quinta-feira, 30 de junho de 2011

Como quebrar os 10 mandamentos usando o Twitter, Orkut, Facebook...

Como quebrar os 10 mandamentos
usando o Twitter, Orkut, Facebook... -
Texto por Filipe Luiz C. Machado

1. "Não terás outros deuses diante de mim."

Orkut, Twitter, Facebook, MSN, Myspace e qualquer outra rede social pode nos levar a ter outros deuses além do Senhor. Quebram esse mandamento não somente os católicos romanos, espíritas, hinduístas ou outro grupo, mas qualquer cristão que dá mais valor às coisas terrenas do que ao criador. "Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém." (Rm 1.25).

2. "Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra."

O restante do mandamento nos diz: "Não te encurvarás a elas nem as servirás" (v.5), portanto, quebramos o segundo mandamento ao usarmos tais programas se passamos a servir mais à eles do que ao Deus verdadeiro. Também podemos violar esse mandamento quando desenhamos e colocamos fotos que tentem expressar terrenamente e fisicamente o Deus invisível.

3. "Não tomarás o nome do SENHOR teu Deus em vão."

O nome do Senhor é muitas vezes blasfemado quando encontramos "cristãos" que estão em comunidades ou rodeados de mensagens de amigos que nada trazem de cristã em sua essência e encontramos em tal perfil religioso o nome: "Cristão". O nome do Senhor é tomado em vão quando professa-se inutilmente uma fé inativa, destituída da verdade e sem obras. "Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta?" (Tg 2.20).

4. "Lembra-te do dia do sábado, para o santificar."

É dever de todo cristão lembrar-se do sábado do Senhor. Não como fazem alguns, mas da forma como a igreja primitiva executou - a troca do sábado pelo domingo. "Sabemos que os principais eventos da era cristã ocorreram no domingo: Jesus ressuscitou (Jo 20.1), Jesus apareceu aos dez discípulos (Jo 20.19), Jesus apareceu aos onze discípulos (Jo.26), o Espírito Santo desceu no dia de pentecostes, que era um domingo (Lv 23.15,16 - o dia imediato ao sábado), o primeiro sermão pregado por Pedro foi proferido, resultando em 3000 convertidos (At 2.14), em Trôade os crentes se ajuntaram para adorar (At 20.7), Paulo instruiu aos crentes para trazerem as suas contribuições (1Cr 16.2), Jesus apareceu e João em Patmos (Ap 1.10)". [1] Quebramos esse mandamento quando não descansamos no Senhor - no seu dia - e nos jogamos em frente ao computador para satisfazer nossos desejos e curiosidades frívolas.

5. "Honra a teu pai e a tua mãe."

Quando se desobedece ao pai e a mãe que pediram para se sair do computador e vir almoçar, jantar ou fazer qualquer outra coisa, quebramos esse mandamento. Quando difamamos nossos pais pela internet - reclamando e falando mal deles - e também nossos superiores (pois o mandamento abrange também nossos superiores), acabamos por quebrar o quinto mandamento. É dever do cristão prezar pela honra e boa fama de seus pais.

6. "Não matarás."

Embora a grandiosa maioria se afilie a tais programas sem nunca ter matado alguém, corre-se o risco de criar um ódio mortal por alguém ao ponto de desejar, maquinar e executar tal desejo. Com toda a certeza tal mandamento não é apenas quebrado nesses lugares, mas muitas vezes a facilidade para se esconder diante de um apelido ou nome falso, facilitam e podem levar à violação de tal mandamento.

7. "Não adulterarás."

Bem sabe-se que a internet é o grande vilão para todo homem e mulher - seja casado ou solteiro. Tais programas favorecem - e muitas vezes incentivam! - o adultério, o flerte "sem compromisso", a promiscuidade e os desejos carnais que não são benditos aos cristãos. Certamente o adultério (cônjuge casado que se enamora e tem relações com alguém que não é seu parceiro) é grandemente incentivado e pode vir a tornar-se grande pedra de tropeço para qualquer cristão sincero. "Eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela" (Mt 5.28).

8. "Não furtarás."

Assim como os dois últimos mandamentos, este também não é obrigatório que aconteça em tais lugares, mas certamente pode vir a acontecer, pois o grande apelo que vemos pela beleza, riqueza e saúde exacerbada, podem nos levar à cogitarmos a possibilidade de praticarmos um pequeno furto em um supermercado, farmácia ou outro estabelecimento - tudo para nos parecermos com àquilo que as pessoas promovem e vemos ao nosso ao redor.

9. "Não dirás falso testemunho contra o teu próximo."

É lamentável vermos como tais redes e programas promovem brigas e contendas por coisas absolutamente inúteis e sem qualquer valor moral sincero. Muitas vezes tais redes sociais servem única e exclusivamente para se fofocar e falar mal do próximo, quando na verdade deveríamos ir ao próximo para conversarmos e expormos nossos problemas para com ele. Quebramos o nono mandamento quando falamos coisas inverídicas sobre alguém, quando pensamos determinadas coisas sobre alguém não sabendo se de fato é verdade e mesmo assim "compartilhamos" com o próximo. Quebramos tal mandamento quando caluniamos nosso próximo sem que ao menos ele possa defender-se e/ou pedir perdão.

10. "Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo."

Assim como tão terrível é caluniar o próximo, também podemos incorrer em grande erro quando usamos tais redes para ficar "apenas" olhando as fotos do próximo e desejando seus pertences - quando não sua mulher ou marido! Quebramos o décimo mandamento quando desejamos nos associar a determinadas pessoas apenas para termos acesso à suas informações pessoais e podermos ficar bisbilhotando sua vida e desejando tudo o que ele(a) tem e nós não temos.

Que Deus possa nos conceder graça, ousadia e um coração arrependido para não irmos além daquilo que ele determinou em sua palavra.

Nota:
[1] A Lei de Deus hoje, Solano Portela - Ed. Os Puritanos, pág. 88.

Fonte: O Cotidiano Cristão

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Um Evangelho mais aceitável?


Um Evangelho mais aceitável? -
por Martyn Lloyd-Jones

A tentativa de tornar o evangelho aceitável aos homens já é em si errada. Diz-nos a Bíblia que o homem está num estado de pecado, que o homem está cego, cegado pelo deus deste mundo, que "a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser" (Romanos 8:7), que "o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente" (1 Coríntios 2:14). Essa tendência moderna esquece tudo isso. A idéia de que você pode tomar o evangelho e, por causa do conhecimento moderno, apresentá-lo de tal modo que vai ser mais fácil ao homem moderno crer nele, é uma negação do evangelho. "O escândalo da cruz" (Gaiatas 5:11)desapareceu, o escândalo do cristianismo evaporou-se, a "loucura" da pregação ou da mensagem pregada não é mais verdadeira. Está completamente errado.

Deixem-me, porém, acrescentar isto: é também tolo demais. Se eu preciso do conhecimento moderno para me ajudar a crer na Bíblia, como é que as pessoas criam nela no passado? Se eu tenho que apoiar-me na microfísica e dar graças a Deus por ela porque agora ela me torna fácil crer no evangelho, que dizer das pessoas que aceitavam as teorias de Isaac Newton? Noutras palavras, se vocês usarem essa atitude moderna como teste da história, verão que imediatamente a coisa toda se torna ridícula.

Eis mais uma razão: não há nada mais perigoso do que ser dirigido pelo conhecimento moderno. Por quê? Porque o que é conhecimento moderno hoje, será obsoleto amanhã, ou pelo menos em dez anos, ou certamente dentro de cinqüenta anos. Onde estão os "resultados seguros" da Alta Crítica contra a qual o Dr. Campbell Morgan teve que lutar quando estava aqui, antes da Primeira Guerra Mundial? Tantos deles esvairam-se no ar. Não se têm "resultados seguros". Nada é tão precário como basear qualquer parte da sua posição no conhecimento moderno ou na ciência moderna. De igual modo, nada é tão perigoso como a tendência moderna de confundir teorias e fatos.

Finalmente, considerem isto: o moderno evangélico conservador que pensa segundo essas linhas, faz isso porque quer conquistar pessoas para o evangelho. Mas, considerem o que diz um escritor americano, chamado Hordern, escrevendo em 1959, na obra, The Case for a New Reformation Theology (Argumentação em prol de uma Teologia da Nova Reforma). Ele não é um evangélico conservador; ele esboça o que denominou teologia da "nova reforma". Diz ele: "A nova teologia conservadora de hoje, em seu desejo de ser atualizada, intelectual e relevante, corre o grave perigo de conformar-se demasiado estreitamente à era moderna para poder levar uma palavra a essa era". O que ele quer dizer é que você pode modificar tanto a sua mensagem, a sua crença ou o seu método, que o homem que você está querendo conquistar para Cristo diz: bem, não vejo muita diferença entre o que você está dizendo e o que eu já cria. Você não será mais capaz de ajudá-lo. Em seu desejo e anseio exagerado de ajudá-lo, você está frustrando o seu próprio esforço e empenho.

Estaria eu querendo dizer com isso que não há nenhum lugar para a apologética? Não, mas é vital que compreendamos exatamente qual é o lugar da apologética. Ei-lo: a principal tarefa da apologética é dar apoio à fé do crente. Ela não o torna crente, porém o ajuda a manter e firmar a sua fé. A função da apologética é mostrar o erro e a completa insuficiência de todos os outros conceitos alheios ao conceito bíblico. A apologética, o uso do conhecimento moderno, é excelente como introdução do sermão, mas não deve ir além disso. É muito boa no trabalho de demolição, contudo não ajuda na construção. Ajuda a derribar o velho edifício, mas não ajuda a erigir o novo. Jamais pode levar alguém à salvação. Seja qual for o uso que se faça do conhecimento moderno, da argumentação moderna, ou de quaisquer outros implementos e armas carnais, jamais levará alguém à fé em Cristo.

Fonte: Ministério Beréia

terça-feira, 28 de junho de 2011

[VÍDEO] Casamento e Aliança: Uma Conversa Entre John Piper, D. A. Carson e Tim Keller

Casamento e Aliança:
Conversa Entre John Piper, D. A. Carson e Tim Keller Share


Fonte: Blog Fiel

"Fazei tudo para glória de Deus" - Sermão pregado dia 19.06.2011


"Fazei tudo para glória de Deus" -
Sermão pregado dia 19.06.2011


Nosso texto: "Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus" (1Co 10.31).

A carta de Paulo aos coríntios é certamente uma daquelas cartas que poderia se encaixar no quesito "tarefa ingrata", tamanha foi a repreensão que aquela igreja precisou receber de Paulo. Assim como Paulo, nós muitas vezes não gostamos de confrontar as pessoas com a verdade e dizer à elas que estão vivendo de maneira equivocada, mas era justamente essa a tarefa de Paulo. Vemos que Paulo tem que até mesmo criticar severamente as reuniões da igreja e o momento de tomarem a ceia: "Nisto, porém, que vou dizer-vos não vos louvo; porquanto vos ajuntais, não para melhor, senão para pior" (1Co 11.17).

Já tivemos a oportunidade de repetidas vezes meditarmos e conversarmos sobre nosso texto bíblico de hoje e sua respectiva aplicação para nossas vidas, contudo, penso que poderíamos ponderar ainda um ponto pouco vislumbrado - ou para ser mais sincero, um ponto que muitos cristãos não gostam de enxergar: "Ninguém busque o proveito próprio; antes cada um o que é de outrem" (1Co 10.24).

À primeira vista, podemos pensar que temos aqui uma aparente contradição nas palavras de Paulo, pois como pode ele mesmo dizer que ninguém deve buscar o seu próprio prazer (1Co 10.24) - dando-nos o suposto entendimento de que devemos respeitar os outros independente do que fizerem - e logo em seguida passa a criticar duramente a reunião daquela igreja (1Co 11.17)? Importante se faz analisarmos essas duas preposições para que possamos ter uma imagem correta daquilo que Paulo estava ensinando aos coríntios.

Indo pela ordem do texto, vemos que a partir do capítulo oito, Paulo passa a tratar das comidas sacrificadas aos ídolos e de como o povo devia portar-se diante de Deus e dos homens neste quesito. Ele escreve dizendo que, "quanto ao comer das coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que o ídolo nada é no mundo, e que não há outro Deus, senão um só" (1Co 8.4), pois "para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele" (1Co 8.6). Também lhes fala da importância de não serem pedra de tropeço para qualquer pessoa, "porque, se alguém te vir a ti, que tens ciência, sentado à mesa no templo dos ídolos, não será a consciência do que é fraco induzida a comer das coisas sacrificadas aos ídolos? E pela tua ciência perecerá o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu. Ora, pecando assim contra os irmãos, e ferindo a sua fraca consciência, pecais contra Cristo. Por isso, se a comida escandalizar a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que meu irmão não se escandalize" (1Co 8.10).

Para entendermos melhor o que Paulo está dizendo, é necessário que atentemos para o que ele escreve em 1Coríntios 10.25,26: "Comei de tudo quanto se vende no açougue, sem perguntar nada, por causa da consciência. Porque a terra é do Senhor e toda a sua plenitude". Aqui, Paulo expressa que todas as coisas advém do Senhor, não podendo aqueles cristão primitivos considerarem uma carne sacrificada à ídolos como impura, pois "a terra é do Senhor e toda a sua plenitude". Também percebemos que "apesar de empregar expressões fortes contra a participação em cerimônias idólatras, Paulo não desejava que os coríntios tivessem zelo excessivo. O fato de um alimento ter sido oferecido a um ídolo não altera a natureza da substância em si mesma e nem a contamina com espíritos maus". [1]

Quando Paulo se refere ao que "se vende no açougue", é importante notarmos algumas questões: "'Como é possível haver qualquer dano em comer diante de um bloco de madeira ou de pedra? Que diferença pode fazer, se a comida foi oferecida a uma divindade inexistente?' Em segundo lugar, a maior parte do alimento vendido nos armazéns [ou açougues - nota minha], primeiro tinha sido oferecida em sacrifício. Parte da vítima era sempre oferecida sobre o altar ao deus, parte ia para os sacerdotes, e geralmente uma parte ia para os cultuadores. Os sacerdotes costumeiramente vendiam o que não podiam utilizar. Muitas vezes era muito difícil saber com certeza se a comida de determinado armazém fizera parte de um sacrifício ou não. Note-se que há duas questões distintas: o tomar parte em festividades idólatras, e o comer comida comprada nos armazéns, mas previamente parte de uma sacrifício. Muitas coisas poderiam ser ditas. Paulo começa com as obrigações do amor cristão". [2]

Deste breve comentário depreende-se de que nem todas as coisas são permitidas aos cristãos - por mais lícitas que possam aparentar - devendo eles estarem em contínua oração para que não sejam levados para enganos sutis provindos do inimigo, "porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar" (1Pe 5.8).

Após Paulo explicitar àqueles cristãos que o fato de comprarem carne naqueles locais não era em si mesmo errado - "porque a terra é do Senhor e toda a sua plenitude" - contudo, ele lhes faz uma ressalva dizendo: "Mas, se alguém vos disser: Isto foi sacrificado aos ídolos, não comais, por causa daquele que vos advertiu e por causa da consciência; porque a terra é do Senhor, e toda a sua plenitude. Digo, porém, a consciência, não a tua, mas a do outro" (1Co 10.28,29).

É interessante notarmos como o conselho de Paulo diverge com os nossos dias. Dias esses em que não vemos um constante labutar para não ser "de alguma maneira escândalo para os fracos" (1Co 8.9), mas justamente o contrário, onde defende-se que a liberdade do cristão está acima de tudo e todos. Seria mais ou menos como dizer: "Danem-se os outros! Minha consciência não me culpa, por isso não me importo com eles".

Paulo também não está advogando que os coríntios deveriam ficar trancafiados em suas casas, pois qualquer coisa poderia servir de pedra de tropeço ao irmão, mas referia-se à sublime importância de cuidarmos da saúde espiritual de nossos irmãos, não lhes desejando mal algum - pois o servir de pedra de tropeço já é parte desgostosa da vida cristã - mas lutando em pról da unidade (alicerçada na verdade!) entre os verdadeiros filhos de Deus.

A primeira preposição - "Ninguém busque o proveito próprio; antes cada um o que é de outrem" (1Co 10.24) - nos diz então, que, embora sejamos livres para muitas coisas, devemos levar em séria consideração aquele(a) irmão(ã) mais fraco(a) que ainda não compreende as doutrinas da graça e de que tudo fôra criado para honra e glória de Deus. Penso ainda ser importante ressaltarmos que essa liberdade cristã está plenamente alicerçada nos princípios e nas leis divinamente estabelecidas pelo nosso Senhor (já escrevi sobre isso, clique aqui para ler), caso contrário descambar-se-á para o liberalismo e flexibilidade total para com os preceitos divinos.

Então, depois de explicar aos coríntios que deveriam respeitar seus irmãos mais fracos, Paulo passa-lhes a advertir sobre como eles tem conduzido suas reuniões e de que maneira desordeira tem levado o momento da ceia do Senhor - conferindo-lhes também ao entendimento de que não poderiam simplesmente aceitar qualquer coisa por causa do irmão mais fraco, mas que todos os seus atos (desde o simples comer até o cultuar) deveriam ser regidos por preceitos advindos do seu Senhor e salvador Jesus Cristo.

Nesse ínterim, vemos ainda que Paulo escreve dizendo que não haveria porquê os coríntios vilipendiarem-no pelo que estava fazendo e dizendo, pois se "com graça participo, por que sou blasfemado naquilo por que dou graças?" (1Co 10.30).

Mais uma vez vemos a importância de fazermos tudo para a glória de Deus, devendo levar os casais cristãos a fazerem sexo para glória de Deus; o pai sair para passear com o filho para a glória de Deus; a mãe instruir os filhos para a glória de Deus; os amigos cristãos se reunirem e irem para a praia para a glória de Deus; sentar-se à mesa e banquetear-se com os alimentos para a glória de Deus, sair para tomar uma boa cerveja para a glória de Deus; chegar em casa e tomar um banho quente para a glória de Deus; deitar e descansar para a glória de Deus. "Assim, eu traço esta conclusão sombria: é pecado comer ou beber ou fazer qualquer coisa que NÃO seja para a glória de Deus. Em outras palavras, pecado não é apenas uma lista de coisas nocivas (assassinato, roubo, etc.). Pecado é deixar Deus de lado nos assuntos ordinários de sua vida. Pecado é tudo o que você faz que você não faz para a glória de Deus". [3]

Notemos então que Paulo não traça uma dicotomia entre certos momentos em que ele está na presença do Senhor e outros em que não está. Devemos atentar para o grandioso erro que nossa geração comete em querer constantemente "entrar na presença do Senhor", como se nos momentos precedentes a pessoa estivesse fora da presença de Deus!

Ora, amados, quem está fora da presença de Deus é o ímpio, o idólatra, o corrupto, os filhos da ira não-regenarados, os caluniadores, os mentirosos, os orgulhosos e uma miríade de outros mais que poderíamos citar, menos os cristão verdadeiros! Acaso não foi isso que Jesus tencionou expressar em sua oração sacerdotal ao dizer, "Pai justo... eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja" (João 17.25,26)? Se o próprio Jesus orou ao Pai para que assim como o seu amor para com ele estivesse conosco, por que é que ainda encontramos pessoas achando que em determinados locais e circunstâncias da vida Deus não está?

Após tal exposição, Paulo diz aos coríntios: "Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus" (1Co 10.31). Mister é notarmos o excelente trabalho de associarmos esse versículo com a primeira preposição - "Ninguém busque o proveito próprio; antes cada um o que é de outrem" (1Co 10.24) - e com a segunda - "Nisto, porém, que vou dizer-vos não vos louvo; porquanto vos ajuntais, não para melhor, senão para pior" (1Co 11.17) - levando-nos a entender que o simples fato de nos abstermos de determinado alimento ou conduta, deve ser para honra e glória do Senhor, assim como também nossas reuniões devem visar a glorificação suprema e absoluta de Deus sobre tudo e todos.

No Breve Catecismo de Westminster lemos sobre qual é finalidade do homem: "Pergunta 1: Qual é o fim principal do homem? Resposta: O fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre (1Co 10.31; Sl 73.24-26; Jo 17.22,24). Calvino nos diz que a 'glória de Deus é quando sabemos o que ele é'. Em seu sentido bíblico, é estar lutando para salientar uma coisa divina. Nós o glorificamos quando não buscamos nossa própria glória, e sim buscamos a ele primeiro em todas as coisas. Agostinho disse: 'Tu nos criaste para ti mesmo, ó Deus, e nosso coração está desassossegado até encontrar repouso em ti'. Glorificamos a Deus crendo nele, confessando-o diante dos homens, louvando-o, defendendo sua verdade, mostrando os frutos do Espírito em nossa vida, adorando-o". [4]

"Porque vale mais um dia nos teus átrios do que mil. Preferiria estar à porta da casa do meu Deus, a habitar nas tendas dos ímpios. Porque o SENHOR Deus é um sol e escudo; o SENHOR dará graça e glória; não retirará bem algum aos que andam na retidão" (Sl 84.10,11).

Amém.


Notas:
[1] Bíblia de Estudo de Genebra
[2] 1Coríntios, Introdução e comentário - Leon Morris, Ed. Vida Nova - pág. 99.
[3] Como Beber Suco de Laranja para a Glória de Deus
[4] Estudos no Breve Catecismo de Westminster - Leonard T. Van Horn, Ed. Os Puritanos - pág 07.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

"Porque esta palavra não vos é vã, antes é a vossa vida" - Sermão pregado dia 12.06.2011


"Porque esta palavra não vos é vã, antes é a vossa vida" -
Sermão pregado dia 12.06.2011

Nosso texto: "E, acabando Moisés de falar todas estas palavras a todo o Israel, disse-lhes: Aplicai o vosso coração a todas as palavras que hoje testifico entre vós, para que as recomendeis a vossos filhos, para que tenham cuidado de cumprir todas as palavras desta lei. Porque esta palavra não vos é vã, antes é a vossa vida; e por esta mesma palavra prolongareis os dias na terra a qual, passando o Jordão, ides a possuir" (Dt 32.45-47).

O livro de Deuteronômio encontra-se dentro do Pentateuco - o conjunto dos cinco primeiros livros da bíblia - onde podemos encontrar a mais vasta diversidade de ensinamentos e leis dadas pelo Senhor ao povo de Israel. Este livro, longe de ser antigo e caducado, deve-nos servir de diretriz e alerta sobre como devemos viver diante do Senhor. Em um mundo tão multiforme, importa-nos atentarmos para o fato de que todo "o caminho de Deus é perfeito, e a palavra do Senhor refinada; e é o escudo de todos os que nele confiam" (2Sm 22.31).

No versículo de hoje, vemos que Moisés alerta o povo de Israel para que apliquem "o vosso coração a todas as palavras que hoje testifico entre vós" (v.46), não querendo que o povo pudesse a vir escusar-se e reclamar sua ignorância quanto aos preceitos divinos.

Certamente que o ofício de profeta no Antigo Testamento era por demais valiosa, contudo, essa preciosidade custava-lhe muitas vezes o amargo perceber que suas palavras pareciam ser atiradas ao vento. Constantemente vemos que os profetas alertavam o povo para que não se desviasse do caminho do Senhor, caso contrário seriam acometidos por enfermidades terríveis e sucumbiriam aos povos inimigos. Penoso era o caminho percorrido pelos profetas, que na maioria das vezes encontrava apenas alento na lei do Senhor e em devoção pela oração. Não diferente disso, foi o caminho percorrido pelo profeta Moisés.

Bem sabemos que Moisés era descendente da tribo de Levi (Êx 2.1), que havia nascido enquanto o povo de Israel era oprimido no Egito, a tal ponto do rei do Egito ordenar às parteiras para que caso viesse a nascer um menino hebreu, elas deveriam matá-lo (Êx 1.15) para que os israelitas não se multiplicassem ainda mais e viessem porventura a dominar sobre o Egito. Este mesmo Moisés achou graça diante de Deus e foi resguardado durante seus primeiros três meses de vida (Êx 2.2) - logo após isso foi colocado em um cesto entre juncos à margem do rio Nilo (Êx 2.3) e ali foi deixado para que o "destino" fizesse o que melhor lhe aprouvesse. Como o Deus de Israel - e nós hoje somos o Israel de Deus - não é um deus de sonhos, mas de decretos, já havia ele predestinado Moisés para que viesse a ser encontrado pela filha do faraó (Êx 2.7) e achasse clemência diante do rei do Egito.

Então, este mesmo Moisés tão soberanamente agraciado pelo Senhor, um dia vai até o lugar onde estavam seus irmãos hebreus "e atentou para as suas cargas; e viu que um egípcio feria a um hebreu, homem de seus irmãos, e olhou a um e a outro lado e, vendo que não havia ninguém ali, matou ao egípcio, e escondeu-o na areia" (Êx 2.11,12). Quando o Faraó soube deste caso, "procurou matar a Moisés; mas Moisés fugiu de diante da face de Faraó, e habitou na terra de Midiã" (Êx 2.15). A partir desse estopim, Moisés começa a liderar a saída do povo de Israel do Egito e a conduzir-lhes rumo à terra que lhes era prometida.

O fato é que, embora Moisés tivesse sido incumbido da tarefa de guiar o povo do Senhor até a terra prometida, ele mesmo foi impedido de desfrutar das maravilhas que aquela terra tinha para lhes oferecer, pois havia desobedecido ao Senhor - "Toma a vara, e ajunta a congregação, tu e Arão, teu irmão, e falai à rocha... Então Moisés levantou a sua mão, e feriu a rocha duas vezes com a sua vara... E o Senhor disse a Moisés e a Arão: Porquanto não crestes em mim, para me santificardes diante dos filhos de Israel, por isso não introduzireis esta congregação na terra que lhes tenho dado" (Nm 20.8,11,12).

Observemos portanto, que do nosso ponto de vista, a desobediência de Moisés não foi tão crassa a ponto de Deus precisar impedir-lhe de adentrar na terra prometida - haja vista grandes tribulações passadas por Moisés, não é mesmo? Contudo, "o Senhor teu Deus é um fogo que consome, um Deus zeloso" (Dt 4.24) - tanto pelo que ele é em si mesmo como pelo que é a partir de sua revelação aos homens. Após termos esse plano de fundo, faz-se necessário irmos adentrando rumo ao versículo de hoje.

Alguns momentos antes da morte de Moisés, ele conclama ao povo dizendo-lhes: "Da idade de cento e vinte anos sou eu hoje; já não poderei mais sair e entrar; além disto o Senhor me disse: Não passarás o Jordão. O Senhor teu Deus passará adiante de ti; ele destruirá estas nações de diante de ti, para que as possuas; Josué passará adiante de ti, como o Senhor tem falado. Esforçai-vos, e animai-vos; não temais, nem vos espanteis diante deles; porque o Senhor teu Deus é o que vai contigo; não te deixará nem te desamparará" (Dt 31.2-3,6). Vemos aqui que Moisés estava cônscio de que não poderia ultrajar os decretos de Deus para sua vida e a Ele humildemente se submetia em louvor e adoração. Também exortava ao povo para que não desanimasse nem temesse mal algum, pois "o Senhor teu Deus é o que vai contigo; não te deixará nem te desamparará" (v.6).

Após Moisés expressar tal encorajamento ao povo, ele instruiu os sacerdotes, filhos de Levi e a todos os líderes de Israel (Dt 31.9) para que "ao fim de cada sete anos... Ajunta o povo, os homens e as mulheres, os meninos e os estrangeiros que estão dentro das tuas portas, para que ouçam e aprendam e temam ao SENHOR vosso Deus, e tenham cuidado de fazer todas as palavras desta lei" (Dt 31.10,11). O objetivo de Moisés ao dar tal instrução era para que o povo ouvisse e aprendesse "a temer ao Senhor vosso Deus, todos os dias que viverdes sobre a terra a qual ides, passando o Jordão, para a possuir" (Dt 31.13).

Dado ao pecado que estava encravado no coração do povo, levando-lhes constantemente a fazerem o que era mau diante de Deus - "Porquanto fizeram o que era mau aos meus olhos e me provocaram à ira, desde o dia em que seus pais saíram do Egito até hoje" (2Rs 21.15) - o Senhor disse a Moisés: "Eis que dormirás com teus pais; e este povo se levantará, e prostituir-se-á indo após os deuses estranhos na terra, para cujo meio vai, e me deixará, e anulará a minha aliança que tenho feito com ele" (Dt 31.16). Prosseguiu ainda o Senhor dizendo a Moisés para que escrevesse uma canção [1] e ensinasse-a aos israelitas, "para que este cântico me seja por testemunha contra os filhos de Israel" (Dt 31.19). O Senhor também continua dizendo que bem sabia o que estavam "dispostos a fazer antes mesmo de levá-los para a terra que lhes prometi sob juramento" (Dt 31.21).

"E aconteceu que, acabando Moisés de escrever num livro, todas as palavras desta lei, deu ordem aos levitas, que levavam a arca da aliança do SENHOR, dizendo: Tomai este livro da lei, e ponde-o ao lado da arca da aliança do SENHOR vosso Deus, para que ali esteja por testemunha contra ti. Porque conheço a tua rebelião e a tua dura cerviz; eis que, vivendo eu ainda hoje convosco, rebeldes fostes contra o SENHOR; e quanto mais depois da minha morte?" (Dt 31.24-27). Vemos aqui que a intenção do Senhor ordenar a Moisés para que ordenasse aos levitas e líderes de Israel que lessem as palavras desta lei ao final de cada sete anos, não tinha somente a intenção de relembrar o povo das ordenanças de Deus, mas também de acusar-lhes e deixar-lhes indesculpáveis perante o Senhor. Moisés então passa a recitar as palavras desta canção do começo ao fim, na presença de toda a assembléia de Israel (Dt 32.1-43). Mais adiante, já em face do fim de sua vida, o Senhor diz a Moisés: "Sobe ao monte de Abarim, ao monte Nebo, que está na terra de Moabe, defronte de Jericó, e vê a terra de Canaã, que darei aos filhos de Israel por possessão. E morre no monte ao qual subirás; e recolhe-te ao teu povo, como Arão teu irmão morreu no monte Hor, e se recolheu ao seu povo. Porquanto transgredistes contra mim no meio dos filhos de Israel, às águas de Meribá de Cades, no deserto de Zim; pois não me santificastes no meio dos filhos de Israel" (Dt 32.49-51).

Em tempo ainda, observamos na "Canção de Moisés" a importância de atentarmos para história do povo de Deus em peregrinação à terra prometida (Canaã física) e também nossa peregrinação rumo à terra prometida (Canaã celestial). Nesta canção, Moisés também alerta à nação de Israel dizendo-lhes: "Esqueceste-te da Rocha que te gerou; e em esquecimento puseste o Deus que te formou" (Dt 32.18). Temos aqui um profeta exortando e ensinando um povo completamente obstinado e contrário a seguir as leis e mandamentos do Senhor, e que por isso ouviu as amargas palavras: "Minha é a vingança e a recompensa, ao tempo que resvalar o seu pé; porque o dia da sua ruína está próximo, e as coisas que lhes hão de suceder, se apressam a chegar" (Dt 32.25). Tanto Moisés como o povo de Deus precisavam saber de onde tinham vindo e para onde iam, caso contrário seriam distraídos por seduções ínfimas e destituídas de valor espiritual, que certamente os levaria para a ruína e perdição.

Queridos, observemos quão dura foi a sentença para Moisés - este homem que havia guiado o povo de Deus em direção à terra prometida mesmo em meio as mais terríveis vicissitudes da vida e durante todos os grandiosos desafios que enfrentou pelo amor ao Senhor e à sua lei, permaneceu firme em seu propósito - contudo, ele foi alguém que "não se conformou com este mundo, mas foi transformado pela renovação do seu entendimento, para que experimentasse qual era a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus" (Rm 12.2 - mudança do tempo verbal feita por mim). Como sabemos que tudo no Antigo Testamento aponta para Jesus, podemos ter a certeza de que melhor do que Moisés, será Cristo conduzindo sua igreja a passos firmes e inabaláveis até a terra prometida.

Então, após ter recitado a canção ao povo de Deus, ele lhes diz: "Aplicai o vosso coração a todas as palavras que hoje testifico entre vós, para que as recomendeis a vossos filhos, para que tenham cuidado de cumprir todas as palavras desta lei. Porque esta palavra não vos é vã, antes é a vossa vida; e por esta mesma palavra prolongareis os dias na terra a qual, passando o Jordão, ides a possuir" (Dt 32.46,27). Vemos aqui que Moisés não fez pouco caso da lei do Senhor e de seus mandamentos, mas instou ao povo dizendo que aquela palavra não vos era vã, antes era-vos a vossa vida!

Amados, muitos de nós certamente conhecemos pessoas que, nas palavras de Paulo, "Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos" (Rm 1.22) - resolveram mudar "a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis" (Rm 1.23). Porém Deus não deixa tais pessoas impunes, mas entrega-as "às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente" (Rm 1.24,25).

Já tivemos a oportunidade de vislumbrarmos a alegria que o salmista tinha na lei do Senhor, a ponto de dizer para si mesmo: "Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e não te esqueças de nenhum de seus benefícios". (Salmos 103.2 - clique aqui para ler). Não com menor intensidade, era a alegria e devoção que Moisés tinha e desejava transmitir ao povo que estava ao seu encargo. Não obstante à toda peregrinação feita até aquele momento e todas as bem-aventuranças que o povo havia testemunhado acerca do poder e fidelidade para com o seu Deus, o povo ainda não havia aprendido o que era temer ao Senhor - "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria" (Pv 9.10) - e constantemente era rebelde para com suas leis.

Diante de tal fato, Moisés expressa ao povo dizendo-lhes que suas palavras - inspiradas pelo Senhor - não eram meras palavras de homens, mas dignas de toda aceitação, haja vista ser o próprio Deus que havia outorgado-as. Tais palavras de Moisés não consistiam em apenas exortação, mas também na promessa de que por meio destas "prolongareis os dias na terra a qual, passando o Jordão, ides a possuir" (Dt 32.47b).

Atentemos para o fato de que as advertências e exortações descritas por Moisés e em toda a bíblia, não são meramente para nos causar medo e aflição, mas também para instruir-nos em todo bom dever, a fim de que sejamos plenamente habilitados para toda boa obra em Cristo Jesus (2Tm 3.16,17).

Que pelas ricas misericórdias de Deus possamos ter nossos olhos abertos e perseverarmos na luta contra o pecado. Que achemos graça diante do trono celestial e perscrutemos sua vontade para nossas vidas, não em vãs filosofias ou efêmeros conhecimentos, mas sim na sua santa, una, inerrante e indissolúvel palavra.

Oração final: Perdoa-nos Deus pelas vezes que não temos atentado para tua palavra e temos negligenciado-a como se pouca coisa fosse. Concede-nos pela tua misericórdia que perseveremos firmes na fé, mesmo em face dos abismos que nos assolam ou da morte que nos venha cercar, pois não somos dignos de estarmos junto a Ti, e é por isso mesmo que nos alegramos, pois sabemos que é graças a tua misericórdia que não somos consumidos, "porque as suas misericórdias não têm fim; novas são cada manhã; grande é a tua fidelidade" (Lm 3.23).

Amém.

Nota:
[1] A Bíblia de Estudo de Genebra comenta: "Deus sabia da infidelidade futura do seu povo, mas também conhecia o poder dos cânticos para adoração e memorização. Ele ordenou que Moisés escrevesse um cântico que, em dias vindouros, daria testemunho dele e de seu trabalho. Moisés havia escrito um cântico sobre o livramento da escravidão no Egito (Êx 15.1-18), e Números traz outros cânticos curtos de sua autoria. O Salmo 90 também é atribuído a Moises".

sábado, 25 de junho de 2011

É pecado sonhar com pornografia?


Constantemente, a Bíblia nos mostra que Deus se comunicava com seus arautos através de sonhos e revelações. Tais sonhos eram essenciais para aqueles homens (e também para o povo), haja vista não terem ainda a vontade completa do Senhor revelada a eles - isto é, a bíblia. Os sonhos e revelações eram, assim, o meio pelo qual muitas vezes os homens ficavam sabendo aquilo que Deus exigia deles.

O problema surge quando nos deparamos com nós mesmos em algum sonho pornográfico ou de inclinação maliciosa contra o próximo.

Creio ser razoável afirmar que boa parte dos cristãos sinceros já sonhou com algum tipo de pornografia - adultério ou coisa semelhante (sejam solteiros ou casados) - ou já tiveram algum tipo de sonho "pervertido" e acordaram com uma "pontada" de dúvida se haviam pecado ou não - mesmo que em sonho.

Nos é difícil precisar se o fato de sonharmos com pornografia seja em si mesmo pecado (pois ao que tudo indica, não temos controle sobre esses momentos - ainda que algum digam que sim). Mas, melhor do que nós mesmos, falam as santas escrituras.

"Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias" (Mt 15.19).

No contexto deste versículo, Jesus está respondendo os escribas e fariseus por criticarem os Seus discípulos acerca do não lavarem aos mãos antes das refeições. Jesus, então, cita Isaías, dizendo: "Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim" (v.8). Jesus sabia que aqueles escribas e fariseus não se importavam com o seu coração, mas, sim, apenas em ostentar um vã espiritualidade.

Lemos também em Provérbios 15.33: "O temor do SENHOR é a instrução da sabedoria, e precedendo a honra vai a humildade". Também temos o áureo Salmo que diz: "Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite" (Sl 1.1,2).

A partir desses versículos podemos entender que, é de suma importância o cristão orar diligentemente para que não vacile e caia em maus pensamentos - "Orai sem cessar" (1Ts 5.17). Embora os sonhos pornográficos não sejam em si mesmos um pecado (pois não temos controle sobre o que sonharemos), eles certamente derivam e são fruto de uma mente pecaminosa que constantemente luta contra as propagandas, vestes sensuais e piadas de duplo sentido.

Muitos pensamentos - enquanto estamos acordados - nos surgem por falta da consciência de que vivemos para um Deus três vezes santo ("Santo, Santo, Santo é o Senhor" - Is 6.3). Quantas vezes maquinamos o mal contra alguém sem mesmo titubearmos diante de tal pecado! Outras vezes ainda nos deixamos levar por imagens e comentários maliciosos que lentamente vão minando nosso coração, a ponto de repousarmos à cama e não conseguirmos esquecer o que vimos e ouvimos.

Devemos atentar para o fato de que tais pensamentos e sonhos não somente devem nos incomodar, e sim nos levar a buscar a face de Cristo diariamente, a fim de não incorremos no grandioso risco de cairmos e "ser grande a nossa queda" (Mt 7.27)

Portanto, cuidemos e trilhemos o bom caminho da fé, da oração e da leitura da palavra, para que não sejamos mais assaltados por tão grande problemática.

Fonte: O Cotidiano Cristão - Respostas bíblicas para o cotidiano cristão

sexta-feira, 24 de junho de 2011

A cooperação do homem com Deus não comprova o livre-arbítrio


A cooperação do homem com Deus
não comprova o livre-arbítrio -
por Martinho Lutero


Você se utiliza de um bom número de ilustrações que descrevem a cooperação do homem com as operações divinas. Por exemplo: "o agricultor faz a colheita, mas é Deus que a dá". É óbvio que tenho plena consciência da cooperação do homem com Deus, mas isso nada prova a respeito do "livre-arbítrio". Deus é onipotente. Ele exerce total controle sobre tudo quanto Ele mesmo criou. E isso inclui os ímpios, os quais, à semelhança daqueles a quem Deus justificou e transportou para o seu reino, cooperam com Deus neste mundo. Todos os homens precisam seguir e obedecer aquilo que Deus intenciona que eles façam.

O homem em nada contribuiu para a sua própria criação. E, uma vez criado, o homem não faz qualquer contribuição para permanecer dentro da criação de Deus. Tanto a sua criação como a sua contínua existência são inteira responsabilidade do soberano poder e bondade de Deus, que nos criou e preserva sem qualquer ajuda nossa.

Antes de ser renovado, para fazer parte da nova criação do reino do Espírito, o homem em nada contribui para preparar-se para essa nova criação e reino. Por semelhante modo, quando ele é recriado, em coisa alguma contribui para ser conservado nesse reino. Somente o Espírito de Deus tanto nos regenera quanto nos preserva, sem qualquer ajuda de nossa parte. É como Tiago diz: "Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas" (Tg 1.18). Tiago está falando a respeito da nova criação. Não obstante, Deus não nos regenera sem que tenhamos consciência do que está sucedendo, porque Ele nos recria e preserva precisamente com esse propósito: que venhamos a cooperar com Ele.

E o que é atribuído ao "livre-arbítrio" em tudo isso? Que resta para o "livre-arbítrio"? Nada! Absolutamente nada!

Martinho Lutero
Em: Nascido Escravo, cap. 4, argumento 8, Editora Fiel

Fonte: Eleitos de Deus

Observação do autor do blog: Quando Lutero escreve sobre "cooperar com Ele", não está insinuando que o homem de fato coopere com Deus - no sentido sinergista - como que se não fosse pelo homem, Deus estaria de mãos atadas. O sentido de cooperar diz respeito ao passo que o homem começa a dar em direção às coisas do reino - passo esse que só é possível após ser regenerado - e nunca insinuando uma atitude autônoma do homem. O próprio Lutero tamém escreveu: "Se algum homem, de alguma maneira, atribuir a salvação ao livre-arbítrio do homem - mesmo a ínfima parte - nada sabe sobre a graça e não conheceu Jesus Cristo corretamente."

quarta-feira, 22 de junho de 2011

A diferença entre pregar SOBRE Jesus e pregar O QUE Jesus pregou

Texto por
Luís Wesley

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Um dos muitos agravantes dos púlpitos protestantes de hoje é que os pregadores intuem que é mais seguro pregar sobre Jesus do que pregar o que Jesus pregou. Pregar sobre Jesus é, com muita frequência, cativante para os pregadores em seu desejo de aceitação por parte dos ouvintes. Agora, pregar o que Jesus pregou é impopular, contra-cultural, demandante, subversivo, revolucionário, desafiador e, sendo assim, coloca a prêmio a cabeça de quem o faz, tanto no âmbito institucional quanto no relacional!

Afinal, pregar o que Jesus pregou não dá "ibope" e não atrai os que estão interessados apenas em consumir a fé em benefício próprio. Ao pregarem apenas sobre Jesus, os imaginários e representações dos pregadores viajam distantes da sólida consciência do Reino de Justiça. Falo do Reino a respeito do qual Jesus pregou, aquele que já é, mas ainda não. Falo do Reino que, dentre muitas outras coisas, chama ao arrependimento, à vida simples, à solidariedade, a sujar as mãos no serviço ao próximo, a dar água e comida ao que tem fome e sede, a hospedar o estrangeiro, a vestir o que está nu, a visitar o que está enfermo, a chorar ou rir com os que choram ou riem.

Pregar o que Jesus pregou implica, antes de tudo, caminhar na contra mão do tipo de mercantilização da fé que hoje caricaturiza, dissolve e esteriliza não somente os poderosos conteúdos do Evangelho transformador, como também mata o significado e a extensão do chamado ao ministério da Palavra enquanto voz profética.

Fonte: http://luiswesley.blogspot.com/

terça-feira, 21 de junho de 2011

"Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade" - Sermão pregado dia 05.06.2011


"Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade" -
Sermão pregado dia 05.06.2011

Nosso texto: "Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade" (Jo 17.17).

Queridos, se há algo que pode servir como "medidor" de devoção à Cristo, é o fato de que se alguém "diz que está nele, também deve andar como ele andou" (1Jo 2.6). Não há como desassociarmos a teoria da verdade, que leva à prática. Constantemente ouvimos - com grande tristeza - e/ou lemos alguém falando que "isto ou aquilo é questão teórica, na prática é diferente". Tais pessoas têm para si que a verdade muitas vezes é apenas teórica, que ela não deve ser a medida para nossa prática, mas sim que devemos seguir o pragmatismo - afinal, o que importa é o que nos interessa.

Lembremos também que essa questão pode muito bem ser citada como um dos grandes motivos pelo qual muitos pastores de confissão reformada pouco se importam em ter uma igreja com 50 ou 500 membros, fazerem diferença no meio em que vivem ou serem apenas mais um grupo eclesiástico, afinal, para eles, certas questões doutrinárias da fé reformada não requerem - ou não tem - aplicação na vida eclesiástica, tornando-as mero entendimento acadêmico e sendo útil apenas para as salas de aula de seminários. [1]

Diferentemente de tal entendimento, Jesus sabia que toda a verdade bíblica - isto é, tudo que depreende-se da Sagrada Escritura - era útil e deveria ser posta em prática pelos que professavam sua fé. Paulo também expressou de forma maravilhosa quando disse: "Toda a Escritura é divinamente inspirada... Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra" (2Tm 3.16,17). Precisamos então atentar para a grandiosa obra que o cristão tem pelo restante de suas vidas: Buscar conhecer a Deus.

O teólogo J. I. Packer em seu livro "O Conhecimento de Deus", pergunta e responde: "Para que fomos criados? Para conhecer a Deus. Qual deve ser o nosso objetivo na vida? Conhecer a Deus. O que é a vida eterna que Jesus nos dá? O conhecimento de Deus. Qual a melhor coisa na vida? O conhecimento de Deus. O que o homem pode fazer para melhor agradar a Deus? Conhecê-lO o mais possível".

O versículo de hoje encontra-se no meio da oração sacerdotal de Jesus. Nesta parte da oração, Jesus ora ao Pai e pede-lhe que os seus discípulos sejam santificados na sua verdade eterna e imutável. Observemos que Jesus não roga ao Pai e deixa ao encargo dos discípulos o como serão santificados e qual a melhor maneira para se conseguir isso, mas ele diz "santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade". Demoníaca é a palavra humana quando tenta usurpar a soberania e plena suficiência das Escrituras para nossa vida.

Importa-nos notar que o próprio Senhor e salvador Jesus Cristo conferiu autoridade e magnitude suficiente para aquilo que ensinava e posteriormente que viria a ser registrado. O próprio João em alguns capítulos mais adiante escreveu: "Jesus, pois, operou também em presença de seus discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome" (Jo 20.30,31). Se foi o próprio Cristo que outorgou autoridade à sua palavra, devemos atentar para o grande perigo de tentarmos acrescentar ou diminuir a veracidade e aplicabilidade de cada palavra bíblica, pois "todo aquele que vai além do ensino de Cristo e não permanece nele, não tem a Deus; quem permanece neste ensino, esse tem tanto ao Pai como ao Filho." (2Jo 1.9) - conforme também lemos em 1Jo 2.4: "Aquele que diz: Eu conheço-o, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade".

Em teoria, muitos cristãos sabem da salutar importância das escrituras em suas vidas, mas insistem em não colocá-la em prática, dando desculpas anti-bíblicas e traindo sua própria confissão de fé. Sabemos muito bem que nosso Senhor foi um homem de profundas orações e grandiosos tempos a sós com o Pai.

O autor Solano Portela, ao escrever sobre a importância dos dez mandamentos para os dias de hoje, escreve: Os mandamentos não são uma mera proposição ou abstração teórica. São prescrições que emanam do Deus Todo-Poderoso, do criador do homem, daquele que sabe o que é melhor para ele. Quando seguimos a lei de Deus, vivemos melhor e em harmonia não apenas com o nosso Deus, mas com os nossos semelhantes e com a própria natureza, que dele procede. O resultado dos mandamentos de Deus, são vidas honestas, ajustadas, paz e tranquilidade, famílias fortes, pais com entendimento, sabedoria e amor, filhos obedientes, harmonia, ausência de violência. O pragmatismo não rege as nossas vidas, mas reconhecemos que a lei de Deus funciona! [2]

Também lemos no Catecismo Maior de Westminster na pergunta 104: “Quais são os deveres exigidos no primeiro mandamento? Resposta: Os deveres exigidos no primeiro mandamento são - o conhecer e reconhecer Deus como único verdadeiro Deus e nosso Deus, e adorá-lo e glorificá-lo como tal; pensar e meditar nÊle, lembrar-nos dÊle, altamente apreciá-lo, honrá-lo, adorá-lo, escolhê-lo, amá-lo, desejá-lo e temê-lo; crêr nÊle, confiando, esperando, deleitando-nos e regozijando-nos nÊle; ter zêlo por Ele; invocá-lo, dando-Lhe todo louvor e agradecimentos, prestando-Lhe toda a obediência e submissão do homem todo; ter cuidado de o agradar em tudo, e tristeza quando Ele é ofendido em qualquer coisa; e andar humildemente com Ele. (I Cron. 28:9; Deut. 26:17; Isa. 43:10; Sal. 95:6-7; Mat. 4:10; Sal. 29:2; Mat. 3:16; Sal. 63:6; Ec. 12:1; Sal. 71:19; Mat. 1:6; Isa. 45:23; Jos. 24:22; Deut. 6:5; Sal. 73:25; Isa. 8:13; Exo. 14:31; Isa. 26:4; Sal. 130:7; e 37:4; e 12:11; Rom. 12:11; Fil. 4:6; Jer 7:23; Tiago 4:7; I João 3:22; Sal. 119:136; Jer. 31:18; Miq. 6:8).

Se reconhecemos que Jesus Cristo foi o propiciador de nossa salvação - mediante sua morte eficaz - por que é que ainda encontramos uma miríade de pessoas dentro das igrejas que não atentam para as palavras do Mestre?

Amados, grandioso engano o inimigo tem incutido nos corações, à semelhança do que se fez no jardim do Éden. "E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais. Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis" (Gn 3.2-4 - grifo meu). Desde sempre esta tem sido a artimanha do inimigo para confundir aqueles que professam a fé cristã. Certo estou de que este conselho satânico não nos é novo, contudo, ainda continua com o mesmo poder enganador de outros tempos.

É importante lembrar que quando Jesus ora ao Pai dizendo, "santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade", ele não está com o Novo Testamento aberto à sua frente. Jesus refere-se à sua própria palavra como sendo palavra de Deus e também à todo o Antigo Testamento, que era a escritura corrente naquele período. Isto nos leva mais uma vez a percebermos que é maligna a ideia de separação entre o Antigo e Novo Testamento, como se fossem revelações distintas do mesmo Deus - ou de outro deus - ou ainda que os anteriores viviam da lei e nós, apenas da graça.

O próprio apóstolo Paulo escreveu sobre a importância da lei para sua vida: "Mas eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás." (Rm 7.7) - e também expressou que a graça de Deus andava junto com sua lei: "Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus, que está comigo" (1Co 15.10). Portanto, tanto a lei como a graça devem ser estudadas e aplicadas à vida do cristão que deseja ser "perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra" (2Tm 3.17).

Nos versículos anteriores (17.1-16) Jesus ora ao Pai e constantemente vemos a união que existia - e ainda existe - entre o Pai e o Filho. Nos admira a beleza e reverência dessas palavras diante de nossa imundícia e depravação humana. Ao orar ao Pai, vemos que Jesus não desassocia em momento algum a sua verdade da verdade pelo Pai, tampouco ora dizendo que o Pai e ele estão juntos, mas os discípulos não teriam com quem ficar quando ele voltasse ao Pai.

No seguinte versículo do referido capítulo de nossa passagem, Jesus então ora ao Pai dizendo: "Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo" (Jo 17.18). Ora, se a palavra de Deus não fosse verdade suficientemente eficaz para santificar-nos neste mundo, todos nós estaríamos destinados ao fracasso e consequentemente jamais chegaríamos à cidade celestial! Em tempo oportuno cabe-nos perguntar: Por que ainda negligenciamos a palavra de Deus? Há uma célebre frase do puritano Thomas Watson que diz: "Enquanto o pecado não for amargo, Cristo não será doce". Fazemos bem se atentarmos à tão grande verdade.

Como podemos negligenciar a verdade bíblica em face das centenas de citações bíblicas referentes à extraordinária sabedoria proveniente das sagradas escrituras? "Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite" (Sl 1.1,2). A ênfase do salmista não é em algum prazer momentâneo que ele tem na lei do Senhor, mas que este prazer é constante e ininterrupto, a ponto de nela meditar "de dia e de noite".

Lemos em Dt 6.4: "Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor" - assim como aquele Israel, que embora tenha ouvido que somente o Senhor era Deus - à semelhança do que o profeta Isaías disse: "Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade; que eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a mim" (Is 46.9) - muitos que hoje professam a fé cristã, esqueceram-se de que não é somente o católico romano, o espírita, o hindu, o testemunha de Jeová ou o satanista que quebram o primeiro mandamento - "Não terás outros deuses diante de mim" (Êx 20.3) - mas que muitas vezes eles mesmos - que por tantas e tantas vezes se consideram os mais notáveis e mais praticantes da palavra - tem sido contrários à verdade bíblica e fazem de suas consciências e desejos o seu deus - "Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos" (Rm 1.22).

O apóstolo Paulo também escreveu aos cristãos de Roma, alertando-lhes para não serem "conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus" (Rm 12.2). Observemos que as palavras de Paulo dizem que só experimentaremos a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus quando tivermos nosso entendimento renovado pelo poder do Espírito Santo que atua por meio de sua palavra!

De forma semelhante expressou o salmista quando escreveu: "Louvar-te-ei com retidão de coração quando tiver aprendido os teus justos juízos" (Sl 119.7). Charles H. Spurgeon ao comentar esse texto escreve: "Louvar-TE-ei". [A pessoa] poderia sentir-se uma pessoa louvável, mas prefere considerar a Deus como o único digno de seus louvor. Pelo prisma da dor e da vergonha provenientes do pecado, ela mede suas obrigações para com o Senhor, o qual lhe ensina a arte de viver, levando-a primeiro a escapar, purificando-se de sua miséria. "Quando tiver aprendido teus retos juízos". A providência divina é um livro cheio de instruções, e para aqueles cujo coração é íntegro ele é um hinário, no qual entoam os cânticos de Jeová. Quando lemos os juízos de Deus e participamos efusivamente deles, somos duplamente movidas a cantar - cânticos sem qualquer formalidade, sem hipocrisia, sem indiferença; pois o coração se revela íntegro na apresentação do seu louvor". [3]

Que Deus conceda-nos graça e ousadia para buscarmos sua face em oração e profunda devoção, para que possamos prosseguir "para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus" (Fp 3.14) - "Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado" (1Co 9.26,27).

Amém.


Notas:
[1] Citado por Franklin Ferreira em palestra proferida na Igreja Batista Reformada Vida Nova, no dia 29/05/2011 em Florianópolis - SC.
[2] A Lei de Deus Hoje - Solano Portela, Ed. Os Puritanos, página 43.
[3] Salmo 119, O alfabeto de Ouro - Charles H. Spurgeon, Ed. Parakletos, página 21 e 22.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

"Purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade" - Sermão pregado dia 29.05.2011


"Purificando as vossas almas pelo Espírito
na obediência à verdade" -

Sermão pregado dia 29.05.2011


Nosso texto: "Purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade" (1Pe 1.22).

Queridos, é com grande alegria que podemos reconhecer que tão somente a bíblia é nossa regra de fé e a única capaz de nos instruir em toda boa conduta de Deus. É por demais valioso podermos usufruir de benefícios que tantos outros almejaram alcançar (i.e. o fechamento do cânon bíblico e seus 66 livros) e termos a oportunidade de compartilharmos das inúmeras bênçãos que emanam das sagradas escrituras para nós.

O apóstolo Pedro começa sua carta afirmando que o fato dos cristãos terem ido à Cristo não era mérito próprio, mas tão somente porque foram "eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito" (1.1). Pedro também alegrava-se por saber que os crentes haviam sido gerados "para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos" (1.3). Importante é levarmos cativo o cuidado que devemos ter para não separarmos nossa "viva esperança" da verdade que é capaz de nos purificar por meio do Espírito Santo (1.22).

Quando Pedro escreve, "purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade" (1.22) ele tinha em mente que somente a verdade poderia purificar o coração do cristão. Isso nos é por demais importante, pois constantemente somos cercados de pessoas que "não suportaram a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências" (2Tm 4.3) e precisamos estar firmemente arraigados na rocha eterna que é Cristo Jesus, pois ele disse: "Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; e desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha" (Mt 7.24,25).

Salutar importância devemos dar ao fato de não podermos nos descuidar e acharmos que a verdade é conquistada por meio da mera racionalidade humana. Se fosse assim - como supõem os pelagianos - que serventia teria-nos o Espírito Santo? Qual seria a utilidade de um versículo como esse: "Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito" (Jo 14.26)? Certo estou de que o Espírito Santo que "purifica as nossas almas pelo Espírito na obediência à verdade" deve ser levado muito a sério, caso contrário, despencaremos para a heresia e será grande nossa queda.

Mas urge com grande ímpeto a seguinte pergunta: O que é a verdade bíblica?

Em tempos tão pluralistas como os de hoje, não seria estranho também acharmos uma miríade de pessoas que se dizem cristãs, mas que consideram a verdade relativa - para não citar aqueles que negam que exista a tal verdade - e passam e ter seus sensos de justiça baseado em suas concupiscências carnais e contrárias à vontade de Deus. Fazendo como que um amontoado de filosofias e pensamentos demoníacos, vão ao texto sagrado em busca de saciação para seus desejos ínfimos e destituídos de qualquer valor espiritual.

No capítulo 1, versículo 2 lemos que a eleição de Deus visa "a obediência" dos retos, puros e imutáveis decretos do Senhor por parte dos cristãos - mas não somente isso. Os cristãos também são chamados a "santificar ao Senhor Deus em seus corações; e estarem sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que lhes pedir a razão da esperança que há nele" (1Pe 3.15 - já escrevei brevemente sobre isso - O perigo escondido em 1Pe 3.15)

Em 1Jo 2.4 temos um breve sinal de onde não encontraremos a verdade: "Aquele que diz: Eu conheço-o, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade". Por sabermos então que "toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra" (2Tm 3.16,17), entendemos que a verdade só pode ser encontrada na palavra de Deus e todo aquele que tentar acrescentar ou retirar alguma palavra deste livro, sofrerá as graves consequências de seus feitos (Ap 22.18,19).

Mas para compreendermos o que é a verdade bíblica, precisamos entender que toda a palavra da verdade é externa e fixa.

"Em 1539, comentando o Salmo 119, Lutero escreve: 'Nesse salmo, Davi diz continuamente que irá falar, pensar, conversar, escutar, ler dia e noite e constantemente — porém, nada além da Palavra e dos Mandamentos de Deus. Pois Deus quer dar-lhe o seu Espírito somente pela Palavra externa'. Esta frase é extremamente importante. A 'Palavra externa' é o livro. Lutero afirma que o Espírito salvador, santificador, iluminador de Deus vem a nós diretamente pela 'Palavra externa'. Ele usa o termo 'Palavra externa' para enfatizar que a Bíblia é objetiva, estável, externa a nós e, portanto, imutável. E nem um livro, nem hierarquia eclesiástica ou êxtase fanático podem substituí-la ou dar-lhe forma. Ela é 'externa' tal como Deus o é. Podemos aceitá-la ou deixá-la. Mas não podemos modificá-la. É um livro com letras e palavras e sentenças fixas.

Lutero também disse com ressonante vigor em 1545, no ano anterior à sua morte: 'Aquele que desejar ouvir Deus falar, que leia a Escritura Sagrada.'

A imensa implicação disso para o ministério pastoral e o ministério leigo é que ministros são essencialmente agentes da Palavra de Deus transmitida num livro. Somos fundamentalmente leitores e professores e proclamadores da mensagem do Livro. E tudo isso é para a glória da Palavra encarnada e pelo poder do Espírito que em nós habita. Mas nem o Espírito, que habita em nós, nem a Palavra encarnada nos guiam para longe do livro que Lutero chamou de 'a Palavra externa'. Cristo é representado em nossa adoração, em nossa comunhão e em nossa obediência à 'Palavra externa'. E aqui que vemos a 'glória de Deus na face de Cristo' (2Co 4.6). Portanto, é por amor a Cristo que o Espírito se concentra no livro no qual Cristo é nítido, não em transes nos quais aparece de forma obscura." [1]

Tendo o entendimento dado pelo Espírito Santo de que estariam "purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade" - Pedro pôde instruir de maneira firme e eficaz os destinatários de sua carta.

Quando Pedro escreve-lhes dizendo que o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo havia "segundo a sua grande misericórdia, nos gerado de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos" (1.3 - ênfase minha), ele sabia que esta viva esperança não poderia ser sustentada se não fosse na palavra de Deus.

Pedro também tinha ciência de que a verdade encarnada, vivida e pregada por Jesus, era a única ajuda capaz de nos suportar em meio à tempos difíceis, tentações embaraçosas e dificuldades vivenciais: "Em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações" (1.6). Somente a firme confiança em Cristo Jesus - e em seus mandamentos - pode nos levar a passos firmes em direção à vida eterna.

Lemos também que a verdade bíblica é suficiente para nos livrar do erro e do engano: "Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios, e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo" (1.13). Certo estou que aparentemente esse conselho soa ser superficial demais - haja vista grandiosa disparidade entre as doutrinas sobre o que a bíblia diz para nós e como ela ser aplicada em nossas vidas - contudo, isto acontece devido à dureza de nosso coração e é fruto do pecado que habita em nós e não da fonte da verdade eterna e imutável - que supostamente está mal revelada, conforme insistem teimosamente os libertinos.

Em tempo oportuno, observamos que assim como a morte de Cristo por seus eleitos foi plena e definitiva, a verdade bíblica também é imutável e soberana sobre qualquer ação e/ou pensamento humano: "Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado" (1.18,19). Se fomos resgatados com algo infinitamente mais valioso que ouro ou prata, quão abundante verdade deve conter no livro deixado por nosso Senhor e salvador de nossas vidas - o mesmo que detém "o precioso sangue... de um cordeiro imaculado e incontaminado"!

Sabemos que jamais devemos nos esquecer da imensa batalha que temos pela frente, buscando sempre aperfeiçoar nosso caráter às prescrições divinas, mas deveras importante é também estarmos cônscios de que podemos e devemos nos "purificar... [tão somente] na obediência à verdade" (1.22 - acréscimo meu), baseando-nos no fato de: "Porque toda a carne é como a erva, e toda a glória do homem como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor; mas a palavra do Senhor permanece para sempre" (1.24,25 - ênfase minha). Se a palavra do Senhor é a verdade e permanece para sempre - "o céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar" (Mt 24.35) - nada mais espúrio e antibíblico do que desprezar tal verdade.

Faremos bem se reconhecermos e aplicarmos as sábias palavras de Pedro que dizem: "Vós, portanto, amados... guardai-vos de que, pelo engano dos homens abomináveis, sejais juntamente arrebatados, e descaiais da vossa firmeza; antes crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. A ele seja dada a glória, assim agora, como no dia da eternidade. Amém" (2Pe 3.17,18).

Amém.

Nota:
[1] A Palavra é Externa e Fixa

*Leia outras pregações falando acerca da importância das escrituras em nossas vidas: "Ai dos que chamam ao mal bem e ao bem, mal", "Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste", A vital importância das Escrituras.

domingo, 19 de junho de 2011

O Dom de Sepultar Igrejas


O Dom de Sepultar Igrejas -
por Augustus Nicodemus Lopes



É um assunto sensível e delicado, mas acho que devo escrever sobre ele. É o caso de pastores que Linkacabam ficando conhecidos, não pelas novas igrejas que abriram, mas pelas igrejas que sepultaram. A mão deles, ao sair das igrejas, quase sempre foi aquela que fechou os olhos do pobre cadáver eclesiástico.

Soube que os colegas de um desses, na gozação, haviam decidido entregar-lhe “a pá de ouro”, quando finalmente se jubilou para alívio de todos... (qué malos!) Os pastores com o ministério do “esvaziamento bíblico” são um problema para suas denominações, que ficam sem saber o que fazer com eles, após terem criado problemas em praticamente todas as igrejas por onde passaram. O pior é quando um pastor desses acaba obtendo algum poder político no âmbito da denominação, o que torna ainda mais difícil achar uma solução.

E que solução haveria para os pastores que têm um histórico crônico de problemas nas igrejas por onde passaram? Acho que se deve, em primeiro lugar, dar um crédito de bona fide. Será que o problema é realmente o pastor ou os conselhos e igrejas por onde, por azar, andou pastoreando? (há, de fato, conselhos, consistórios ou mesas diretoras conhecidos por trucidarem pastores. Mas, isso é assunto de outro post...).

Descontado este crédito, fica evidente que tem gente que errou na escolha do ministério pastoral como sua missão no mundo. Talvez esse engano não foi intencional. O zelo e o ardor de servir a Deus e de viver em contato com sua Palavra e a sua obra fazem com que muitos jovens cristãos, cheios de amor ao Senhor, busquem o pastorado como a maneira prática de realizar seus sonhos espirituais. A esses, muito pouco tenho a dizer, senão que podemos ser espirituais, zelosos por Deus, amantes de Sua Palavra e de sua obra em qualquer outro lugar além do púlpito. Há cristãos zelosos e sinceros que sinceramente erraram na vocação. Há também aqueles que viram o pastorado como meio de vida, ou que ficaram fascinados pelo prestígio que o púlpito e o microfone na mão parecem conferir aos que chegam lá. O pastorado exige mais que desejos profundos de santidade e paixão pelas almas perdidas. E obviamente, nunca será eficazmente desempenhado por quem entrou por motivos baixos.

Não estou dizendo que a prova da genuinidade da vocação é o sucesso numérico, pastorados longos em um único lugar e um histórico de saídas pacíficas de diferentes igrejas. Sei que números não dizem tudo. Nem saídas pacíficas de pastorados longos. Contudo, dizem alguma coisa. O problema se agrava porque em denominações históricas se incentiva o ministério em tempo integral. O pastor, via de regra, só aprendeu a fazer aquilo mesmo: realizar atos pastorais, elaborar uma liturgia, preparar sermões e estudos bíblicos, atender gente no gabinete, visitar os enfermos e necessitados, animar os cultos de domingo, fazer a sociabilidade da igreja, e por ai vai. Se sair do pastorado, não sabe praticamente fazer mais nada. Vai acabar abrindo uma igreja para ele, como muitos fizeram. Para evitar o problema, algumas denominações incentivam pastores bi-vocacionados, isto é, que além do ministério pastoral, tenham uma profissão secular.

Pastores com o "dom" de fechar igrejas acabam se tornando um problema para todo mundo, especialmente quando eles vêm com um defeito de fábrica: a falta do “mancômetro”, um instrumento extremamente necessário para o ministério pastoral, que avisa quando está na hora de sair. Pastores sem mancômetro não conseguem perceber aquilo que todo mundo fica com receio de dizer-lhe abertamente: que de pastor mesmo, ele tem pouco ou nada. E que a melhor coisa que ele deveria fazer, era pedir para sair, e sair silenciosamente, sem fazer muito barulho.

Não posso deixar de admirar pastores que após algum tempo de ministério voluntariamente pedem para sair, ao perceber que cometeram um erro ao entrar. Conheci uns três ou quatro que fizeram isso, apesar de só me lembrar do nome de um deles. Tenho certeza que uma atitude dessas por parte de irmãos com o dom de enterrar igrejas agradaria ao Senhor. A ponto dele abrir-lhes portas para ganharem a vida de uma forma realmente digna e decente. Lembro-me da oração de meu sogro, o Rev. Francisco Leonardo, quando era reitor do Seminário Presbiteriano do Norte: “Senhor, manda para o seminário os verdadeiros vocacionados e coloca para fora os que não são”. Se mais diretores de seminários e conselhos de igrejas fizessem esse tipo de oração com mais freqüência, teríamos que entregar menos “pás de ouro” nos concílios.

Fonte: O Tempora, O Mores

sábado, 18 de junho de 2011

"Ai dos que chamam ao mal bem e ao bem, mal" - Sermão pregado dia 22.05.2011


"Ai dos que chamam ao mal bem e ao bem, mal" -
Sermão pregado dia 22.05.2011


Nosso texto: "Ai dos que chamam ao mal bem e ao bem, mal, que fazem das trevas luz e da luz, trevas, do amargo, doce e do doce, amargo" (Is 5.20).

O livro de Isaías reflete aquilo que o próprio autor "teve a respeito de Judá e Jerusalém durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá" (1.1). No começo de sua visão, Isaías já é levado a proclamar a autoridade do Senhor sobre seu povo. Ele diz: "Ouçam, ó céus! Escute, ó terra! Pois o Senhor falou" (1.2). É por demais importante atentarmos para o fato de que somente a Escritura é nossa regra de conduta e de fé (já escrevi sobre isso - A vital importância das Escrituras, "Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste"), implicando-nos a completa e mais profunda devoção às coisas do reino celestial de Deus.

Essa completa e profunda devoção às coisas de Deus - o Deus onipotente, onisciente e onipresente revelado nas sagradas Escrituras - significa que devemos toda glória e todo louvor a Ele, e isso tudo em toda ocasião - conforme lemos: "Louvarei ao Senhor em todo o tempo; o seu louvor estará continuamente na minha boca" (Sl 34.1) - traduzindo-se também em que devemos viver todos os dias de nossa vida querendo fazer tudo "para glória de Deus" (1Co 10.31). Mas infelizmente não é esse o plano de fundo da visão de Isaías.

Isaías descreve com ironia o fato dos reis de Judá terem se afastado do Senhor. Ele diz: "O boi reconhece o seu dono, e o jumento conhece a manjedoura do seu proprietário, mas Israel nada sabe, o meu povo nada compreende" (1.3). Observamos que o paralelo feito não é entre homens que reconhecem o seu senhor e homens que não o reconhecem, mas entre animais que reconhecem o seu senhor e homens que outrora havia sido criados "à nossa imagem, conforme a nossa semelhança" (Gn 1.26) não o reconhecem mais - pois "eles estão obscurecidos no entendimento e separados da vida de Deus por causa da ignorância em que estão, devido ao endurecimento dos seus corações" (Ef 4.18).

O profeta Jeremias também passou por situação semelhante. Tal qual Isaías, Jeremias presenciou o pouco caso que o povo fez das leis e mandamentos do Senhor. Não obstante a isso, o povo não arrependia-se e voltava para o Senhor, mas lançava-se cada vez mais rumo à ruína. "Ninguém se arrepende de sua maldade e diz: 'O que foi que eu fiz?' Cada um se desvia e segue seu próprio curso, como um cavalo que se lança com ímpeto na batalha" (Jr 8.6). Tal qual o cavalo que se lança com ímpeto na batalha, assim era o povo de Deus que constantemente ia ao encontro da morte - achando que encontraria a vida.

Isaías lhes diz que sua situação é tão deplorável, que até mesmo os animais tinham mais respeito e discernimento para com o seu senhor do que o povo de Israel para com seu Deus. Tenhamos sempre em mente que a vida dos verdadeiros profetas do Senhor não eram fáceis ou agradáveis. Constantemente eles eram os únicos a proclamar que o povo se arrepende-se e se voltasse para o Senhor. Eram ditas por meio deles palavras que somente poderiam ser proferidas por homens verdadeiramente consagrados ao Senhor, pois sem este feito, homem algum conseguiria aguentar as pressões pecaminosas que se instauraram naquela sociedade e as muitas concupiscências das nações ímpias que os cercavam seriam além do que poderiam suportar.

Sabemos muito bem que o homem constantemente quebra o primeiro e segundo mandamento de Deus (Dt 5.7,8-10), tendo outros deuses - tornando a vontade do homem o seu próprio deus - e construindo imagens que "são vaidade... como a palmeira, obra torneada, porém não podem falar; certamente são levados, porquanto não podem andar" (Jr 10.3,5). "Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (Rm 3.23), o homem acabou trocando "a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem mortal, bem como de pássaros, quadrúpedes e répteis" (Rm 1.23).

O estado moral, ético e espiritual destes reis de Judá era lamentável e profundamente contrário às leis que o Senhor havia instituído para aquela nação. Percebemos logo de início que a desgraça daquela nação não vinha pela falta de princípios estabelecendo o que era correto e o que era incorreto, mas vinha devido a falta de submissão desses princípios às palavras do altíssimo. Isaías continua lhes dizendo que eram uma "nação pecadora, povo carregado de iniqüidade! Raça de malfeitores, filhos dados à corrupção! Abandonaram o Senhor; desprezaram o Santo de Israel e o rejeitaram" (1.4). A iniquidade daquele povo era tanta, que "se o Senhor dos Exércitos não tivesse poupado alguns de nós, já estaríamos como Sodoma e semelhantes a Gomorra" (1.9).

Após inúmeras outras advertências dadas ao povo, Isaías exorta dizendo-lhes: "Ai dos que chamam ao mal bem e ao bem, mal, que fazem das trevas luz e da luz, trevas, do amargo, doce e do doce, amargo" (Is 5.20). Neste mesmo capítulo cinco, Isaías escreve os "ais contra o povo de Deus". O profeta anuncia seis oráculos de ais para expressar a terrível situação com a qual o povo de Deus depararia ao sofrer seu julgamento. O primeiro ai condena a ganância (5.8-10), o segundo ai condena a corrupção social (5.11-17), o terceiro ai condena a corrupção teológica intencional e danosa (5.18,19), o quarto ai condena o orgulho e a corrupção moral (5.20), o quinto ai condena a corrupção espiritual (5.21) e o sexto ai novamente condena a corrupção social. Os ais representam uma terrível ameaça ao povo de Deus. [1]

Creio que além deste quarto ai condenar o orgulho e a corrupção moral - conforme cita a Bíblia de Estudo de Genebra - ele também nos alerta para o fato de precisarmos necessariamente conhecer o que é a moral e ética bíblica, pois de nada adianta tentarmos nos preservar do orgulho e das corrupções humanas se não estivermos firmemente alicerçados na palavra na Deus - a única capaz de nos fornecer toda a verdade e princípios plenamente aplicáveis para nossa vida diária.

Quando Isaías se refere a essa troca do bem pelo mal e do mal pelo bem, ele está dizendo que a verdade bíblica é totalmente inegociável, completamente irrefutável, invariavelmente perfeita, "divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra" (2Tm 3.16,17). É por demais essencial que todo cristão saiba da importância de se dobrar diante da verdade bíblica, por mais que essa vá contra tudo que ele pensa sobre a vida ou sobre outro aspecto qualquer.

Não há outro lugar onde devemos ir buscar revelação e palavra de sabedoria - não devemos achar que a bíblia está incompleta. Infelizmente, muitos crêem que a bíblia é completa, mas constantemente a negam na prática, lançando-se sobre livros de psicologia inútil à fé cristã, à pastores que não crêem na soberania absoluta de Deus e em filosofias humanistas que nada tem a acrescentar ao homem que deseja ser "perfeitamente instruído para toda a boa obra" (2Tm 3.17).

Bem salientou John Murray quando escreveu: "Para nós a Escritura tem um lugar e uma função exclusivos como o único modo de revelação que permanece existindo. Os que estão particularmente envolvidos nessa discussão tem por certo que a Escritura não continua a ser escrita, que ela é um cânon fechado. Admitindo-se isto, precisamos então considerar aquilo que os nossos oponentes não estão dispostos a admitir, isto é, que este é o conceito de Escritura ensinado e pré-suposto por nosso Senhor e Seus apóstolos, e insistir que é essa concepção que deve ser aplicada ao cânon da Escritura como um todo. Como não temos mais profetas, nem o nosso Senhor está presente conosco como com os discípulos, nem temos meios de revelação como nos dias apostólicos, a Escritura em sua totalidade é, segundo o conceito de nosso Senhor e Seus apóstolos, a única revelação da mente e da vontade de Deus a nós disponível. É isso que significa o encerramento da Escritura para nós; ela é a única Palavra revelacional de Deus que ainda vigora." [2]

Amados, precisamos atentar para a necessária devoção e estudo - sim, cristianismo também é estudo, pois se nos dedicamos a tão grande quantidade de matérias colegiais, não deveríamos muito mais nos dedicarmos à palavra do Senhor? - que as Escrituras requerem de nós. O mesmo Isaías alertou nos versículos anteriores dizendo: "Ai dos que se prendem à iniqüidade com cordas de engano, e ao pecado com cordas de carroça, e dizem: 'Que Deus apresse a realização da sua obra para que a vejamos; que se cumpra o plano do Santo de Israel, para que o conheçamos'" (5.18,19). Aqui o povo é avisado do perigo que corre quando se prende à iniquidade com cordas de engano - representando a suposta sabedoria humana em contraste com a lei divina - e mesmo assim continua pedindo e suplicando que Deus "apresse a realização da sua obra" (5.19)!

O Senhor - por meio de Isaías - já havia lhes alertado sobre a importância de arrependerem-se primeiro e depois fazerem súplicas, conforme lemos: "Parem de trazer ofertas inúteis! O incenso de vocês é repugnante para mim. Luas novas, sábados e reuniões! Não consigo suportar suas assembléias cheias de iniqüidade. Suas festas da lua nova e suas festas fixas, eu as odeio. Tornaram-se um fardo para mim; não as suporto mais! Quando vocês estenderem as mãos em oração, esconderei de vocês os meus olhos; mesmo que multipliquem as suas orações, não as escutarei! As suas mãos estão cheias de sangue!" (1.13-15 - ênfase minha)

Desde sempre os cristãos são alertados a não confiarem "no homem, cuja vida não passa de um sopro em suas narinas. Que valor ele tem?" (2.22), mas constantemente ele se volta e se mostra contrário às leis do Senhor. A vida do cristão que crê na soberania absoluta de Deus, na inerrância da palavra do Senhor e no Seu justo juízo final, deve entender que a bíblia nos ordena a nos abstermos "de toda a aparência do mal" (1Ts 5.22). O ecumenismo e sua doutrina diabólica de que "o que importa é o amor" tem destruído muitas igrejas que em tempos passados já foram fieis e diligentes na manuseio da palavra. Há sim um separatismo bíblico saudável! Não devemos em hipótese alguma nos colocarmos em jugo desigual, pois "que comunhão tem a luz com as trevas?" (2Co 6.14). Não é atitude sadia titubear diante da verdade bíblica, mas sim arrepender-se e voltar-se para Deus, "para que os seus pecados sejam cancelados" (At 3.19).

Que possamos ser agraciados pela majestosa verdade divina - que certamente nos ilumina em todo o tempo - e passemos a dar valor eterno para as palavras que dizem: "Lavem-se! Limpem-se! Removam suas más obras para longe da minha vista! Parem de fazer o mal, aprendam a fazer o bem! Busquem a justiça, acabem com a opressão. Lutem pelos direitos do órfão, defendam a causa da viúva" (1.16,17).

Amém.


Notas:
[1]Bíblia de Estudo de Genebra.
[2]Extraído do livro: Sola Scriptura e o Princípio Regulador do Culto - Brian M. Schwertley, pág 27.

O culto online e a tentação do Diabo

Você conhece o plano de fundo deste texto olhando no retrovisor da história recente: pandemia, COVID-19... todos em casa e você se dá conta ...