terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Efésios 1.3 - Exposição em Efésios - Sermão pregado dia 12.02.2012


Efésios 1.3 - 
Exposição em Efésios - 
Sermão pregado dia 12.02.2012

"Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo" (Ef 1.3).

Temos visto como o apóstolo Paulo se importava com os irmãos e fieis em Cristo Jesus. Essa é uma característica importante do verdadeiro cristão, pois uma vez transformado pelo Espírito Santo, já não vive para si mesmo, como que ainda buscando satisfazer as concupiscências da carne (1Jo 2.16; Tg 1.14), mas passa agora a trilhar um caminho melhor, isto é, um caminho mais excelente (1Co 12.31), "... uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus" (Fp 3:13-14).

A vida do fiel em Cristo Jesus não deve ser voltada para si mesmo. Também não deve ser um amor meramente altruísta, como que sempre querendo agradar os outros. O andar do crente precisa ser pautado pelo amor em Cristo Jesus, pois uma vez fixado nessa aliança, todos os seus afazeres serão voltados não mais para si, nem mesmo - somente - para os outros, mas para Deus. Isto é, ainda que humanamente possa vir a chatear os seus, no entanto sua consciência lhe traz paz e sossego, pois está vivendo em busca de agradar ao Senhor, pois "Mais importa obedecer a Deus do que aos homens" (At 5:29).

Em nosso texto de hoje, após Paulo ter recomendado a graça e a paz do Senhor Jesus Cristo (1.2), agora passa a louvar ao Senhor pelo bem que havia executado na vida daqueles irmãos em Éfeso.

"Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo" (1.3a). Essas palavras dever-nos-iam ser muito profundas, pois notemos que o apóstolo não se põe a louvar qualquer outro homem nesse mundo, nem tampouco engrandece alguma outra divindade, mas tão somente bendiz o Senhor, o artífice da criação, como que sendo desejoso de mostrar aos irmãos o quão agradecido ele era pela obra salvífica operada no seu meio, de modo que não poderia louvar a ninguém mais, exceto o Deus e Pai de nosso Mestre. De forma muito semelhante também lemos do salmista: "Cantai ao SENHOR, bendizei o seu nome; anunciai a sua salvação de dia em dia" (Sl 96.2). Tanto o apóstolo como o salmista, reconhecem que a causa primária de todas as coisas existentes vem do Senhor Deus. Não foi à toa que os antigos tiveram como um dos versículos mais belos e majestosos acerca da soberania de Deus o primeiro verso bíblico: "No princípio... Deus" (Gn 1.1).

As Escrituras estão recheadas da soberania de Deus e de dizeres que demonstram que o único que deve ser bendito (isto é, aclamado, adorado, reverenciado, merecedor de toda glória...) é o Criador dos céus e da terra. Assim também expressou o apóstolo João quando registrava as palavras vindas do Senhor: "Eu sou o Alfa e o Omega, o princípio e o fim" (Ap 1.8; 1.11; 21.6; 22.13).

Bendizer ao Senhor é mais do que uma atitude de mero agradecimento e estima pelo que Ele fez por nós. Bendizer ao Senhor é tê-lo como mais precioso do que tudo que temos e possuímos. Ao bendizer o nome do Altíssimo nós nos rebaixamos e dizemos que toda honra e glória pertencem ao Seu nome (Ap 21.26); nos humilhamos e exaltamos os Seus feitos - "Ele faz coisas grandes e inescrutáveis, e maravilhas sem número" (Jó 5.9; 9.10; 37.5; Sl 126.3) -, dizemos que uma vez mortos, toda glória de nossa salvação pertence a Ele (Ef 2.1) e que tudo quanto respira deve louvar o Seu nome (Sl 150.6).

Paulo também nos faz reconhecer que Jesus Cristo, tendo descido em forma humana e corpórea à Terra, estava intimamente ligado ao Pai, no qual também era participante e juntos eram o único Deus. O apóstolo expõe aos Efésios que Jesus Cristo tomou a forma de servo (também em Fp 2.7), encomendando-os que quanto à distinção das pessoas da trindade, era subordinado ao Pai, ao passo que também era Deus com Ele. Jesus Cristo é um em substância com o Pai, mas no tocante às pessoas da trindade, foi gerado pelo Pai (mas não é uma mera criatura); contudo não deixa de ser Deus. 

Essa distinção acima nos é importante, pois uma vez que o próprio Cristo é também Deus, vemos de que modo gracioso veio ao mundo e se fez servidor (servo) dos homens (tudo visando a glória de Deus), nos ensinando a preciosa lição de que não nos importa o quão grande seja nossa posição, o amor ao Senhor deve prevalecer em todos os nossos feitos. Ainda, também nos ensinou que mesmo que possamos fazer tudo o que a Lei requer e tenhamos amado ao Senhor conforme o que Ele nos recomenda, nenhum orgulho deve perpassar em nossos corações - "Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer" (Lc 17.10). O servo inútil não é aquele que para nada serve, e sim é aquele que cumpriu bem o seu papel, contudo, não fez mais do que a sua obrigação, devendo portanto ser humilde e reconhecer que tudo o que recebeu veio do Senhor.

"o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais" (1.3b). Aqui, o apóstolo é incisivo em sua colocação, isto é, não apenas bendiz e louva ao Senhor pelo que Ele havia feito em meio ao Seu povo, mas também lhes escreve dizendo que os feitos do Senhor são acompanhados de bênçãos para todos os que O temem. Mas notemos que a apóstolo descreve um tipo de bênção específica: a espiritual.

A bênção espiritual não provém de um entendimento místico de alguma "força" não conhecida. O sentido de "espiritual" dado por Paulo é aquele que advém de nossa filiação com Cristo, ou seja, termos as bênçãos espirituais é sinônimo de sermos participantes dos benefícios que decorrem dessa adoção por amor - "Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e não te esqueças de nenhum de seus benefícios" (Sl 103.2 - já preguei sobre isso, clique aqui para ler). Também importa-nos notar que a bênção espiritual nem sempre relaciona-se com àquilo que pensamos ser bênção do Senhor, isto é, por muitas vezes a dor e o desespero momentâneo tomam conta de nosso ser e pensamos que o Senhor não está nos abençoado, ou ainda que esqueceu-se nós; porém, o fato é até mesmo em meio à todas as dificuldades, as "bênçãos espirituais" estão presentes, pois "sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito" (Rm 8.28).

Esse é um entendimento que nunca deve nos escapar à compreensão, pois é chave para entendermos o fim de nosso versículo, isto é, que somos abençoados "nos lugares celestiais em Cristo". 

"Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar" (Jo 14.2). Cristo nos ensina que nos céus, na habitação do Eterno, há fartura de suprimento para nossas vidas, pois descreve aquele lugar como sendo um local próprio para a morada do homem. Notemos que Ele não a descreve como que sendo uma pousada ou resort temporário, mas uma "morada", um local onde o homem pode ser sustentando, onde existem meios de subsistência, onde há leis firmemente estabelecidas, onde não impera a bagunça nem a desordem. 

Assim também parece ser o intento de Paulo ao dizer-nos que nossas bênçãos estão nos lugares celestiais, como que desejando comunicar aos crentes que o ápice da vida cristã não está nessa terra (ainda que aqui desfrutemos de Sua presença), mas sim nos céus, nas moradas preparadas por Cristo e onde estaremos "em Cristo". Também notamos que a palavra "celestiais" quer transmitir-nos as insondáveis riquezas e bênçãos que estão em Cristo. Ora, uma vez que habitamos em um mundo vil e corrompido e que carregamos a  semente do pecado, nada mais prudente do que o Senhor nos legar um ensinamento concernente à coisas espirituais, no intento de nos educar para que não nos apoiemos em nossas próprias faculdades, mas que confiemos no inescrutável e sábio propósito de Cristo.

O evangelho segundo João registra as seguintes palavras: "Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; porque a este o Pai, Deus, o selou" (Jo 6.27). E também: "E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho" (Jo 14.13). Tiago complementa esse pensamento ao escrever: "Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites" (Tg 4.3). Qual é então a forma correta de entendermos as bênçãos do Senhor?

Em primeiro lugar, as bênçãos de Cristo Jesus decorrem de nossa filiação a Ele. "Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai" (Rm 8.15). O apóstolo Paulo escreve aos romanos dizendo que já não deveriam viver no espírito da escravidão, mas sim em amor, pois houveram por ser adotados pelo Senhor e com isso receberam "o Espírito de adoção de filhos". Daí também o apóstolo nos ensinar que a adoção pelo Senhor não é fruto de nossa conquista, mas uma graça sem fim da parte de Deus Pai, cuja única exclamação que deve sair de nossos lábios é "Aba, Pai" - nosso pai querido que mui nos estima e que com grande amor nos resgatou para Si quando ainda estávamos mortos em nossos delitos e pecados (Ef 2.1); naquele tempo em que ainda éramos filhos da Ira (Ef 5.6; Cl 3.6); quando andávamos como que como ovelhas desgarradas (1Pe 2.25), mas que foram salvas e colocadas a salvo no devido aprisco (Jo 10.16).

Em segundo lugar,  as bênçãos do Senhor são um desdobramento de nossa busca por Ele. "Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas" (Mt 6.33). O evangelho de Mateus registra essas belas e preciosas palavras que nos ensinam a ter uma ordem específica em nossas vidas, quer dizer, se desejamos que "todas as coisas nos sejam acrescentadas" - aquilo que é necessário para nossa subsistência -, é mister que iniciamos a labuta buscando "primeiro o reino de Deus, e a sua justiça". Será inútil todo esforço para alcançar os provimentos e sustento para essa vida se não nos pautarmos pelas Escrituras Sagradas. O próprio Senhor anteriormente havia dito, "Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos?" (Mt 6:31), nos ensinando que a prioridade de nossas vidas deve ser de conhecer e obedecer ao Senhor - "Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos" (Os 6.6) -, pois é dessa forma que somos abençoados.

Em terceiro lugar, a bênção é subsequente ao firme posicionamento de seguir somente ao Senhor. "Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; porque o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento, e lançada de uma para outra parte. Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa" (Tg 1:6-7). Ao escrever sobre a importância de pedir sabedoria ao Senhor, Tiago nos ensina que precisamos ser centrados em nosso chamado ao Senhor Jesus - "E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus" (Lc 9.62). A triste história da mulher de Ló (Gn 19.26) nos alerta sobre o perigo de caminharmos para fora da destruição, mas ainda mantermos um coração amante pela antiga cidade pecaminosa. Assim também o profeta alertou o povo: "Então Elias se chegou a todo o povo, e disse: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o SENHOR é Deus, segui-o, e se Baal, segui-o. Porém o povo nada lhe respondeu" (1 Rs 18:21 - Mt 6.24).

Em último lugar, a bênção do Senhor não é sempre conforme o que imaginamos. "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?" (Jr 17.9). A palavra do Senhor constantemente nos alerta sobre o perigo que corremos ao confiarmos em nossas próprias vontades, como que imaginando que elas sejam a vontade do Senhor. Muitos homens e mulheres são enganados por seus pensamentos e vãs imaginações, porque se põem a crer que os intentos do seu coração são os mesmos da palavra de Deus. "Sucedia, pois, que, decorrido o turno de dias de seus banquetes, enviava Jó, e os santificava, e se levantava de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles; porque dizia Jó: Talvez pecaram meus filhos, e amaldiçoaram a Deus no seu coração. Assim fazia Jó continuamente" (Jó 1.5). Jó era um homem justo e íntegro (Jó 1.8), um exemplo para todos, pois até mesmo suplicava pelos pecados que seus filhos poderiam ter cometido. Contudo, até mesmo esse homem não conseguiu compreender - durante certo tempo - o quanto Deus o estava abençoando. Nós sabemos da história e de como o Senhor moldou o seu coração, porém, custou-lhe muitas lágrimas e feridas essa transformação. Assim como a massa deve ser modelada e apertada na forma do Artífice, assim também os filhos de Deus são muitas vezes refinados pelo fogo e isso lhe custa um certo tormento momentâneo, contudo, "agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações, Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo; Ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso; Alcançando o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas" (1Pe 1:6-9).

Nosso Senhor nos ensina: "Portanto, se a tua mão ou o teu pé te escandalizar, corta-o, e atira-o para longe de ti; melhor te é entrar na vida coxo, ou aleijado, do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno" (Mt 18.8; Mc 9.43). A bênção do Senhor muitas vezes vem acompanhada de um duro e intenso sacrifício por seu amor. Jesus Cristo nos exorta a cortar, decepar, arrancar, estrangular, extirpar... todo intento, pensamento, vontade, desejo, prática... que seja contrária à Sua palavra. Infelizmente muitos têm sido tragados pelo Pântano da Desconfiança (na alegoria de John Bunyan em O Peregrino), pois em vez de buscarem o reto caminho e confiarem que o Senhor os susterá em meio ao vale da sombra da morte, se colocam a confiar em suas próprias paixões e creem que por si mesmos estão aptos a pelejar contra o inimigo.

Certamente que na passagem de hoje o Senhor intenta nos transmitir sobre a grandiosa obra que Ele vem operando em nossas vidas. Primeiro porque é d'Ele que provém todo o nosso sustento e, por conseguinte, que somos constantemente abençoados pelo próprio doador da Vida, isto é, é Ele mesmo que opera "tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade" (Fp 2.13). E se assim é, nada mais nos resta, exceto "[sair] pois, a ele fora do arraial, levando o seu vitupério. Porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura" (Hb 13:13-14) e clamar: "Sustenta-me conforme a tua palavra, para que viva, e não me deixes envergonhado da minha esperança. Sustenta-me, e serei salvo, e de contínuo terei respeito aos teus estatutos" (Sl 119.116-117).

Amém.

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