quarta-feira, 30 de março de 2011

Cerimônias que Cessaram


Cerimônias que Cessaram -
por João Calvino

Texto-base: Deuteronômio XXVII, 1-10.

[...]

Embora [a] lei cerimonial não se aplique diretamente nos nossos dias, mesmo assim podemos tirar algumas lições daqui. Primeiramente, notemos que é nosso dever não nos ater àquilo que Deus ordenou somente por um certo período como se fosse algo a ser observado para sempre. Pois [no período da] lei, foi vontade de Deus que as pessoas lhe sacrificassem animais brutos, contudo, tal coisa não existe hoje. Ele também mandou que houvesse um incenso misturado, e tochas, e um fogo sempre a queimar no altar. Essas coisas agora já cessaram, e se qualquer pessoa as resgatar, serão como refugo. E nós bem vemos como elas são utilizadas no papismo. Quando os papistas vêm e perfumam o olfato de seus ídolos, eles imaginam ser isso um sacrifício aceitável a Deus. E, quando consomem muita cera com suas velas e tochas e lanternas, eles passam a imaginar que são maravilhosamente devotos. E, todavia, isso tudo não passa de uma zombaria a Deus, pois Ele quis ser servido assim [somente] sob a lei.

Mas, se formos agora tentar ‘acender’ o sol, isto é, se agora, após a vinda do nosso Senhor Jesus Cristo ao mundo, ainda fôssemos usar toda essa iluminária [como símbolo] na noite e nas trevas, isso perverteria toda a ordem natural: os pais antigos andaram por escuras sombras, e, por isso, necessitavam de tais artifícios. E, quando tinham luz, era para que soubessem que não viriam adorar a Deus por acidente ou acaso, mas que seriam guiados e direcionados pela Palavra de Deus e por seu Santo Espírito. E, por isso mesmo, foram mantidos sob vigilância, a fim de que não elaborassem coisa alguma proveniente de sua imaginação. Mas agora não temos necessidade dessas coisas. Por quê? Ora, porque o veu do Templo se rasgou, e porque Deus nos mostrou a sua face no evangelho, na própria pessoa do seu Filho, para que, assim, possamos andar [não mais em trevas, mas] sob o sol do meio-dia. Portanto, devemos discernir o que permanece daquilo que é temporário, a fim de não fazermos tamanha confusão e tolice, tal como os papistas fazem.

Pois é dali que procedem tantas superstições. Quando os papistas batizam, eles usam saliva. Por quê? Porque Jesus Cristo usou (Mc. VII, 33). Sim, mas será que, por consequência, ele ordenou que toda pessoa deveria usar isso como regra, para que zombássemos de seu milagre nos nossos batismos? Será que, ao cuspir nos lábios do bebê, eles querem que ele passe a falar?

Além disso, eles têm também a ‘cura dos enfermos’, que para eles é um sacramento. Por quê? Porque os apóstolos usavam óleo para curar os doentes (Mc. XV, 13; Tg. V, 14). Sim, mas aquele dom foi só para o início da era do evangelho e, depois, tais milagres cessaram. Será que deveríamos usar esses símbolos ainda, mesmo sabendo disso? Não seria isso um ultraje a Deus? Se for assim, então a verdade e a substância das coisas deve ser desprezada em prol dos símbolos! Que ideia brilhante!

Além disso, eles se atêm a outras coisas, como a Quaresma. Trata-se do jejum que deve ser praticado [todo ano], dizem os papistas. O motivo é que Jesus Cristo jejuou. Sim, mas será que Ele, que é a Fonte de toda perfeição e Espelho de toda santidade, jejuou todo ano? Não, ele só jejuou [por quarenta dias] uma vez. Os papistas afirmam que devemos jejuar todo ano, e que nisso tudo há grande devoção e santidade. Só que, se fosse [verdade] assim, eles superariam a Jesus Cristo. Certamente isto é uma superstição demoníaca – jejuar quarenta dias dessa forma, com a opinião de que dessa forma nós nos assemelharemos a Cristo. Pois nós bem sabemos que o nosso Senhor Jesus quis com isso mostrar que, naquele período específico, ele se afastou da condição geral dos homens, da mesma forma como foi feito com Elias por milagre, e com Moisés quando ele publicou a Lei. Ah, e será que os judeus do passado seguiram Elias e Moisés [nessa prática]? Será que um só mesmo de todos os demais profetas jejuaram aquele jejum? Não! Pois sabiam que isso não lhes tinha sido ordenado por Deus, e que ele não fez disso uma regra geral. E sabiam que ele não se agrada quando fazem lei de uma coisa ordenada para uma ocasião específica.

Então, vemos com isso que é muito proveitoso meditar sobre o que Deus ordenou somente para uma ocasião específica, a fim de que não pervertamos tudo, ou que desejemos praticar todo o conteúdo da Sagrada Escritura sem fazer qualquer distinção, sem saber primeiro se a coisa diz respeito a nós e se é falada a nós ou não.

[...]

Fonte: Monergismo

2 comentários:

  1. A luz do texto, pergunto: Onde o Novo Testamento autoriza a Igreja na Terra usar instrumentos musicais no culto público?

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