segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Segundo elemento constitutivo do culto público: Leitura da Palavra de Deus - Sermão pregado dia 23.10.2011 -


Segundo elemento constitutivo do culto público:
Leitura da Palavra de Deus -
Sermão pregado dia 23.10.2011

Queridos irmãos, dando continuidade ao que vimos na semana passada, a saber, que a pregação a partir da Bíblia é o primeiro elemento do culto público (clique aqui para ler), hoje veremos o segundo elemento que constitui o culto público do Senhor: a leitura da Palavra de Deus.

Antes de iniciarmos esse ponto, é importante salientar que quando falamos sobre "elementos constitutivos do culto público", estamos a dizer que a Bíblia nos relata uma série de feituras durante a reunião dos crentes em Cristo Jesus e que esses feitos devem ser continuados pelos cristãos de hoje. Isso também significa dizer que quando nos reunimos, buscamos fazer somente aquilo que temos aval bíblico (em forma de doutrina ou exemplo), para não corrermos o risco de acrescentarmos "atos de louvor" não prescritos e autorizados pelas Escrituras. "Tudo o que eu te ordeno, observarás para fazer; nada lhe acrescentarás nem diminuirás" (Dt 12:32).

Ainda em tempo: mas como podemos saber o que Jesus e os próprios apóstolos faziam durante o culto público? Certamente que a resposta não nos é muito fácil de responder, contudo quando lemos as Escrituras percebemos que em momento algum nos é dito que os apóstolos fizeram um teatro, convidaram alguns jovens para dançar em frente à congregação ou que convidaram um grupo musical para servir de "mediador" entre os que cantam e Deus. Não temos esses (e muitas outras práticas corriqueiras da igreja moderna) exemplos bíblicos para nos basearmos. Porém, isso não significa que teatro, dança e banda musical sejam algo errado e pecaminoso, mas sim que essas atividades têm o seu lugar específico em outros momentos da vida cristã, isto é, podem ser feitos (desde que com moderação - como convém aos santos), mas não durante o culto.

Também nos é importante notar que não há na Bíblia um versículo que nos diga o que podemos e o que não podemos fazer durante o culto público e é justamente por isso que precisamos "garimpar" as Escrituras para entendermos o que os apóstolos faziam quando se reuniam para louvar ao Senhor. Nossa defesa será fraca se procurarmos por algum "versículo prova" (um versículo que prove que todos os elementos que estamos estudando são requeridos pelo Senhor), porém ao analisarmos TODA a Escritura, podemos visualizar uma série de elementos que constituíam a vida daqueles santos homens. Traduzindo: embora não tenhamos um versículo específico em que podemos nos embasar, há vários deles e muitas situações que nos mostram o que de fato os apóstolos e a igreja primitiva fazia durante as suas reuniões públicas de louvor e adoração.

O segundo elemento constitutivo do culto público é uma sequencia do primeiro, ou seja, se pregamos somente a partir da Bíblia, também precisamos ler a Bíblia para que sejamos fortalecidos e instruídos no Senhor. 

"Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá" (1 Tm 4:13). Quando Paulo exorta Timóteo sobre como ele deveria guiar a sua igreja até que ele o visitasse, ele o instrui a persistir na leitura da palavra durante a reunião dos santos. Deixem-me dar 3 motivos pelos quais creio que a Bíblia requeira de nós essa prática durante o culto público (veja que há uma diferença entre pregação e leitura da palavra - são dois momentos distintos):

1. A leitura da Palavra de Deus lembra-nos do quão importante ela é.

"Amo os teus mandamentos mais do que o ouro, e ainda mais do que o ouro fino. Por isso estimo todos os teus preceitos acerca de tudo, como retos, e odeio toda falsa vereda. Maravilhosos são os teus testemunhos; portanto, a minha alma os guarda. A entrada das tuas palavras dá luz, dá entendimento aos símplices" (Sl 119:127-130). "A lei do Senhor é perfeita, e revigora a alma. Os testemunhos do Senhor são dignos de confiança, e tornam sábios os inexperientes. Os preceitos do Senhor são justos, e dão alegria ao coração. Os mandamentos do Senhor são límpidos, e trazem luz aos olhos. O temor do Senhor é puro, e dura para sempre. As ordenanças do Senhor são verdadeiras, são todas elas justas. São mais desejáveis do que o ouro, do que muito ouro puro; são mais doces do que o mel, do que as gotas do favo. Por elas o teu servo é advertido; há grande recompensa em obedecer-lhes" (Sl 19:7-11). 

A leitura da Palavra de Deus leva-nos a vislumbrar o quão precioso é o texto que temos em mãos e que importância ele deve ter em nossas vidas. Os salmistas constantemente expressavam sua paixão pela lei do Senhor e por tudo aquilo que Ele havia instituído para o Seu povo. 

Quando lemos as Escrituras, é importante notarmos que as "proibições" e exortações que ali estão, são para nossa advertência e admoestação, mas também para nossa bênção! Muitos crentes queixam-se de que a Bíblia dispõe de muitas "regrinhas" para suas vidas, porém esquecem-se que, em primeiro lugar, essas "regrinhas" são meios para que o caráter e a vida do homem temente a Deus seja transformado durante sua peregrinação na terra e, em segundo lugar, que essas "regrinhas" não foram feitas por um mero mortal, mas pelo Senhor dos Exércitos, cuja índole impenitente do homem não regenerado não estará livre da ira de Suas mãos e certamente será castigada no tempo oportuno. Tal qual um pai que proíbe seu filho de voltar tarde para casa porque o ama, assim também o Senhor nos traça limites para que trilhemos um caminho Santo por esse mundo, pois "sem santidade ninguém verá o Senhor" (Hb 12.14).

A palavra de Deus deve ser regularmente lida durante o culto, porque isso demonstra à toda congregação (e também aos visitantes) que o povo de Deus que ali se reúne, reúne-se em volta da Palavra de Deus e não à procura de entretenimento e felicidade passageira. Neste ponto, os puritanos foram excepcionais. Após romperem com o anglicanismo e toda sorte de acréscimos que havia dentro da igreja, passaram a eliminar do culto toda e qualquer forma litúrgica e estética que pudesse levar os homens a acharem que o momento do culto era feito para eles próprios e não para Deus. Os puritanos tinham como certo que a centralidade do culto público deveria estar na Palavra de Deus e por isso mesmo fizeram questão de colocar o púlpito exatamente em frente à congregação e no meio dela, pois desejavam que todo homem que entrasse pelas portas da santa igreja, visualizasse imediatamente a centralidade daquele lugar: a palavra Deus. Mas o que encontramos nos dias de hoje? Muitas vezes um imenso palco é o que nos sobe às vistas quando entramos em determinadas igrejas. Grandes e ostensivos sistemas de iluminação e som é que predomina em muitos ambientes - gerando grande dúvida se de fato tem-se a Palavra de Deus como centralidade daquele momento.

É necessário que entendamos que centralidade implica em dizer que precisamos fazer TUDO baseando-nos nas Escrituras. Se cantamos, por que cantamos? Se tocamos, por que tocamos? E ainda: podemos cantar o que estamos cantando? Podemos tocar o que estamos tocando? Parece-me que as vezes a igreja de Cristo tem se tornado "inocente" além do requerido pelas Escrituras. Muitos homens dizem: "Mas isso não tem importância, irmão, é um assunto de pouca importância quando comparado a outras coisas - deixe disso e nos foquemos no amor..." - a estes eu pergunto: como algo pode ser pequeno diante de Deus tão grande e poderoso? Se Deus é soberano e nos deixou Sua Palavra viva para nós, como podemos fazer "pouco caso" daquilo que fazemos em nossos cultos e em nossas vidas?! Acaso o Senhor Jesus fez pouco caso de Seu Pai que havia-o enviado pelos Seus? Em algum momento vemos Jesus dizendo que determinado assunto não tinha importância, pois se eles estavam fazendo um pouco certo e um pouco errado isso já era melhor do que fazer tudo errado? Se "a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e intenções do coração" (Hb 4.12), como pode ser possível que o coração do evangelho que habita nos crentes, por vezes pare de bater, apenas porque alguns homens mesquinhos dizem que não precisamos nos pautar em todo o tempo nas Escrituras? Se queremos ver o sangue do evangelho circulando em nossas veias, é necessário que tenhamos a Bíblia pulsando em nossos corações.

2. A leitura da Palavra de Deus exorta-nos a buscar o Seu conhecimento.

"Meu povo foi destruído por falta de conhecimento" (Os 4.6). "Pois desejo misericórdia, não sacrifícios, e conhecimento de Deus em vez de holocaustos" (Os 6:6).

Quando lemos as Sagradas Escrituras e percebemos algum desvio de determinado homem ou do povo de Deus,  na sua totalidade de vezes (de forma explícita ou implícita), esse desvio se deu por conta do esquecimento da lei do Senhor e de Seus santos e retos propósitos.

Infelizmente temos vivido em uma geração de comida rápida, de computadores rápidos, de conversas rápidas, de amizades rápidas, de casamentos rápidos, de empregos rápidos, de carros rápidos, de viagens rápidas... Tudo tem se tornado passageiro e tudo vem com a mesma facilidade com que vai - e é nesta ceara que os crentes devem labutar arduamente.

O profeta Oséias declara ao povo que o motivo de terem sido destruídos não foi porque tinham boas intenções nem porque eram um povo que buscava conhecer ao Senhor, mas sim porque lhes faltou conhecimento! É sempre importante notarmos que a Igreja de Cristo constitui-se de duas classes de pessoas: dos verdadeiros crentes em Cristo e dos "simpatizantes do evangelho" que na verdade nunca se tornaram filhos de Deus - e é justamente por essa causa que os verdadeiros crentes em Cristo precisam buscar a cada dia o conhecimento de Deus, pois caso contrário serão levados por falsos irmãos e trilharão caminhos contrários à palavra de Deus. 

Paulo escrevendo à igreja de Éfeso e falando sobre a importância da vocação para que eles haviam sido chamados e instruindo-os sobre que deveriam viver em harmonia, diz-lhes que "O propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado para outro pelas ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro" (Ef 4:14). O mal deve ser erradicado de dentro da igreja. Essa conversa de que é melhor que o jovem venha para a igreja e não preste atenção e viva de maneira indigna, do que vá em alguma "festinha" e peque descaradamente, é pretexto para que toleremos o mal dentro da Santa Igreja de Cristo e assim a tornemos impura e sem valor.

Muitos perguntam-se porque é que no Antigo Testamento as pessoas morriam quase que instantaneamente ao cometerem pecado. A resposta é simples: porque o povo de Deus precisava compreender que o pecado é algo horrível e punível com a morte eterna. Homens eram punidos porque violavam o sábado, homens eram mortos porque traíam suas esposas, homens eram mortos porque roubavam e furtavam - homens eram mortos por todo ato contrário à lei de Deus e que merecia a morte. Infelizmente essa doutrina - da punição de Deus - tem sido esquecida pelos crentes nos dias de hoje. Pastores, presbíteros, homens, mulheres, jovens e crianças não têm sido ensinados sobre a ira de Deus e o que acontece aos pecadores impenitentes. A preguiça, o ócio, a rebeldia, a "juventude" teimosa e toda sorte de imundícia tem sido tolerada em nossas igrejas. Mas por que? Porque tem faltado conhecimento aos líderes e ao rebanho que se diz de Cristo Jesus. Conforme o puritano Richard Baxter já escrevera: "Com conhecimento pode-se ir para o inferno, mas sem ele certamente se irá".

É necessário que leiamos a Palavra de Deus para sermos exortados e nos tornarmos santos como Ele é santo. "Não se desviem, nem para a direita nem para a esquerda, de qualquer dos mandamentos que hoje lhes dou, para seguir outros deuses e prestar-lhes culto" (Dt 28.14).

3. A leitura da Palavra de Deus nos torna sábios.

"Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra" (2 Tm 3:16-17).

Amados, nós já pontuamos sobre essa passagem na semana passada, mas convém que mais uma vez a usemos para nossa edificação e transformação à imagem e semelhança de Deus.

Ao lermos as Escrituras no culto público, renovamos nossos votos de que a Palavra de Deus é a nossa regra de fé e conduta prática. Professamos em unidade que não nos submeteremos à vãs imaginações e filosofias alheias à Palavra de Deus e que somente a Santa Escritura - divinamente inspirada - é que pode-nos fazer perfeitos e perfeitamente instruídos para toda a boa obra. Ao lermos as Escrituras temos o dever de passar por pontos "obscuros" da Palavra, pontos esses muitas vezes controvertidos, outras vezes quase indecifráveis, contudo, importantes, pois fazem parte da revelação deixada a nós.

Certa vez ao comentar sobre a importância de ser ter a Palavra de Deus e o Senhor como única fonte de segurança e prazer, Spurgeon disse: "Reunam-se em torno do antigo estandarte. Lutem até à morte pelo evangelho imutável, pois é a sua vida. Que a cruz de Cristo esteja sempre em proeminência, e que todas as benditas verdades que a cercam sejam mantidas com todo o coração. Precisamos ter fé — não só na forma de credo fixo — mas também na forma de constante dependência de Deus. Se me perguntasse qual a mais agradável disposição de ânimo dentro de toda a gama dos sentimentos humanos, não falaria do poder da oração, ou da abundância de revelação, ou de gozos arrebatados ou vitória sobre os espíritos maus; mencionaria como o mais estranho deleite do meu ser, o estado em que se experimenta uma consciente dependência de Deus. Freqüentemente esta experiência tem vindo acompanhada de enormes dores físicas e profundas humilhações do espírito, mas é inexplicavelmente agradável cair passivamente nas mãos do amor e morrer absorvido na vida de Cristo. É um deleite chegar à compreensão de que você não sabe, mas seu Pai celestial sabe; você não pode falar, mas "temos um advogado"; quase não pode levantar a mão, porém Ele opera todas as coisas em você. A absoluta submissão das nossas almas ao Senhor, o pleno contentamento do coração ante a vontade e os caminhos de Deus, a segura confiança do espírito quanto à presença e ao poder do Senhor; isto é o mais próximo ao céu que pode ocorrer conosco. É melhor que o êxtase, pois qualquer um pode permanecer nessa experiência sem esforço ou reação" [1]. Não menos intenso isso, é a forma como devemos buscar conhecer ao Senhor.

Muitos homens têm visto suas vidas fracassarem e seus relacionamentos desmoronarem, mas sequer questionam-se sobre o estado de suas almas. Muitos crentes passam o domingo inteiro em frivolidades, em atividades não essenciais para esse dia. Muitos esperam ansiosos a corrida da Fórmula 1 pela manhã, outros "salvam" seu domingo da chatisse quando assistem à uma rodada de futebol na televisão, mas poucos - muitíssimo infelizmente - dedicam e arquitetam o seu tempo de forma à maximizarem o tempo que terão disponíveis para a leitura, oração, devoção e reflexão na Palavra de Deus. Homens e mulheres têm vivido para os seus próprios umbigos, para satisfazerem as vãs concupiscências "santificadas" pela igreja.

Que possamos reconhecer a importância da Palavra de Deus em nossas vidas. Que ela não transforme apenas os nossos pensamentos, mas atinja também os nossos corações e nossas atitudes. Que nos empenhemos para conhecer a Cristo e sua morte na cruz, mas que não paremos por aqui, e sim que continuemos rumo a conhecer quais são as aplicações de sua morte por nós. Que não sejamos como aqueles que dormem, que não vêm a hora passar e acordam desesperados em meio às trevas da ignorância do pecado. Que Cristo resplandeça em nossas vidas de tal forma que sejamos profundamente constrangidos e instigados a mudar nosso comportamento diante de Sua glória.

Amém.

Nota:

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