quarta-feira, 27 de julho de 2011

Carta a um Pastor que se diz Calvinista


Carta a um Pastor que se diz Calvinista -
por Filipe Luiz C. Machado

*A presente carta é de gênero fictício, embora contenha situações da vida real.
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Boa noite, amado Amadeu.

Por já ser esse o nosso quarto e-mail, não me delongarei muito naqueles pontos que já conversamos, ok? Apenas comentarei sobre aqueles que creio serem mais importantes no momento.

Recentemente lembro-me de você ter comentando comigo acerca das dificuldades que tem tido para conciliar a doutrina calvinista com a geração de hoje. Lembro-me também de você ter expressado o profundo desejo de ser relevante para o mundo de hoje, na expectativa de que o reino de Deus seja proclamado com força e vigor. Permita-me, porém, reforçar aquilo que já havia conversado com você anteriormente.

Fico grato a Deus que tem levado-o a buscar a fé em nosso Senhor Jesus Cristo e que isso o tem motivado para um desejo ainda maior de cuidar dos que estão sob seu cuidado. O problema, meu caro Amadeu, é que tenho visto que esse seu desejo de conformar-se à fé calvinista na verdade está sendo deturpado por visões errôneas quanto ao que vem a ser o verdadeiro calvinismo. Sei que você tem lido alguns autores dessa fé, contudo, vejo que ainda resta-lhe um longo caminho para compreender as reais doutrinas da graça. Não que você não tenha conhecimento - pois disso todos nós carecemos - mas parece-me que há uma disparidade entre o calvinista sério e aquele que apenas simpatiza com ele.

O calvinista sério - e nesse ponto poder-se-ia ler também como cristão reformado - leva as doutrinas da graça no mais profundo esmero, tentando conformar-se àquilo que o Senhor nos delegou em sua santa palavra. É dever desse homem buscar fazer somente aquilo que encontra permissão nas sagradas escrituras. Sim, é lógico que há coisas que fazemos que não estão explicitadas nas escrituras (horário do culto, tipo de banco, quantidade de orações antes da palavra...), porém, todas elas devem ser norteadas pela Palavra. Para aquela sua dificuldade de entender o "Sola Scriptura", mais tarde lhe recomendarei alguns bons livros. Permita-me também dizer: o calvinista sério não é aquele que tenta ser relevante para esse mundo.

Meu querido, a igreja nunca será relevante para o mundo - pois odeia o que a igreja ama (a santidade, a injúria pelo pecado, a soberania total de Deus...). Sim, eu sei que você sabe disso, mas sua prática até aqui tem sido diferente daquilo que tem professado e conversado comigo. Sim, Amadeu, sei também que você tem lutado para introduzir a fé calvinista em sua igreja, mas você se lembra da última vez que fui visitar sua igreja e ao final do culto você perguntou-me: "O que achou da pregação?" ao passo que lhe respondi em amor: "Qual pregação, meu amado? Não ouvi pregação, apenas algumas historietas e seu testemunho, mas não ouvi pregação da palavra"? É disso que falo: enquanto o púlpito não for forte, a igreja será fraca.

Sei também que você não deseja dar comida sólida demais para os seus, mas é necessário compreender que muitas vezes aquilo que achamos ser sólido demais, na verdade é o leite espiritual (1Pe 2.2), muitíssmo necessário e porque não, indispensável para a fé cristã. Não caia no conto de homens que perverteram seus caminhos em busca de fábulas e engenhos humanistas e que dizem que os membros da igreja precisam apenas do superficial, do feijão com arroz e que os que quiserem aprender mais, que leiam muito e frequentem um seminário. Sim, concordo com você que devemos ter toda cautela necessária para que o entendimento do evangelho seja de forma gradual - para melhor assimilação e edificação pessoal- mas receio que você esteja indo devagar demais nessa caminhada.

É necessário que todo nós entendamos o que é ser igreja de Cristo nesse mundo. Ser igreja não é ser sequer um pouco parecido com o mundo. Novamente, lembro-me do seu desejo de expalhar o evangelho por esse geração incrédula, mas lembre-se - e nesse ponto gostaria que você meditasse e buscasse a Deus em oração - que apresentações musicais, danças, teatro, filmes "bíblicos" no lugar da pregação e coisas desse tipo, em nada diferem desse mundo e por isso são perniciosas para o evangelho de Cristo quando incorporadas no culto ao Senhor. Não que essas coisas sejam erradas em si - não me compreenda mal - mas elas tem o seu devido lugar; e com todo o respeito que lhe é devido, esse lugar não é a igreja.

Por fim, permita-me ainda insistir mais vez para que você leia os verdadeiros calvinistas: os puritanos. Ao contrário do que você tem me dito e do que se ouve por aí, os puritanos não eram gente retrógrada, ultrapassada e que não tinham amor pela criação de Deus - bem pelo contrário, eram homens e mulheres que tentavam viver e fazer tudo para a glória de Deus (1Co 10.31), a fim de que Cristo fosse exaltado em suas vidas e nas suas comunidades locais.

Que o Senhor possa conceder-lhe um avanço à verdadeira fé trilhada pelos grandes homens bíblicos que já pisaram por essa terra e que Ele conceda-lhe intrepidez para fazer as mudanças necessárias em sua vida e em sua igreja.

Em Cristo e para a progressão do Seu reino,
Filipe Luiz C. Machado

Um comentário:

  1. gostei!
    Quem escreve muito no nesse estilo de cartas é o Rev.Nicodemus
    Paz

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