficaz para nos auxiliar em toda e qualquer dificuldade com que nos depararmos.

sábado, 26 de maio de 2012

As promessas de Deus cooperam para o bem do homem piedoso.


As promessas são anotações nas mãos de Deus; não é bom termos segurança? As promessas são o leite do evangelho; e não é o leite para o bem da criança? Elas são chamadas “preciosas promessas” (2Pe 1.4). Elas são tônicos para a alma que esta a ponto de desmaiar. As promessas são cheias de virtude.

Estamos nós sob a culpa do pecado? Há uma promessa, “o Senhor [é] compassivo e grande em misericórdia” (Êx 34.6), na qual Deus, por assim dizer, põe Seu glorioso bordado e estende Seu cetro de ouro para encorajar pecadores pobres e hesitantes a se achegarem a Ele. “O Senhor, misericordioso.” Deus está mais disposto a perdoar do que a punir. A misericórdia abunda em Deus mais do que o pecado em nós. Misericórdia é a Sua natureza. A abelha naturalmente produz mel; ela ferroa apenas quando é provocada. “Mas”, diz o culpado pecador, “eu não mereço misericórdia”. Ainda assim, Ele é gracioso: Ele demonstra misericórdia, não porque nós merecemos misericórdia, mas porque Ele se deleita na misericórdia. Mas o que isso significa para mim? Talvez meu nome não esteja entre aqueles que são perdoados. “Ele usa de misericórdia para milhares” (cf. Jr 32.18). A casa do tesouro da misericórdia não está falida. Deus tem muitas riquezas disponíveis, sendo assim, por que você não viria para tomar parte entre os Seus filhos?

Estamos nós sob a podridão do pecado? Há uma promessa que coopera para o bem: “Curarei a sua infidelidade” (Os 14.4). Deus não apenas concederá misericórdia, mas também graça. E Ele fez uma promessa de enviar o Seu Espírito (Is 44.3), o qual, por Sua natureza santificadora, é às vezes comparado nas Escrituras à água que limpa o vaso; à peneira que joeira o milho; às vezes, ao fogo que refina o metal. Assim, o Espírito de Deus há de purificar e consagrar a alma, tornando-a participante da natureza divina.
Estamos nós em grande tribulação? Há uma promessa que coopera para o bem: “Na sua angústia eu estarei com ele” (Sl 91.15). Deus não leva o Seu povo à tribulação e os deixa lá. Ele os acompanhará; Ele sustentará suas cabeças e seus corações quando eles estiverem desmaiando. E há outra promessa: “Ele é a sua fortaleza no dia da tribulação” (Sl 37.39). “Oh”, diz a alma, “eu hei de desmaiar no dia da aflição.” Mas Deus será a força do nosso coração; Ele trará as Suas forças para junto de nós. Ou ele fará a Sua mão mais leve, ou tornará a nossa fé mais forte.

Tememos nós necessidades exteriores? Há uma promessa: “Aos que buscam o SENHOR bem nenhum lhes faltará” (Sl 34.10). Se for bom para nós, haveremos de tê-lo; se não for bom para nós, então será retido, e isso será para nosso bem. “Eu abençoarei o vosso pão e a vossa água” (Êx 23.25). Essa benção cai como doce orvalho sobre a folha; ela adoça o pouco que possuímos. Deixe-me ter necessidade, para que eu possa ter a benção. Mas temo eu não ter um meio de subsistência? Examine as Escrituras: “Fui moço e já, agora, sou velho, porém jamais vi o justo desamparado, nem a sua descendência a mendigar o pão” (Sl 37.25). Como nós devemos entender tal declaração? Davi fala a respeito disso como a sua própria observação; Ele nunca contemplou tal eclipse, ele nunca viu um homem piedoso tão rebaixado ao ponto de não ter um bocado de pão para colocar na boca. Davi nunca viu o justo e a sua descendência em falta. Embora o Senhor possa provar pais piedosos por um tempo, pondo-os em necessidade, ele não fará o mesmo com a descendência dele; a descendência dos piedosos será provida. Davi nunca viu o justo mendigando pão, ou desamparado. Embora ele possa ser posto em grande aperto, ele não é desamparado; ele ainda é um herdeiro do paraíso, e Deus o ama.

Pergunta: Como as promessas cooperam para o bem?

Resposta: Elas são alimento para a fé, e aquilo que fortalece a fé coopera para o bem. As promessas são o leite da fé; a fé suga delas os nutrientes, como a criança os suga do peito. “Jacó teve medo e se perturbou” (Gn 32.7). Seu espírito estava prestes a desmaiar, e agora ele vai para a promessa: “E disseste: Certamente eu te farei bem” (Gn 32.12). Essa promessa foi o seu alimento. Ele adquiriu tanta força dessa promessa que foi capaz de lutar com o Senhor a noite toda em oração, e não deixou Ele ir até que o houvesse abençoado.
As promessas são também fontes de alegria. Há mais nas promessas para nos dar conforto do que há no mundo para nos causar perplexidade. Ursino [1] foi confortado com esta promessa: “Da mão do Pai ninguém as pode arrebatar” (Jo 10.29). As promessas são tônicos para aqueles que estão desmaiando. “Não fosse a tua lei ter sido o meu prazer, há muito já teria eu perecido na minha angústia” (Sl 119.92). As promessas são uma rede para puxar o coração e impedi-lo de afundar nas águas profundas da angústia.

[1] Nota do Tradutor: Talvez, uma referência a Zacarias Ursino, um dos autores do Catecismo de Heidelberg. Você pode ler uma breve biografia a respeito dele no blog Reforma & Razão.
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Por Thomas Watson (1620-1686)

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Robert Murray M'Cheyne (1813-1843) - Eu amo o Dia do Senhor


PORQUE É UMA RELÍQUIA DO PARAÍSO E UM TIPO DO CÉU.

O primeiro Sabbath alvoreceu num paraíso sem pecado. Quando Adão foi criado à imagem o seu Criador, ele foi colocado no jardim para cultivá-lo e mantê-lo. Sem dúvida, isso lhe tirou muita energia. Fazer o luxurioso vinho, juntar as frutas da figueira e manuseá-las, conduzir a água para as árvores frutíferas e para as flores, exigiu dele todo seu tempo e toda a sua habilidade. O homem nunca foi feito para ficar à toa. Quando chegava o dia de Sábado, seus instrumentos rurais eram postos de lado e o jardim já não era sua prioridade. Sua calma e sua mente pura enxergavam além das coisas que se podiam ver até o mundo das realidades eternas. Ele andou com Deus no jardim, buscando o conhecimento mais profundo de Jeová e de Seus caminhos; seu coração ardeu mais e mais com o santo amor, e seus lábios  transbordavam de louvor seráfico. Mesmo no paraíso, o homem precisou do Sabbath. Sem ele, o próprio Éden seria incompleto. Quão pouco eles conhecem as alegrias do Éden, o deleite de um andar santo e bem próximo de Deus! Quem arrancaria da Escócia esta relíquia de um mundo sem pecado?! É também um tipo do Céu. Quando um crente põe de lado seus cuidados e afazeres deste mundo e vem para a casa de Deus, é como a manhã da ressurreição, o dia em que sairemos da grande tribulação e entraremos na presença de Deus e do Cordeiro. Quando ele ouve a Palavra pregada e escuta a voz do pastor guiando e  alimentando sua alma, isso o lembra do dia em que o Cordeiro que está no meio do trono, irá alimentá-lo e guiá-lo para as fontes de água viva. Quando ele participará dos salmos de louvor, isso o lembra do dia em que suas mãos irão tocar na harpa de Deus – onde as congregações não se dividem e os Sabbaths não têm fim.

Fonte: I Love the Lord’s Day” - Rev. Robert Murray M'Cheyne - Sermon of 1844 (publicado com título "Eu amo o Dia do Senhor", sob a tutela do Instituto Malleus Dei).
Extraído de: A Prática da Piedade

terça-feira, 22 de maio de 2012

Efésios 1.12 - Os Judeus como Glória do Senhor - Exposição em Efésios - Sermão pregado dia 20.05.2012



Efésios 1.12 - Os Judeus como Glória do Senhor
Exposição em Efésios - 
Sermão pregado dia 20.05.2012

"Com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo" (Ef 1.12).

Após termos visualizado os ditos de Paulo acerca de que todas as coisas acontecem "segundo o conselho da sua vontade" (v. 11), ele passa agora a ensinar àqueles irmãos sobre que, não obstante a rebeldia e ingratidão do povo judeu, mesmo assim o Senhor tinha um plano especial para com aquele povo, de modo que pela Sua grande e excelsa misericórdia, aprouve-Lhe expor e magnificar Seu nome primeiramente dentro dos arraiais israelitas.

É importante atentarmos para o fato de Paulo enfatizar a questão judaica e de como ela era importante para ele. O apóstolo é firme ao dizer que eles, os judeus, foram o alvo primeiro da salvação e que aguardavam em Cristo Jesus. Isso lembra-nos do diálogo que Jesus teve com a mulher samaritana, onde após ser indagado sobre qual o lugar certo para adorar, ouve do próprio Senhor: "Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus" (Jo 4.22). Em outras palavras, o Messias estava lhe dizendo que embora ela conjecturasse que de fato adorava verdadeiramente ao Eterno, na verdade adorava algo que não conhecia e, portanto, não adorava de maneira verdadeira. Jesus deixou bastante explícito para tal mulher que era-lhe impossível adorar algo que não se conhecia; aliás, que era uma insensatez o que ela estava tentando realizar, pois como adoraria a quem não era cônscia? Em consoante, Paulo afirma aos romanos: "Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue?" (Rm 10.14). Era, então, necessário que os samaritanos primeiro ouvissem acerca do Cristo, para somente depois passarem a cultuá-Lo.

Ainda que já tenhamos notado em alguns momentos sobre o sermos criados para o louvor da Sua glória, importa-nos analisar ainda por um pouco a forma de como os crentes judeus foram feitos e usados para o louvor da glória do Senhor.

Em primeiro lugar, os judeus haviam sido predestinados para o louvor da glória do Senhor, pois uma vez que tinha sido do agrado de Deus o levantar-se no seu meio, a glória do Artífice estaria também entre aquele povo. Em segundo lugar, embora rejeitassem inúmeras vezes a Sua Lei e muitos não tivessem aceito o Messias, aprouve ao Senhor, por causa da dureza de seus corações (e também de Seu decreto divino para isso), expandir o evangelho a todas as nações (como já vimos anteriormente). Em terceiro lugar, a obstinação do coração do povo judeu, em vez de trazer ignomínia sobre o Senhor e envergonhá-Lo, na verdade fez com que Ele fosse glorificado, pois quando um povo rejeita a obra salvífica do Senhor, demonstra-se que ele não estava com o coração pré-disposto a confiar no Senhor, o que inevitavelmente rende glórias ao Senhor por Sua eterna, santa sabedoria e ordenança divina. É isso que o próprio Cristo afirmou: "Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más" (Jo 3.18-19).

Cristo foi também glorificado em meio aos judeus durante as batalhas que venciam. Um exemplo magnífico é a destruição do exército egípcio pelas águas do mar vermelho. Notemos que não houve qualquer benfeitoria humana para que o exército afundasse nas profundas águas; os homens não cooperaram com o Senhor para tal feito - tudo, absolutamente tudo se deu por causa da gloriosa obra do Senhor. "Então cantou Moisés e os filhos de Israel este cântico ao SENHOR, e falaram, dizendo: Cantarei ao SENHOR, porque gloriosamente triunfou; lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro" (Êx 15.1). A destruição dos povos, perante a nação israelita, glorificava ao Senhor, pois isso fortalecia-os na fé e rendia louvores ao Senhor dos Exércitos pelos Seus grandes feitos. 

Porém, mesmo em meio a toda manifestação de Cristo entre os judeus, eles não O tiveram em grande estima. Vejamos quão perversos foram, pois "vós negastes o Santo e o Justo, e pedistes que se vos desse um homem homicida" (At 3.14. Contudo, isso também glorificou ao Senhor, pois era parte do plano divino - "A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos" (At 2.23). Portanto, todas as coisas que ocorreram com o povo judeu, de um modo ou de outro glorificaram ao Senhor, pois, nas palavras do salmista, "Verdadeiramente bom é Deus para com Israel, para com os limpos de coração" (Sl 73.1).

Agora, vejamos a segunda metade do versículo: "nós os que primeiro esperamos em Cristo". Entendamos a partir de Romanos 3 como isso se desdobra.

"Qual é pois, a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão? Muita, em toda a maneira, porque, primeiramente, as palavras de Deus lhe foram confiadas. Pois quê? Se alguns foram incrédulos, a sua incredulidade aniquilará a fidelidade de Deus? De maneira nenhuma; sempre seja Deus verdadeiro, e todo o homem mentiroso" (Rm 3.1-4).

Ser o porta-voz de um grande Rei é sempre um nobre chamado; ser convocado e receber as dádivas primeiro do que todos os outros, é certamente confortante e traz grande alegria ao coração aflito. Isso foi o que aconteceu com os judeus: foram os primeiros a ouvir a mensagem da salvação, os primeiros a ansiarem pela vida eterna com o Senhor, os primeiros a colherem os frutos da bênção celestial, o povo do qual veio o Messias e Salvador de todos os crentes. Se hoje somos abençoados e atingidos pela graça de Deus (assim como foi a igreja de Éfeso), isso se deu por causa do Senhor que determinou nascer entre o povo judeu e, posteriormente, expandir Sua palavra por todas as nações.

No entanto, para que nenhum judeu se orgulhasse e tivesse altivez de espírito, o apóstolo proclama: "Pois quê? Somos nós mais excelentes? De maneira nenhuma, pois já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado; Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só" (Rm 3.9-12). Aqui, perguntamo-nos, então: quais as vantagens que o apóstolo proclama em ter-se nascido judeu? A resposta encontra-se não em algum pressuposto bonificador ou nalguma vantagem extra em relação ao povo gentil, pois ele continua e finaliza dizendo aos romanos: "É porventura Deus somente dos judeus? E não o é também dos gentios? Também dos gentios, certamente, Visto que Deus é um só, que justifica pela fé a circuncisão, e por meio da fé a incircuncisão" (Rm 3.29-30).

No próximo versículo o apóstolo irá tratar sobre a fé salvífica dada e selada nos corações dos crentes gentílicos, mas, por ora, apontemos breve questões acerca de como o povo judeu esperou em Cristo.

Aguardavam o Salvador de suas vidas. "E naquele dia se dirá: Eis que este é o nosso Deus, a quem aguardávamos, e ele nos salvará; este é o SENHOR, a quem aguardávamos; na sua salvação gozaremos e nos alegraremos" (Is 25.9).

O intuito do profeta não era dizer-lhes que eles ainda não eram salvos por Jesus Cristo, pois conforme bem sabemos, os crentes judeus do Antigo Testamento eram salvos exatamente da mesma maneira que nós, apenas que sua perspectiva era futura; a nossa, passada. O povo israelita sabia que o Senhor enviaria o Salvador para, de uma vez por todas, fazer a expiação por todos os pecados de todos os Seus filhos. Jonas registrou esse correto entendimento: "Do SENHOR vem a salvação" (Jn 2.9).

Esperaram somente em Cristo a salvação. "O SENHOR é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o meu libertador; o meu Deus, a minha fortaleza, em quem confio; o meu escudo, a força da minha salvação, e o meu alto refúgio" (Sl 18.2).

Mesmo diante de toda tribulação, dificuldade, sofrimentos e mortes, por terem a promessa do Messias que haveria de vir, os israelitas podiam confiar no Senhor. Muitos são os que se enganam nesse ponto, pois pensam que a promessa para tal povo era tão somente a terra - física - prometida, enquanto para nós a terra prometida é a Jerusalém celestial. Lembremos ainda outra vez das palavras de Jesus: "São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos Salmos" (Lc 24.44). Não era possível ao Senhor apenas entregar-lhes um boa terra e boas farturas, pois se assim fosse, a sua recompensa não estaria nos céus (Ef 1.3), mas sim na terra - conforme também escreve o autor de Hebreus, "Porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura" (Hb 13.14).

Apesar da morte ter sido decretada aos seu primeiros pais (Adão e Eva), eles reconheciam que ela não os podia deter, pois estavam em Cristo. "O nosso Deus é o Deus da salvação; e a DEUS, o Senhor, pertencem os livramentos da morte" (Sl 68.20).

Paulo também expressou seu entendimento quando disse: "Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?" (1Co 15.55). Pela maravilhosa graça que também era necessária e muito evidente nos relatos veterotestamentários, o povo judeu sabia que apesar de seus pares virem a falecer e muitas mortes haverem de sofrer, a morte não os podia derrotar, pois uma vez que tinham o ensinamento de que eram peregrinos pela terra, devendo ansiar pelo Messias e por Sua volta zelar, podiam viver sem o temor da morte. Paulo, sendo judeu, expressou, novamente, isso mui claramente: "Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho" (Fp 1.21). Ou seja, o judeu crente nas promessas do Senhor, reconhecia e esperava pacientemente a vinda do Ungido e tão grande libertador.

Havia pacto entre o Senhor e seu povo. "E eu vos tomarei por meu povo, e serei vosso Deus; e sabereis que eu sou o SENHOR vosso Deus, que vos tiro de debaixo das cargas dos egípcios" (Êx 6.7). No advento de Cristo, dada a maciça proclamação do evangelho por todos os lugares, talvez alguns judeus pudessem estar pensando que O Senhor os havia abandonado, que já não lhes cuidava com antes, por isso o apóstolo escreve-lhes e diz: "Digo, pois: Porventura rejeitou Deus o seu povo? De modo nenhum; porque também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim. Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu... (Rm 11.1-2). Mas também em face da grande revolta que a vinda de Jesus gerou, muitos estavam descrentes, como que imaginando que não sobraria sequer um judeu no povo de Israel. Para esses, Paulo também lhes consola e diz: "Assim, pois, também agora neste tempo ficou um remanescente, segundo a eleição da graça"(Rm 11.5).

Paulo ampliará, no versículo seguinte como isso se estendeu até o povo gentio, mas, até aqui, reconheçamos quão agraciados foram aqueles homens judeus, a ponto de, por sobre toda a terra, durante milhares de anos, somente eles serem agraciados com visita divina dos céus e com a firme esperança que não os podia demover da rocha que é Cristo.

"Só ele é a minha rocha e a minha salvação; é a minha defesa; não serei abalado" (Sl 62.6).

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Série: Homem e Mulher os criou - parte 9 - Homem e Mulher no Jardim - A Queda (O Pecado da Mulher) - Sermão pregado dia 20.05.2012



Série: Homem e Mulher os criou - parte 9 - 
Homem e Mulher no Jardim - A Queda (O Pecado da Mulher)
Sermão pregado dia 20.05.2012

Após termos visualizado algumas questões dizentes ao marido e esposa do Senhor, é preciso que lembremos que a história não se encerrou no Jardim, pois houve uma queda. Tudo que temos visto até aqui tem, de modo geral, representado a vida bela e harmoniosa que ocorria naquele formoso e estupendo Jardim. Assim como nos céus não haverá choro nem ranger de dentes, também naqueles tempos idos a beleza era completa e tudo lhes era agradável aos olhos. Porém, mesmo em meio a tudo isso, o Senhor teve por bem, em Sua completa soberania - e que não cabe a nós discutirmos com Ele (Rm 9) -, que houvesse a queda. Por algum motivo que nos é muitas vezes assombroso, o Senhor colocou em Seus planos a ruína do homem. 

Haja vista que o propósito do presente estudo não é tratar de pormenores acerca de muitos porquês da queda, e sim o entender da quantidade de desgraça trazida pelo pecado, nos deteremos no que aconteceu e o motivo pelo qual isso se deu. Vejamos a ordem que o Senhor havia dado para o homem:

"E tomou o SENHOR Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar. E ordenou o SENHOR Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás" (Gn 2.15-17).

O Eterno havia sido clarividente como o sol ao dizer (em outras palavras): "De modo algum busquem reprovar a minha autoridade; jamais, sob nenhuma circunstância, ousem ir além do mandamento que ponho diante de você." Lemos também um reflexo disso em Deuteronômio 11.26: "Eis que hoje eu ponho diante de vós a bênção e a maldição." Diante de Adão e Eva estava a bênção e maldição; bênção, se desfrutassem de tudo quanto o Senhor havia criado; maldição, se não guardassem a palavra do Senhor e desejassem fazer algo que fosse além da prerrogativa divina. Ao ouvirem sobre o terror que lhes sobreviria ao comerem do fruto proibido, certamente foi-lhes refreado o pensamento [1]. Um eco dessa doutrina, isto é, para quê servem os terrores da Lei anunciadas pelo Senhor, é visto em Ezequiel 33.9: "Mas, se advertires o ímpio do seu caminho, para que dele se converta, e ele não se converter do seu caminho, ele morrerá na sua iniqüidade; mas tu livraste a tua alma." - A Lei do Senhor e Sua justa punição pela violação dos preceitos são para também corrigir o caminho do homem pecador. 

Contudo, aqui não estamos falando de um pecador, mas sim de um casal que não havia pecado. Perguntamo-nos então: o que estava incluso na declaração de Deus de que no dia em que comessem do fruto proibido, seriam conhecedores do bem e do mal? Penso, humildemente, que a resposta esteja no capítulo 3 de Gênesis: "[Diz a serpente] Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal... Então disse o SENHOR Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal" (Gn 3.5, 22). Se anteriormente era-lhes requerido somente o obedecer, com o pecado passaram a escolher entre o bem e o mal. Isto é, em vez de ficarem debaixo das mãos protetoras de Deus e reconhecerem que não lhes cabia a escolha, ou seja, de que não lhes era por direito o determinar o que é certo ou errado, uma vez que apropriaram-se do fruto proibido, agora tornarem-se como "deuses", a saber, senhores de suas próprias vontades - mas tão somente inclinada e voltada para a rebeldia com o Senhor. De humildes e belas criaturas, se fizeram as mais horríveis e malignas criaturas, pois não se sujeitaram ao Senhor, mas desejaram ser senhores de suas próprias vidas.

Interessantemente, a palavra do Senhor nos informa que primeiramente foi o homem (Adão) quem ouviu e recebeu essa ordenança do Senhor. Ele, o cabeça do lar, guia e guardador do Jardim, sabia claramente qual eram seus deveres e o que não poderia fazer. Observemos de modo belo como essa era a única proibição que Adão recebera. Não havia nada "além disso" que lhe fosse proibido - todo o restante do jardim, as flores, os animais, os frutos, os rios e tudo que neles havia era-lhe fascinante e lícito. No entanto, não somente o homem sabia dessa ordenança, mas a mulher também (Gn 3.1-3). 

Tendo em vista que a narrativa bíblica relata-nos a queda (prática) começando com Eva, assim trataremos agora (posteriormente veremos o caso de Adão).

Fomos ensinados pelas Santas Escrituras de que a mulher (Eva e as posteriores) deve se submeter a autoridade do marido, não como uma serva escravizada, mas sim como numa posição de rainha, onde lhe é agradável o ser cuidada, amada e protegida pelo marido. Isso também se dava naqueles tempos do Jardim, pois uma vez que o pecado ainda não havia entrado em suas vidas, Eva, alegremente, se submetia e andava junto de seu marido. Eva sabia de sua subordinação em amor a Adão, pois tinha consciência de que havia sido criada como uma ajudadora idônea (Gn 2.18). No entanto, ela não seguiu o preceito divino, e por isso errou e pecou gravemente contra o Senhor. Assim conta-nos o relato:

"Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim? E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais. Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal. E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela" (Gn 3:1-6). [2]

Embora não vivamos mais no Jardim do Éden como nossos pais, a Palavra do Senhor admoesta-nos sobre a importância de reconhecermos que até mesmo nesse lugar, por algum motivo, a soberania do Altíssimo aprouve que o inimigo também estivesse junto. Observamos no relato da criação que, apesar de toda beleza e virtuosidade que circundava o maravilhoso Éden, lá havia uma serpente mortal e pronta a tragar homem e mulher para si. Dessas duas breves colações se desdobra o correto entendimento (mas não limita outras colocações) de que, ainda que o Senhor esteja constantemente sobre os seus, o inimigo continuamente anda ao redor tentando tragar nossos corações (1Pe 5.8). 

Conta-nos a palavra de Deus que a serpente - "que é o Diabo e Satanás" (Ap 20.2) - estava no jardim. Ele, sendo completamente astuto, interpõe-se (sempre, é claro, com autorização e decreto de Deus - vide Jó) nao matrimônio de Adão e Eva e inicia uma série de questionamentos acerca da Lei de Deus. "E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?" (Gn 3.1). O maligno não inicia sua jornada falando coisas contrárias ao mandamento de Deus, mas sim se põe a questionar a veracidade da determinação divina - o Diabo lança a dúvida na mente de Eva. "E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais" (Gn 3.2-3). Como que resistindo a tentação, Eva responde mui claramente à serpente sobre o que havia dito o Senhor. Em outras palavras, quando indagada sobre a suposta autoridade e veracidade do que Deus havia ordenado, Eva confirma o dito do Senhor: "Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis" (Gn 3.4). Aqui, enfim, inicia-se toda a desgraça de Eva e Adão. Se num primeiro momento a serpente foi suave em sua tentativa de persuasão, fazendo com que Eva relembrasse qual havia sido a ordenança de Deus, agora a serpente "dá o bote" e, quase que de maneira enérgica, diz: "Certamente não morrereis." Não obstante a malignidade desse vil, perverso e abominável ser que é o Diabo, ter dito que não morreriam, ainda declara supostos benefícios que haveriam se incidir sobre ela, caso viesse a desobedecer: "Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal" (Gn 3.5). Conta-nos, então, a palavra do Senhor, sobre como isso se processou na vida de Eva: "viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela" (Gn 3.6 - grifo meu).

Dentro do que o tempo e a finalidade do presente estudo nos permitem, analisemos esses quatro verbos (atos) que denunciam como ocorreu a chegada do pecado. [3]

1. "viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento."

Eva não era dona de sua própria vida - era uma ajudadora idônea de Adão. Eva não deveria viver da maneira que desejasse, pois muito bem sabia que havia sido criada de e para seu marido. Contudo, conta-nos a história que foi devido a não dar o devido valor à palavra de Deus e a sua subordinação, que sobreveio a ruína sobre ela e sob seu marido.

O primeiro ponto a destacar sobre a atitude maligna de Eva foi que ela viu. O texto nos é bastante claro ao recomendar que atentemos para esse verbo e seu tempo. Não nos é dito que ela queria ver ou que não conseguiu ver - ela realmente viu aquela árvore e algo a fascinou. Não penso que seja correto dizer que tal árvore era mais esplendorosa do que as demais, nem que nela residia algum ponto de tentação inerente. Penso, portanto, que o motivo da contemplação e dos pensamentos de Eva se deram por causa do orgulho semeado pelo pecado e que levou à desobediência: "A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda" (Pv 16.18), isto é, o desejar ser dona de suas próprias escolhas - sem a intervenção de Deus.

No entanto, é mister recordar que Eva ainda não havia pecado. Ela apenas olhou a fruto, viu, por causa de sua tentação, que tal fruto era-lhe agradável - mas ainda não havia comido. Como John Bunyan alegorizou, o pecado ainda batia à porta, não havia entrado; ele estava lá, batendo à porta, mas Eva resistia; o pecado chamava-a, ela refletia e sentia-se seduzida, mas não o comia. A serpente, astuta e maligna como era, não somente instigou a vida de Eva contra a ordenança do Senhor, mas também fez com que o desobedecer da ordenança fosse tido como algo maravilhoso e digno de aceitação. Por algum motivo, apesar de conhecer a ordem do Senhor, Eva sentiu-se fortemente compelida a tomar tal fruto para si, pois achava, infelizmente, que isso lhe traria "entendimento".

No entanto, ela ainda não havia pecado.

2. "Tomou do seu fruto".

Após contemplar o desejo e engano do Diabo, Eva vai além e toma a fruto daquela que certamente também era uma bela árvore do Jardim de Deus. O pecado agora ganhou força: se antes era analisado de longe, visto e rodeado de certos ângulos, já não mais está distante do seu corpo, acha-se em suas mãos - mas ela ainda não havia pecado. Lembremos da ordenança do Senhor: "porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás" (Gn 2.17). A violação era clara: não comer. De modo diferente, mas também falando da tentação do pecado, o apóstolo Paulo nos fala com precisão e dos dá um boa uma boa direção quanto a esse quesito: "Abstende-vos de toda a aparência do mal" (1Ts 5.22) - mas Eva não agiu dessa maneira.

Tomar do fruto do pecado nas mãos e imaginar que nada irá acontecer, é o mesmo que retirar o pino de uma granada, jogá-la para cima e crer que ela não virá a explodir. Eva, ao contrário de todo bom senso e plena capacidade de raciocínio que havia sido dado por Deus, agora pega o fruto proibido em mão; quem sabe girasse o fruto, olhasse sua cor, textura, cheiro, jogasse para cima... Embora soubesse do mandamento do Senhor, talvez imaginasse que tal fruto não tinha nada de errado em si mesmo. Eva, portanto, não contente em apenas olhar aquilo que lhe traria total desgraça, agora toma a granada mortífera em suas mãos e aguarda. 

Aqui, parece-nos até que Eva havia se esquecido do que tinha respondido anteriormente à serpente: "nem nele tocareis para que não morrais" (Gn 3.3). Enquanto havia sido rápida para julgar seu próprio discernimento e, quem sabe, achando-se capaz de vencer a tentação, agora se vê com o fruto proibido nas mãos.

Então, embora não houvesse consumado o pecado, a ruína já estava prestes a ser completa, pois o mero tocar no fruto já era contrário ao que o Senhor havia instituído.

3. "comeu".

Se por duas vezes esteve perto e ainda poderia afastar tal tentação de si, lamentavelmente ela come do fruto e entrega-se aos braços de Satanás. A serpente que havia vindo de modo astuto, agora tem seu plano parcialmente concretizado - Eva havia experimentado e, finalmente, havia se tornado sua escrava. A mulher não havia se dado por contente pela ordenança de Deus; achou que não era tão valorosa. Ao comparar o que o Senhor havia dito e as promessas da serpente, isto é, enquanto ao lado do Senhor seria bem cuidada, amada e alegre, mas que deveria seguir certa ordem, no outro extremo temos o Diabo oferecendo a mesma coisa, apenas com um diferencial: não teria que obedecer ao Senhor, pois seria como Deus, isto é, supostamente acreditou que seria soberana sobre sua própria vida.

4. "E deu também a seu marido, e ele comeu com ela".

Como que não contente com o feito, Eva ainda entrega o fruto ao seu marido - e ele come. Não bastava se perder sozinha, não havia propósito em "apreciar" aquele pecado apenas com a serpente, ela precisava compartilhar com seu marido. 

Ao contrário do que Provérbios 31 nos fala, nessa situação, Eva não foi a mulher virtuosa que deveria ser. Ainda que certamente o texto de Provérbios fale-nos no contexto após a queda, nem sequer aquela foi a atitude de Eva. Nesse ponto, portanto, podemos delinear e compreender, os possíveis 4 estágios que o pecado utilizou-se para enganar a Eva.

Primeiro, questionando se de fato o Senhor havia dito realmente aquilo para ela; segundo, sugerindo a ela que a ordem do Senhor era uma mentira e que seria mais feliz ao lado do engano; terceiro, induzindo-a sob o falso pretexto de que poderia ser como Deus; quarto, acompanhando-a até o fruto, participando de todas as suas ações, até que finalmente tivesse vencido-a.

Quão lamentável foi essa atitude desastrosa de Eva. Ao contrário da bem-aventurança que lhe fora prometida, preferiu o engano de Satanás e suas seduções malignas. Isso, portanto, afetou completamente sua posterioridade, a ponto de Paulo dizer: "E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão" (1Tm 2.14). 

Terrível e maligna coisa fez essa mulher, entretanto, ainda há um marido para considerarmos - e, para ele, a justiça não foi menos branda, pois com mais rigidez foi julgado.

Nota:
[1] Já tratamos sobre a liberdade de Adão nos primeiros estudos, por isso, aqui, não o faremos outra vez.
[2] O presente estudo não é um trabalho sobre o origem do pecado, por isso não nos deteremos nessa questão.
[3] Lembrando que estamos tratando do pecado da mulher, posteriormente trataremos do pecado de Adão.

domingo, 20 de maio de 2012

A Verdadeira Adoração - A. W. Pink


Uma das falácias mais solene e destruidora de almas nestes dias é a idéia de que almas não-regeneradas são capazes de adorar a Deus. Provavelmente a razão maior pela qual este erro tem ganho tanto espaço deve-se à imensa ignorância espalhada acerca da

Natureza Real da Verdadeira Adoração

As pessoas imaginam que, se elas freqüentarem um culto religioso, forem reverentes em seu comportamento, participarem do período de hinos, ouvirem respeitosamente o pregador, e contribuírem com ofertas, então realmente adoraram a Deus. Pobres almas iludidas... um engano que é levado adiante pelo falso-profeta e explorador do dia. Contra toda esta ilusão, temos as palavras de Cristo em João 4.24, que são surpreendentes em seu caráter restritivo e pungente: “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade”.

A Vaidade da Falsa Adoração

“Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim; em vão, porém, me honram, ensinando doutrinas que são mandamentos de homens” (Marcos 7.6,7). Estas palavras solenes foram ditas pelo Senhor Jesus aos escribas e fariseus. Eles vieram a Ele com a acusação de que Seus discípulos não se conformavam às suas tradições e práticas em relação à pureza e lavagens cerimoniais. Em Sua resposta, Cristo expôs a inutilidade da religião deles...

Estes escribas e fariseus estavam levantando a questão do “lavar de mãos” cerimonial, enquanto seus corações permaneciam sujos perante Deus. Oh, querido leitor, as tradições dos antigos podem ser diligentemente seguidas, suas ordenanças religiosas observadas estritamente, suas doutrinas devocionalmente guardadas, e ainda assim a consciência jamais foi sondada na presença de Deus quanto a questão do pecado. O fato é que a religião é uma das maiores obstruções para a verdade de Deus abençoar as almas dos homens.

A verdade de Deus nos leva a um nível em que Deus e o homem são tão distantes quanto o pecado é da santidade: portanto, a primeira grande necessidade do homem é purificação e reconciliação. Mas a “religião” atua na suposição de que a depravação e culpa humanas podem ter relacionamento com Deus, podem aproximar-se dEle, e mais, adorá-lO e serví-lO. Por todo o mundo, a religião humana é baseada na falácia de que o homem pecador e caído pode ter um relacionamento com Deus. A religião é um dos principais meios usados por Satanás para cegar a humanidade quanto à sua verdadeira e terrível condição. É o anestésico do diabo para fazer pecadores perdidos sentirem-se confortáveis e tranqüilos em seu vil afastamento de Deus. A religião esconde deles Deus em Seu verdadeiro caráter – um Deus santo que é “tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a opressão não podes contemplar” (Hebreus 1.13).

Teremos muito esclarecimento em relação a este ponto de nosso assunto se considerarmos atentamente o abominável incidente registrado em Mateus 4.8,9: “Novamente o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles. E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares”.O diabo busca adoração. Quão poucos na cristandade estão alertas quanto a isto, ou percebem que as principais atividades do inimigo se mantêm na esfera religiosa!

Escute o testemunho de Deuteronômio 32.17 – ”Sacrifícios ofereceram aos demônios, não a Deus; aos deuses que não conheceram”. Isto se refere a Israel em seus primeiros dias de apostasia. Escute agora I Coríntios 10.20 “Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Deus”. Que luz isto nos lança sobre a idolatria e abominações do paganismo! Ouça mais uma vez II Coríntios 4.4 “Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus”. Isto significa queSatanás é o inspirador e dirigente da religião do mundo. Sim, ele busca adoração, e é o promotor principal de toda falsa adoração.

A Exclusividade da Verdadeira Adoração

“Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” (João 4.24). Este “importa” é definitivo; não existe alternativa, não há escolha neste assunto. Não é a primeira vez que temos esta palavra profundamente enfática no Evangelho de João. Existem dois versículos notáveis em que isto ocorre anteriormente. “Não te maravilhes de te ter dito:Necessário vos é nascer de novo” (João 3.7). “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado” (João 3.14). Cada uma dessas três “necessidades” é igualmente importante e inequívoca. (N.T.: Em inglês a palavra sempre é “must”).

A primeira passagem faz referência a Deus Espírito, pois é Ele quem regenera. A segunda refere-se à obra de Deus Filho, pois foi Ele quem fez a expiação pelo pecado. A terceira faz referência a Deus Pai, pois é Ele quem procura adoradores (João 4.23). Esta estrutura não pode ser alterada:apenas aqueles que nasceram do Espírito, que repousam sob a obra expiatória de Cristo, que podem adorar o Pai.

Citando novamente as palavras de Cristo à religiosidade de Seus dias, “Este povo honra-me com os lábios, Mas o seu coração está longe de mim; Em vão, porém, me honram” (Marcos 7.6,7); Ah, meu leitor, o mundano pode ser um filantropo generoso, um religioso sincero, um denominacionalista zeloso, um membro de igreja devoto, um assíduo participante da comunhão, ainda assim ele não é mais capaz de adorar a Deus que um mudo é de cantar. Caim tentou e falhou. Ele não foi irreligioso. Ele “trouxe do fruto da terra uma oferta ao SENHOR.” (Gênesis 4.3), mas “Mas para Caim e para a sua oferta [Deus] não atentou”. Por quê? Porque ele se recusou a aceitar sua condição incapaz e sua necessidade de um sacrifício expiatório.

Para se adorar a Deus, Deus deve ser conhecido: e Ele não pode ser conhecido a não ser por Cristo. Muito pode ser ensinado e crido sobre um “Deus” teórico ou teológico, mas Ele não pode ser conhecido à parte do Senhor Jesus. Ele disse “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.” (João 14.6). Portanto, é uma crença artificial pecaminosa, uma ilusão fatal, uma farsa maligna, levar pessoas não-regeneradas a imaginarem que elas podem adorar a Deus. Enquanto o pecador permanece longe de Cristo, ele é “inimigo” de Deus, um filho da ira. Como então poderia ele adorar a Deus? Enquanto permanece em seu estado não-regenerado ele está “morto em seus pecados e delitos”. Como, então, ele pode adorar a Deus?

O que foi dito acima é quase universalmente repudiado hoje, e repudiado em nome da Religião. E, repetimos, religião é o principal instrumento usado pelo diabo para enganar almas, ao insistir – não importa que seja a “religião budista” ou a “religião cristã” – que o homem, ainda em seus pecados, pode manter um relacionamento e aproximar-se do Deus três vezes santo. Negar essa idéia é provocar a hostilidade e ser censurado a ponto de ser uma oposição a todos os meros religiosos. Sim, isto foi muito do que levou Cristo a ser odiado impiedosamente pelos religiosos de Seus dias. Ele refutou suas afirmações, expôs sua hipocrisia, e então provocou seu ódio.

Aos “príncipes dos sacerdotes e anciões do povo” (Mateus 21.23), Cristo disse “os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no reino de Deus” (Mateus 21.31) e no final de seu discurso é dito que estavam “pretendendo prendê-lo” (v. 46). Eles atentaram para coisas externas, mas seu estado interno foi negligenciado. E por que os “publicanos e fariseus” entraram no reino de Deus adiante deles? Porque nenhuma pretensão religiosa obstruiu seu caminho; eles não tinham uma profissão de justiça própria para manter a qualquer custo, nem uma reputação piedosa para zelar. Pela pregação da Palavra, foram convencidos de seu estado de perdição, então colocaram-se no devido lugar diante de Deus e foram salvos. Algo que só pode acontecer com adoradores

A Natureza da Verdadeira Adoração

“Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (João 4.24). Adorar “em espírito” contrastava com os ritos humanos e cerimônias impostas do Judaísmo. Adorar “em verdade” se opunha às superstições e ilusões idólatras dos perdidos. Adorar a Deus “em espírito e em verdade” quer dizer adorar de uma maneira apropriada para a revelação plena e final que Deus fez de Si mesmo em Cristo. Significa adorar espiritualmente e verdadeiramente. Significa dar a Ele o louvor proveniente de um entendimento iluminado e o amor de um coração regenerado.

Adorar “em espírito e em verdade” se opõe à adoração carnal que é externa e espetacular. Exclui toda adoração a Deus com os sentidos. Nós não podemos adorá-lO, que é “Espírito”, observando uma arquitetura linda e janelas de vitrais, ouvindo as notas de um órgão caro ou sentindo o aroma doce de incenso. Nós não podemos adorar a Deus com nossos olhos e ouvidos, ou nariz e mãos, porque eles são “carne” e não “espírito”. “Importa que adorem em espírito e em verdade” exclui tudo aquilo que é do homem natural.

Adorar “em espírito e em verdade” exclui toda adoração emocional. A alma é o centro das emoções, e muitas das supostas adorações do Cristianismo atual são apenas emocionais. Anedotas tocantes, apelos entusiastas, oratória comovente de uma personalidade religiosa, tudo é calculado para produzir isto. Hinos lindos cantados por um coro bem ensaiado, trabalhados de uma forma que nos leva às lágrimas ou a êxtases de alegria. Isto pode excitar a alma, mas não pode, nem jamais afetará o homem interior.

A verdadeira adoração é a adoração de um povo redimido, unido ao próprio Deus. Os não-regenerados entendem “adoração” como uma observância daquilo que Deus requer deles, e que não dá a eles nenhuma alegria como eles procuram demonstrar. Muito diferente disto é o que acontece com aqueles que nasceram do alto e foram redimidos pelo sangue precioso. A primeira vez que a palavra “redimido” ocorre na Escritura é em Êxodo 15 , e é lá também, pela primeira vez, que vemos um povo cantando, adorando e glorificando a Deus. Lá, às margens do Mar Vermelho, esta Nação que foi tirada da casa da servidão e liberta de todos os seus inimigos une-se em louvor a Jeová. (N.T.: Na maioria das versões em português, a palavra em Êxodo 15 é “libertado”; a NVI se aproxima mais ao usar “resgatado”).

“Adoração” é a nova natureza no crente levando-o à ação, voltando-se à sua divina e prazerosa Origem. É aquilo que é “espírito” (João 3.6) voltando-se a Ele, que é “Espírito”. É aquilo que é “feitura” de Cristo (Efésios 2.10) voltando-se a Ele, que nos recriou. São os filhos, de forma espontânea e grata, voltando-se em amor a seu Pai. É o novo coração gritando “Graças a Deus pelo seu dom inefável!” (II Coríntios 9.15). São os pecadores, purificados pelo sangue, exclamando “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Efésios 1.3). Isto é adoração; assegurada de nossa aceitação no Amado, adorando a Deus porque Ele fez Cristo estar em nós, e porque Ele fez nós estarmos em Cristo.

É digno de nossa atenção especial observar que a única vez em que o Senhor Jesus chegou a falar sobre o assunto da Adoração foi em João 4. Mateus 4.9 e Marcos 7.6,7 são citações do Antigo Testamento. Isto certamente tocará nossos corações se percebermos que a única ocasião em que Cristo fez alguma observação direta e pessoa quanto à adoração foi quando Ele conversava, não com um homem religioso como Nicodemos, ou mesmo com Seus apóstolos, mas com uma mulher, uma adúltera, uma Samaritana, uma quase pagã! Verdadeiramente os caminhos de Deus são diferentes dos nossos.

A esta pobre mulher nosso Senhor bendito declarou “Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem” (João 4.23). E como o Pai “procura” adoradores? O contexto inteiro não nos dá a resposta? No início do capítulo, o Filho de Deus inicia uma jornada (vv. 3 e 4). Seu objetivo era buscar uma de Suas ovelhas perdidas, revelar-Se a uma alma que não O conhecia, livrar a mulher dos desejos da carne, e encher seu coração com Sua graça suficiente, e isto, para que ela pudesse encontrar a infinitude do amor divino e dar, em retorno, este louvor e adoração que apenas um pecador salvo pode dar.

Quem pode não perceber que, na jornada que Ele tomou a Sicar com o objetivo de encontrar esta alma desolada e ganhá-la para Si próprio, temos uma bendita sombra da jornada ainda maior que o Filho de Deus tomou – deixar a paz, o gozo e a luz dos céus, descer a este mundo de conflito, escuridão e desventura. Ele veio aqui procurar pecadores, não apenas salvá-los do pecado e da morte, mas concedê-los beber e deleitar-se com o amor de Deus como nenhum anjo pôde prová-lo; que, de corações transbordantes com a consciência de sua dívida com o Salvador, e a gratidão ao Pai por ter entregue Seu Filho amado a eles, ao perceber e aceitar Sua excelência suprema, possam expressar-se diante dEle como aroma suave de louvor.Isto é adoração, e o reconhecimento do amor irresistível de Deus e o sangue redentor de Cristo são a causa disto.

Uma dos mais abençoados e belos exemplos registrados no Novo Testamento do que a adoração é se encontra em João 12.2,3. “Fizeram-lhe, pois, ali uma ceia, e Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. Então Maria, tomando um arrátel de ungüento de nardo puro, de muito preço, ungiu os pés de Jesus, e enxugou-lhe os pés com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do ungüento”. Como alguém já disse, “ela não veio ouvir um sermão, apesar do Príncipe dos Pregadores estar ali. Sentar-se aos Seus pés e ouvir Sua palavra não era naquele momento seu objetivo, não importa quão abençoador isto seja em sua devida circunstância. Ela não veio para encontrar os santos, entretanto preciosos santos estavam ali; nem a comunhão com eles; mesmo sendo uma benção, naquele instante não era seu objetivo. Ela não procurou, depois de uma semana de trabalho, por descanso; mesmo sabendo bem dos abençoados campos de descanso que havia nEle. Não, ela veio para pôr diante dEle aquilo que ela tinha ajuntado por tanto tempo, aquilo que era a mais valiosa de suas posses terrenas. Ela não pensou como Simão, o leproso, sentado agora como um homem limpo; ela foi além ds apóstolos; e, então, também, de Marta e Lázaro, irmã e irmão na carne e em Cristo. O Senhor Jesus preencheu seus pensamentos: Ele havia ganho o coração de Maria e agora tomou todos os seus sentimentos. Ela não tinha olhos para ninguém além dEe. Adoração e homenagem eram, naquele momento, seu único pensamento – extravasar a devoção de seu coração diante dEle”. Isto é adoração.

O assunto da adoração é muito importante, ainda asim é um dos temas que temos as idéias mais vagas. Lemos em Mateus 2 que os magos levavam seus “tesouros” para presentear a Cristo (v. 11). Eles deram ofertas caras. Isto é adoração. Não é vir para receber dEle, mas render-se diante dEle. É a expressão de amor do coração. Oh, que possamos trazer ao Salvador “ouro, incenso e mirra”, isto é, adorá-lO por causa de Sua glória divina, Sua perfeição moral e Sua morte de aroma suave...

O alvo da adoração é Deus; e o inspirador da adoração é Deus. Só pode satisfazer a Deus aquilo Ele tenha por Si mesmo produzido. “SENHOR... tu és o que fizeste em nós todas as nossas obras” (Isaías 26.13). É somente quando o Cordeiro é exaltado no poder do Espírito que os santos ão levados a cantar “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador” (Lucas 1.46,47). A ausência generalizada e concupiscente desta adoração que é “em espírito e em verdade” deve-se a uma ordem de coisas sobre as quais o Espírito de Deus não guia, onde o mundo, a carne e o diabo têm toda liberdade. Mas mesmo em círculos onde o mundanismo, em suas formas mais vis, nao é tolerado, e em que a ortodoxia é tolerada, e onde a ortodoxia ainda é preservada, existe, quase sempre, uma notável ausência desta unção, esta liberdade, esta alegria, que são inseparáveis do espírito da verdadeira adoração. Por que isto acontece? Por que em algumas igrejas, grupos familiares, uniões masculinas, onde a mensagem da Palavra de Deus é ministrada, nós agora mui raramente encontramos este transbordar do coração, estes manifestações espontâneas de adoração, estes “sacrifícios de louvor”, que deveriam ser achados entre o povo de Deus? Ah, a resposta é difícil de encontrar? É porque há um espírito entristecido neste meio. Esta, meus amigos, é a razão pela qual hoje existem tão poucos ministérios de Cristo vivos, confortadores e que produzem adoração.

Obstáculos à Adoração

O que é adoração? Louvor? Sim, e mais; é um amor fluindo de um coração que está completamente seguro da excelência dAquele diante de quem o coração ajoelha-se, expressando sua mais profunda gratidão por Seu dom inefável. Aqui está claramente algo que é o primeiro obstáculo à adoração de um filho de Deus – a falta de segurança. Quanto mais eu retenho dúvidas quanto à minha aceitação em Cristo, mais eu permanecerei em um estado de incerteza em relação à expiação por meus pecados no Calvário. É impossível que eu, realmente, adore e louve a Ele por Sua morte por mim; certamente não poderei dizer “eu sou do meu Amado e Ele é meu”. É uma das ferramentas favoritas do inimigo para manter os cristãos no “Cativeiro da Rejeição”, já que seu objetivo é que Cristo não receba dos cristãos a honra de seus corações...

Outro grande obstáculo à adoração é a falha em julgar a nós mesmos pela Sagrada Palavra de Deus. Os sacerdotes de Israel não podiam ir de qualquer jeito até o altar de bronze no átrio exterior do tabernáculo. Era necessário cuidar que, antes que entrassem no Santo Lugar, para queimar o incenso, eles se lavassem na pia. Aproximar-se da pia de bronze nos fala do rigoroso julgamento do crente sobre si mesmo (cf. I Coríntios 11.31). O uso de sua água aponta para a aplicação da Palavra a todos os nosso atos e caminhos.

Agora, assim como os filhos de Arão estavam debaixo de pena de morte (Êxodo 30.20) se não se lavassem na pia antes de entrarem no Santo Lugar para queimar incenso, também o cristão hoje deve ter as impurezas do caminho removidas antes que ele possa aproximar apropriadamente de Deus como um adorador. Falhar neste ponto leva à morte, isto é, eu continuo sob o poder contaminador das coisas mortas. As impurezas do caminho são resultado de minha caminhada através de um mundo de “separados da vida de Deus” (Efésios 4.18). Se isto não for removido, então eu continuo debaixo do poder da morte num sentido espiritual, e a adoração se torna impossível. Isto nos é demonstrado plenamente em João 13, em que o Senhor diz a Pedro “Se eu te não lavar, não tens parte comigo”. Quantos são os cristãos que, ao falharem em não colocar seus pés nas mãos de Cristo para limpeza, são impedidos de exercer suas funções e privilégios sacerdotais.

Um outro obstáculo fatal à adoração precisa ser mencionado, e este é o Mundanismo, que significa as coisas do mundo obtendo lugar nos desejos do cristão, seus caminhos tornando-se “conformados com este mundo” (Romanos 12.2). Um exemplo disto é encontrado na história de Abraão. Quando Deus o chamou para deixar a Caldéia e ir para Canaã, ele abriu uma concessão: foi apenas até Harã (Gênesis 11.31, Atos 7.4) e habitou ali. Harã foi uma casa à meio-caminho, uma área inóspita entre ela e as bordas de Canaã. Mais tarde Abraão atendeu completamente ao chamado de Deus e entrou em Canaã, e “edificou ali um altar (algo que fala de adoração) ao SENHOR” (Gênesis 12.7). Mas não existe menção alguma de ele construir qualquer “altar” durante os anos em que viveu em Harã! Oh, quantos filhos de Deus hoje estão comprometidos, habitando numa casa no meio do caminho, e como conseqüência, eles não são adoradores. Oh, que o Espírito de Deus possa trabalhar de tal forma sobre e dentro de nós que o idioma das nossas vidas, assim como dos nossos corações e lábios, possa ser “Digno é o Cordeiro” – digno de uma consagração do coração por completo, digno de uma devoção imensa, digno deste amor que é manifestado por guardar Seus mandamentos, digno de uma adoração verdadeira. Que seja assim, por amor de Seu nome.

Por A. W. Pink

O culto online e a tentação do Diabo

Você conhece o plano de fundo deste texto olhando no retrovisor da história recente: pandemia, COVID-19... todos em casa e você se dá conta ...